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Saúde mental na Copa do Mundo

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Bebel Soares
 
O Brasil todo viu a cena dos jogadores brasileiros desamparados após a derrota para a Croácia nesta Copa do Mundo. Onde estava o técnico Tite (foto)? 
 
Ele correu para o vestiário como um capitão de navio que o abandona em um naufrágio. Não havia ninguém ali para acolher os jogadores. O Brasil não aguentou a pressão, não conseguiu segurar a vantagem, deixou empatar, perdeu nos pênaltis.




 
A Seleção Brasileira, mais uma vez, foi à Copa sem levar um psicólogo, como se saúde mental tivesse pouca ou nenhuma importância para a equipe. Nada de novo no front. A cultura machista valoriza o físico, a força bruta e ignora a importância do equilíbrio mental em situações cruciais como as dos jogos eliminatórios. 
 
Essa foi a segunda Copa de Tite, e ele preferiu adotar a mesma estratégia da Copa anterior, não ter um psicólogo na comissão. Preferiu não se ocupar das questões de saúde mental do time.
 
O preparo emocional dos jogadores deveria ser considerado tão importante quanto o preparo físico e deveria acontecer simultaneamente. Alguns jogadores fazem acompanhamento psicológico por conta própria, mas não é suficiente, é preciso trabalhar a equipe como um todo.




 
Um profissional da saúde mental vai atender às urgências emocionais, lidar com as crises de ansiedade, equilibrar o time para que conflitos não interfiram no desempenho nos jogos. 
Psicólogos devem fazer parte da equipe, assim como médicos e preparadores físicos, para que possam fazer um trabalho multidisciplinar. 
 
Imagina a pressão de um goleiro para defender um pênalti, ou de um jogador que precisa acertar aquele pênalti para seu país não ser eliminado. O mundo inteiro com os olhos voltados para ele. 
Não bastasse o trauma da derrota, depois dela ainda veio o desamparo. Os jogadores precisavam do técnico dando apoio, mas ele sumiu. Homens são treinados, desde muito cedo, a invalidar seus sentimentos, a não falar sobre eles, não lidar com a tristeza, a frustração, a dor. Mas esses sentimentos existem e ninguém está imune a eles. Tite precisava fazer o papel de pai, fez o papel do pai ausente que a gente sempre vê.
 
Crianças que não foram acolhidas na infância, tornam-se adultos que não sabem acolher. Que não sabem lidar com as próprias emoções, e frustrações. Seguem replicando o que aprenderam: “homem não chora”. Acontece que homem chora sim, homem sente, sofre, homem só não aprende a lidar com esses sentimentos.




 
O Brasil precisa levar a saúde mental a sério, não só no futebol, mas em todas as situações. Especialmente a saúde mental dos homens. Porque nós mulheres temos o direito de sentir, de falar sobre nossos sentimentos, eles não têm. O machismo também é cruel com os homens.
A derrota é difícil, mas perder pode ser bom se servir de aprendizado para evitar erros futuros. É preciso fortalecer a mente, ter equilíbrio emocional. É preciso aprender que existe muita força em demonstrar nossas fraquezas. E que fraqueza é esconder o que se sente.