Jornal Estado de Minas

Comportamento

Precisamos falar sobre a morte

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Enquanto o Brasil se ocupava de acompanhar os jogos da Copa do Mundo, nos deparamos com a notícia de que Pelé, cujo reinado tem ligação estrita com a competição, estava desenganado e como tal passara a receber cuidados paliativos.




 
Lembro-me de ter tomado conhecimento dessa especialidade médica há poucos anos, quando me ocupei de acompanhar e apoiar uma cunhada em seu processo de partida. Como vejo a morte como uma parte importante, ainda que dolorosa, da vida fiquei satisfeita em ver que mesmo a passos lentos, está caindo por terra o mito de que a salvação que cabe à medicina seja impedir a morte, muitas vezes a um “custo” muito alto, incluindo acreditar que isso seja possível.
 
Nem todos os hospitais têm paliativistas, como são chamados os médicos e demais profissionais de saúde dessa especialidade. A dificuldade começa pelo fato de que são pouquíssimos hospitais e clínicas de psicologia que oferecem este tipo de residência e quando o fazem há apenas uma ou duas vagas.
A oferta de pessoal qualificado é infinitamente menor que a demanda de necessitados, mas esta lacuna pode ser explicada pelo fato de que temos muita dificuldade de falar sobre a morte e nos recusamos a vivê-la como deveríamos.




 
Lembro-me de que, quando meu pai estava vivendo seus últimos dias agarrado a uma quantidade enorme de aparelhos sofisticados após sofrer um infarto, questionei por que ainda mantinham determinado tipo de medicamento. Sou totalmente contra a eutanásia, assim como insistir por lutar contra a finitude e a certeza de que não há mais o que fazer. A natureza precisa seguir seu curso.
 
Uma paliativista que ouviu minha observação me disse que a família precisava pedir a intervenção da equipe de cuidados paliativos. Só assim poderiam agir, mostrando ser tamanha a resistência por parte dos demais médicos a um tratamento que busca principalmente promover a qualidade do que resta de vida ao paciente desenganado, assim como a condução afetiva da dor que toma conta de quem fica. A ideia é buscar o alívio sem que se “morra antes e muito menos depois da hora”. Isso quer dizer para muitos “morrer com dignidade”.