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"Mãe, esta semana faz dez anos que nós saímos de casa", ouvi de meu filho mais velho se referindo a ele e ao irmão. "Meus Deus, como o tempo passa, ao mesmo tempo, tão rápido e tão devagar!", pensei.




 
Naquele momento, um filme-relâmpago passou por minha mente. Os dois em processos seletivos para ingressar nas escolas para onde partiram. O mais velho tentando tirar nota máxima nos exames finais para conseguir vaga na Universidade de Manchester – Inglaterra, onde cursaria engenharia de software e acabou fixando residência em Londres.
 
O mais novo tentando provar maturidade e responsabilidade para ingressar em uma das unidades da United World College – UWC pelo mundo afora. Acabou sendo locado na Costa Rica para terminar os dois últimos anos do segundo grau e de lá foi para a Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, depois para a Universidade de Nova York e hoje é defensor público nos tribunais americanos.
Há 10 anos, partiram com todos os seus pertences dentro de uma mala grande e uma mochila, onde se encaixaram as "coisas que a mamãe mandou", como pasta de dente, chocolate, remédios para os primeiros socorros, travesseiro, bilhetinhos cheirosos. Afinal, não foi fácil entregá-los ao mundo tão cedo.




 
Ouvi muitas mães assustadas dizerem que éramos loucos. Em parte, sim, se levarmos em conta o fato de que os jovens hoje "não têm nada na cabeça". Mas de fato foi um passo muito bem pensado e planejado desde que nasceram. Sempre acreditamos que quem ama liberta e calçamos a educação deles nesse princípio. Amor não se mede a distância ou a proximidade. Há como fazê-lo a qualquer hora e lugar. Liberdade não quer dizer fazer o que se quer, mas fazer o que se deve com responsabilidade, sem apego.
 
A principal obrigação deles, estudar, sempre fizeram com louvor. As horas vagas eram preenchidas com muita diversão (mantínhamos a casa sempre aberta aos amigos para entrar e ficar o quanto quisessem), mas também com tarefas básicas da casa (como ajudar a mantê-la limpa e organizada). Gostavam de viajar com os "velhos", pois amamos aventuras e sempre que podemos ainda hoje rodamos o mundo juntos lembrando aventuras passadas e construindo novas experiências, tendo agora conosco os "agregados".
 
Se sentimos saudades! Sim. Se sentimos falta deles? Claro. Mas vê-los felizes e realizados não tem preço. O tempo dedicado a levar e buscar na escola, médico, dentista, festa, fazer compra e todas as demandas paternas e maternas foi substituído por outras necessidades.
 
E assim a vida segue, agora à espera dos netos, que não sei quando virão, mas imagino gozarão da mesma liberdade de construir a vida com base nos sonhos passíveis de serem realizados sem prejuízo a alguém.