Os brasileiros estão fugindo cada vez mais da caderneta de poupança nos últimos meses. Nesta quarta-feira (05), o Banco Central (BC ou Bacen) informou que, em setembro de 2022, houve a retirada de R$ 298,57 bilhões da poupança, ao mesmo tempo em que teve R$ 285,78 bilhões em aplicações.
Já o saldo do nono mês do ano foi de R$ 985 bilhões. Com isso, os saques equivalem a 30,29% do saldo.
Os valores acima revelam uma tendência de alta nos saques da poupança. No mês de agosto, por exemplo, bateu o recorde de retirada de dinheiro da poupança, cerca de R$ 338,25 bilhões.
Poupança bate recorde de aplicação durante a pandemia
Para explicar o recorde de resgate da caderneta de poupança é preciso voltar no tempo, mais precisamente para o período da pandemia de covid-19. Para o Valor Econômico, o economista-chefe do Bradesco (BBDC4), Fernando Honorato, aponta que durante este intervalo as pessoas consumiram menos por estarem em casa e, por isso, guardaram mais dinheiro.
O relatório de depósitos de poupança do BC confirma a percepção de Honorato. Em 2019, antes da pandemia, os brasileiros aplicaram R$ 2,45 trilhões na poupança e retiraram R$ 2,46 trilhões, com um saldo final de R$ 845,46 bilhões.
No ano seguinte, as movimentações financeiras por meio da poupança dispararam. Os depósitos foram de R$ 3,13 trilhões e as retiradas foram de R$ 2,95 trilhões, com um saldo de R$ 1,03 trilhão. Logo, a pandemia causou um crescimento de 27,75% nas aplicações.
O ano de 2021 manteve a trajetória de alta da poupança. Segundo o Bacen, houve R$ 3,40 trilhões em depósitos e R$ 3,45 trilhões em retiradas, com um saldo de R$ 1,03 trilhão. Neste momento, já é possível observar um movimento de maior resgate dos recursos, embora ele ainda continue bastante elevado em comparação com 2019.
Um levantamento realizado pelo Valor Econômico mostra que o saldo dos depósitos da caderneta de poupança crescia em um ritmo constante de 8,1% ao ano entre 2016 e março de 2020. Com o estouro da pandemia, em abril de 2020 até agosto de 2021, a taxa de crescimento subiu para 14,7% ao ano.
Com o relaxamento das medidas sanitárias contra covid-19, as pessoas voltaram para as ruas e a vida voltou ao normal. Logo, o consumo também avançou e provocou uma queda nas aplicações da poupança.
Programas sociais e uso da poupança contribuíram para o aumento da poupança
Mais dois fatores contribuíram para o crescimento da poupança nos últimos dois anos. Ainda para o Valor Econômico, o economista-chefe do Bradesco destaca que o pagamento do Auxílio Emergencial, com o valor de R$ 600, ajudou as famílias de baixa renda a pouparem durante a pandemia com os recursos extras.
Além disso, o dinheiro era depositado na conta poupança digital do Caixa Tem, em que o governo criou para facilitar o pagamento dos benefícios sociais. Em vista disso, as pessoas utilizavam a poupança do Caixa Tem como uma espécie de conta corrente, em que elas faziam movimentações financeiras do cotidiano, como compras em supermercado e pagamento de contas, e não tinham a intenção de guardar o dinheiro e esperar uma rentabilidade dele.
“Nem todo mundo que está na poupança é investidor. Muitos aplicam e resgatam várias vezes ao longo do mês e usam a caderneta apenas para separar o dinheiro ou para transferi-lo para outras instituições financeiras”, afirmou Leonardo Siqueira, superintendente de investimentos do Santander (SANB11) para o Valor Econômico.
Investidores procuram opções de investimentos melhores que a poupança
Com a diminuição da atividade econômica causada pela pandemia, o Comitê de Política Monetária (Copom) reduziu a taxa básica de juros, a Selic, até os 2% ao ano, em agosto de 2020, para estimular o consumo. Todavia, a demanda reprimida combinada com uma forte alta no barril de petróleo no exterior, a inflação brasileira explodiu até chegar ao ápice em abril de 2022, com um IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) acumulado em 12 meses de 12,13%.
Para segurar a ascensão da inflação, o Copom iniciou uma série de aumentos seguidos da Selic. Em março de 2021, a taxa básica de juros subiu de 2% para 2,75%. A partir daí, foi uma sequência de avanços que se encerrou em agosto de 2022, quando a Selic chegou nos 13,75% ao ano. Número que se manteve na última reunião do Copom, no dia 22 de setembro.
Com este cenário, os investidores buscaram outras alternativas para aplicar o seu dinheiro na renda fixa em busca de uma rentabilidade mais atrativa. “Os clientes começaram a questionar e a buscar aplicações financeiras melhores, uma vez que a poupança é um investimento ruim. O risco dela é parecido com o de um CDB, LCI ou LCA [letras de crédito imobiliário e do agronegócio, respectivamente], que oferecem rendimentos maiores”, cita Lucas Queiroz, estrategista de renda fixa do Itaú BBA, ao Valor Econômico.
Afinal, qual é a rentabilidade da poupança?
Segundo o Banco Central, a remuneração da caderneta de poupança é composta por duas parcelas: a remuneração básica, dada pela Taxa Referencial -TR e pela remuneração adicional. Neste último caso, o pagamento do lucro tem dois condicionantes:
- 0,5% ao mês, enquanto a meta da taxa Selic ao ano for superior a 8,5%; ou
- 70% da meta da taxa Selic ao ano, mensalizada, vigente na data de início do período de rendimento, enquanto a meta da taxa Selic ao ano for igual ou inferior a 8,5%.
Como, atualmente, a Selic está em 13,75%, o rendimento aplicado aos depósitos na poupança será de 0,5% ao mês + TR. Deste modo, o rendimento da poupança está em 6,17% ao ano mais TR, que hoje está zerada.
Logo, investir na poupança não é um bom negócio. Mesmo com a inflação perdendo força nos últimos meses, o rendimento anual da poupança não consegue bater o IPCA. A prévia da inflação de setembro, o IPCA-15, foi de 7,96% contra os 6,17% de rendimento da poupança.
Por que os investidores escolheram a renda fixa?
Em um cenário macroeconômico de juros mais altos, os principais investidores miram a renda fixa para fugir da volatilidade da renda variável e conseguir rendimentos mais generosos que a poupança. Além disso, essas opções de investimentos contam com uma infinidade de produtos que se adequam ao seu objetivo.
Por exemplo, ter uma reserva de emergência é importante para todas as pessoas. Como o próprio nome diz, os recursos são destinados para suprir uma necessidade em caso de emergência.
Como foi visto anteriormente, o rendimento da poupança não consegue chegar perto das perdas inflacionárias, embora tenha liquidez. Para resolver esta situação, a pessoa pode ter a sua reserva de emergência em um Tesouro Direto IPCA. Com este título, você terá o IPCA + 6%. Isso significa que o seu dinheiro vai acompanhar a subida ou a descida do IPCA mais os 6%, que é o prêmio da taxa que o banco colocou ali.
Além disso, esta opção conta com uma liquidez diária, ou seja, é possível resgatar em qualquer dia útil.
E não tem apenas este exemplo. Com um titulo mais conservador e com a Selic nos 13,75%, é possível encontrar diversos títulos com um rendimento anual em renda fixa na casa dos 10%, 12% e até mesmo 15%.