No final da semana passada, mais precisamente no sábado, recebi uma mensagem do meu amigo Paulo Pimenta, com um áudio de uma belíssima poesia do Fernando Pessoa intitulada "Prece - livra-me de mim". Por absoluta coincidência, neste dia comemorávamos o Dia do Escritor.
Confesso que não tenho um escritor favorito, mas adoro Fernando Pessoa. A poesia tem que chegar na hora e no momento certo que precisamos dela. Sou suspeito, por ser adicto à poesia. A Prece de Fernando Pessoa é uma daquelas obras primas que nos remete à profundidade da alma do autor.
Nesse momento da pandemia em especial, caiu para mim como uma luva. Poesia precisa de reencontros.
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A Delta e a AIDSO som das sirenes do SAMUOs dez mandamentos para controle da COVID-19O cheiro de DeusO mágico e o realOs ipês do OlimpoO tempo me ensinou a ver a beleza de todas as religiões, a poesia de cada uma delas, assim como as mazelas. Mas, o papel fundamental de todas em proporcionar às pessoas a oportunidade de se reconectar com o universo de cada um é fantástico.
Existem afortunados que não precisam de nada para viver o êxtase. Alguns precisam de drogas. Eu me satisfaço com a poesia.
Compartilho também uma foto acidental, feita durante uma das várias reuniões que fizemos no salão da prefeitura de Belo Horizonte. Simplesmente esbarrei no sensor do celular e saiu uma foto. Ao fundo, estava um crucifixo. Mais tarde, vendo aquela foto inusitada e segundos antes de apagá-la, foi impossível não correlacioná-la com a nossa via crucis pandêmica.
Por que fazemos o que fazemos? Livre arbítrio poético?!! Talvez!
Minha Prece
Senhor, perdoe-me.
Não sei rezar rezas prontas.
Converso contigo,
Quando converso comigo no silêncio de minha alma.
Minha prece
Faço ao respirar,
Ao olhar as montanhas
E a lua que ilumina a noite que nos invade.
Agradeço-lhe pelas manhãs,
Tardes e noites.
Vejo-te em homens,
Flores e pedras.
Tuas digitais estão nas estrelas,
No vento e na água.
Na dor e no bálsamo.
Tua bondade explode no milagre do acordar de cada dia e no sabor do alimento que nos sustenta.
Senhor,
Abraço-te a cada pulsar do coração
Ao ver a luz e receber a tua luz.
Obrigado pela confiança de poder, por um breve momento, plantar flores no teu jardim.
Dai-me força para escalar montanhas e contornar abismos da minha alma.
Obrigado pelos dias,
Pelo privilégio de envelhecer e participar da tua obra.
Obrigado pelos pés e pela estrada para caminhar ao teu lado e seguir teus sinais.
Pelas mãos, para segurar as tuas até o infinito, onde, tenho certeza, o encontrarei de braços abertos.
Amém