Antes mesmo de tomar posse, o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, ao restabelecer o diálogo político como método para resolução de conflitos, numa maratona de reuniões, ontem, distensinou as relações entre os Poderes da República.
Lula se reuniu com os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), com a presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Rosa Weber, e com o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes. Depois, deu entrevista à imprensa sem incidentes. Pôs um ponto final no choque entre os Poderes, principalmente entre o Executivo e o Supremo, ao defender a harmonia entre eles. O vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin, também participou dos encontros.
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PEC da transição esconde disputa pelo controle do OrçamentoA democracia precisa de um estadista na PresidênciaDois meses para evitar um colapso político-administrativo a partir de 2023O legado de Mitterand e o dilema de Lula para o seu terceiro mandatoEssa autorização servirá para destinar recursos aos programas da educação e da saúde. A proposta em elaboração pela equipe de transição deve ser encaminhada não somente a Lira, mas também ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, que será o responsável por dar inicio à tramitação da PEC. Na Câmara, o projeto será apensado a outra proposta de emenda à Constituição que já esteja em condições de votação.
Na entrevista coletiva, Lula disse que se candidatou “com o compromisso de que é possível resgatar a cidadania do povo brasileiro, de que é possível a gente recuperar a harmonia entre os Poderes, de que é plenamente possível recuperar a normalidade da convivência entre as instituições brasileiras”. Sem citar o presidente Jair Bolsonaro, Lula destacou que instituições “foram atacadas, foram violentadas pela linguagem nem sempre recomendável de algumas autoridades ligadas ao governo”.
Lula disse também que não pretende interferir nas eleições do Congresso, em fevereiro, quando Arthur Lira, aliado do presidente Jair Bolsonaro (PL), e Rodrigo Pacheco disputarão a reeleição, na Câmara e no Senado, respectivamente. “Não cabe ao presidente da República interferir em quem será o presidente do Senado ou da Câmara. Ou seja, quem vai decidir quem será o presidente das Casas serão senadores e deputados. O papel do presidente da República não é gostar ou não de presidente, é conversar com quem dirija a instituição.”
O presidente eleito aproveitou para mandar um recado aos bolsonaristas que estão fechando rovovias e protestando à porta dos quartéis, porque não aceitam o resultado das eleições. “Essas pessoas que estão protestando, sinceramente, não têm por que protestar. Deviam dar graças a Deus pela diferença ter sido menor que aquilo que nós merecíamos ter de votos. E eu acho que é preciso detectar quem é que está financiando esses protestos, que não têm pé nem cabeça. Ofensas a autoridades, ameaças de fechamento, agressão verbal”, disse.
Urnas eletrônicas
Ontem, o ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira, encaminhou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) o relatório das Forças Armadas sobre as urnas eletrônicas. Os militares realizaram uma auditoria do pleito, diante de questionamentos do presidente Jair Bolsonaro (PL) e de seus apoiadores sobre a lisura do processo eleitoral. Eles haviam sido convidados pelo então presidente do TSE Luís Roberto Barroso para integrar a Comissão de Transparência das Eleições, criada em setembro de 2021. Além de integrantes das Forças Armadas e de representantes da corte eleitoral, participam do grupo especialistas em tecnologia da informação e membros da sociedade civil.
O Ministério da Defesa destacou que “o documento foi produzido por uma equipe composta por oficiais de carreira especialistas em gestão e operação de sistemas de tecnologia da informação; em engenharia de computação e de telecomunicações; em defesa cibernética, entre outras, e seguiu rigorosamente os parâmetros estabelecidos na Resolução 23.673, de 14 de dezembro de 2021, do TSE”. É um ponto final nas especulações sobre o envolvimento das Forças Armadas no questionamento dos resultados eleitorais.
O relatório fora mantido em sigilo por exigência de Jair Bolsonaro, mas o presidente do TSE, Alexandre de Moraes, havia determinado que fosse entregue e divulgado até o dia de ontem. Segundo o Ministério da Defesa, o relatório também apresenta “observações, conclusões e sugestões relacionadas, especificamente, ao sistema eletrônico de votação, conforme as atribuições definidas pelo tribunal às entidades fiscalizadoras.