Fatores climáticos e doença afetam a estimativa da produção de laranja
De acordo com o Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus), a reestimativa aponta uma queda de 2,5% no cinturão de São Paulo e Triângulo/Sudoeste Mineiro
compartilhe
SIGA

Fatores climáticos e o greening, considerada a pior doença da citricultura mundial, reduziram em 2,5% a estimativa da safra 2025/2026 da laranja no cinturão de São Paulo e Triângulo/Sudoeste Mineiro, aponta a primeira reestimativa realizada pelo Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus). A região responde por cerca de 75% da produção brasileira do fruto. Enquanto a Pesquisa de Estimativa de Safra (PES) apontava uma produção de 314,6 milhões de caixas de 40,8 quilos, a reestimativa reduz esse número para 306,74 milhões.
A precipitação média acumulada no cinturão citrícola de maio a agosto ficou 33% abaixo da média histórica, com 94 milímetros, aponta a Climatempo Meteorologia. A região de São José do Rio Preto (SP) foi a única a registrar chuvas acima da média histórica (21%).
No entanto, de acordo com o Fundecitrus, as chuvas de abril e junho garantiram umidade suficiente no solo para manter estável o peso médio do fruto de algumas variedades precoces – como Hamlin, Westin e Rubi –, com 134 gramas (305 frutos por caixa). Já as demais variedades precoces – Valência Americana, Seleta, Pineapple e Alvorada – perderam peso, de 158g para 150g (de 259 para 272 frutos por caixa).
O Fundecitrus identificou nesta safra uma segunda florada muito forte, o que geralmente ocorre na primeira, resultando em um atraso na colheita. Até meados de agosto, apenas 25% desta safra foi colhida, enquanto na anterior, no mesmo período, metade já tinha sido colhida. Isso pode ser positivo para as variedades de meia estação e a tardias, que podem se beneficiar das chuvas da primavera.
Greening avança, mas desacelera
Além do clima, o avanço do greening contribuiu para aumentar a taxa de queda de frutos nesta safra, que, na primeira reestimativa, aumentou de 20% para 22%. Em relação a 2024, houve um aumento de 7,4% na incidência da doença. O levantamento anual de incidência do greening, feito pelo Fundecitrus, revela que a doença já atingiu 47,63% das laranjeiras do cinturão citrícola.
A boa notícia é que, pelo segundo ano consecutivo, foi constatada uma desaceleração da propagação da doença, já que em 2024 o avanço foi de 16,5% e em 2023, em 55,9%. Por outro lado, a severidade média do greening no cinturão citrícola subiu de 19% para 22,7%, reduzindo em cerca de 35% seu potencial produtivo.
A média de queda de laranjas atribuída ao greening subiu de 3,1% na safra 2021/22 para 9,1% na safra 2024/25, correspondendo atualmente a 50,8% do total de frutas que caíram antes da colheita. “Esse aumento significativo da severidade dos sintomas nas árvores tem impacto direto no aumento da taxa de queda prematura da fruta, sendo o fator determinante para a redução da safra nesta primeira reestimativa”, analisa Juliano Ayres, diretor-executivo do Fundecitrus.
De acordo com Guilherme Rodriguez, coordenador da PES do Fundecitrus, essa desaceleração é consequência de boas decisões do produtores, como a escolha de novas áreas com menor risco de contaminação, o que tem provocado a expansão do cinturão citrícola, a eliminação de árvores doentes com até cinco anos, seguida do replantio imediato, além do maior controle sobre o psilídeo, o inseto vetor da bactéria responsável pela doença.
Para Ayres, o greening continua representando o principal obstáculo para a citricultura, exigindo esforço constante e dedicação dos produtores. “As medidas de manejo implementadas têm ajudado a frear a evolução da doença. Os dados mostram que o pacote de controle, quando realizado de forma completa, funciona mesmo. [...] Sempre lembrando que, com essa doença, não existe meio termo. Não há saída a não ser controlar com rigor extremo”, alertou.
A maior incidência do greening afeta os pomares acima de 10 anos, sendo que 58,43% das árvores deste grupo estão contaminadas. Já os pomares de 6 a 10 anos têm proporção semelhante: 57,79%. A partir daí, a incidência cai significativamente: 38,18% para os pomares de 3 a 5 anos (queda de 17,1% em relação ao último ano) e apenas 2,72% para os de 0 a 2 anos (queda de 54,1%). Mesmo tendo diminuído 41% em 2024, a população atual de psilídeos ainda está de quatro a nove vezes maior que a observada antes de 2020.
Do total de 209 milhões de árvores do cinturão citrícola, quase 100 milhões estão contaminadas com o greening. Entre as 12 regiões que compõem o cinturão, cinco apresentam incidência da doença superior a 60%, duas estão na faixa entre 40% e 50%, três variam entre 20% e 35%, e apenas duas registram índices inferiores a 5%.
Os municípios mais afetados pelo greening em 2025 continuam sendo Limeira (79,9%), Porto Ferreira (70,6%), Avaré (69,2%), Duartina (62,7%) e Brotas (60,8%), todos em São Paulo. Já Bebedouro (47,2%) e Altinópolis (45,1%), também em São Paulo, permanecem entre as regiões com alta incidência.
Em níveis intermediários estão os municípios paulistas de São José do Rio Preto (34,3%), Itapetininga (28,7%) e Matão (24,6%). Nessas regiões, chama a atenção o avanço significativo do greening entre 2024 e 2025, especialmente em São José do Rio Preto e Itapetininga, onde a doença quase dobrou. Já Votuporanga (3,1%) e o Triângulo Mineiro (0,3%) continuam com as menores taxas de incidência, praticamente estáveis em relação ao ano anterior.