Shakira e Miley Cyrus amaram, o amor acabou. Este mês, ambas lançaram singles com diretas para os seus respectivos ex-maridos. Chegaram ao topo das paradas porque cantam o que mulheres do mundo inteiro querem ouvir. Mas também estão sendo julgadas por expor questões pessoais em suas músicas.
Shakira foi traída pelo marido, pai dos seus filhos. Ela fez a música para desabafar e tem todo o direito de mostrar que está na fase do ódio. Quem não estaria após um fim de relacionamento traumático? Dizem que ela deveria se preservar. Preservar os filhos. Ela? Ela não tem que nada, quem deveria ter pensado em preservar alguma coisa era ele.
Shakira canta:
“Nem sei o que aconteceu com você
Você tá tão estranho que nem te reconheço
Eu valho por duas de 22
Você trocou uma Ferrari por uma Twingo
Você trocou um Rolex por um Casio
Tá indo rápido, vai mais devagar
Ah, muita academia
Mas treine o cérebro um pouquinho também”.
Momento revoltada, rancorosa e vingativa. Quem nunca? Lavou a roupa suja, fez um hit e está monetizando com a dor de cotovelo. Isso, sim, é fazer do limão uma limonada. Quem canta os males espanta! Melhor ainda é espantar os males e atrair dólares!
A música “Flowers”, da Miley, é um hino ao amor-próprio. Ela canta:
“Eu posso comprar flores para mim mesma
Escrever meu nome na areia
Conversar comigo mesma por horas
Ver coisas que você não entende
Eu posso me levar para dançar
E eu posso segurar minha própria mão
Sim, eu posso me amar melhor do que você pode”.
Ambas as músicas mostram a realidade de relacionamentos. Magoados, e somos magoados, assim vamos aprendendo a lidar com nossos sentimentos e amadurecemos.
“Amar é dar o que não se tem a alguém que não o quer.” (Jacques Lacan)
Desde crianças, idealizamos o amor, projetamos esse ideal no outro, procurando nele aquilo que nos falta. Mas sempre vai faltar algo em nós, e também no outro. Nossos ideais nunca serão atendidos pelo outro. Até entender isso vamos errando. Nós fundimos um no outro, o outro no um. Deixamos de ser quem somos acreditando que vamos atender à expectativa do outro, esperando que nossa expectativa também será atendida. Não, ninguém vai atender à nossa expectativa. Precisamos abrir mão dos ideais.
Shakira certamente vale por duas de 22, o bofe não estava dando conta de uma Ferrari e achou mais fácil lidar com o Twingo. E o Twingo, que comeu a geleia da pessoa errada, agora vem dizer que está abalada e com medo, mas sabia bem onde estava se metendo.
Quem nunca sofreu com uma dor de cotovelo não sabe o que está perdendo! A gente aprende muito nesses momentos de sofrimento.
As duas músicas já estão na minha playlist chamada “xóvens”. Mas se for para escolher uma delas, eu fico com a da Miley, aprendi a ter amor-próprio e a me colocar em primeiro lugar. Antes de me casar, eu me dei flores, viajei sozinha, escrevi meu nome na areia, me levei para dançar. Foi assim que eu aprendi a me sentir confortável comigo mesma. É bom encontrar alguém para amar, não porque você precisa de alguém para te completar, mas porque você quer estar com alguém que é tão incompleto quanto você.
Quando amamos de verdade, entendemos que sempre vai faltar algo em nós mesmos e no outro. Amar é lidar com essa falta.