Era um menino, nascido no final da d�cada de 1950. N�o existia internet e nem celular. S� r�dio e televis�o. Na TV, a transmiss�o era em preto e branco. N�o havia o chamado “ao vivo”. Mas o menino n�o sabia que se tornaria testemunha e, algumas vezes, personagem. N�o, n�o era de crime, mas do esporte. �s vezes, parecia que as coisas se passavam dentro de sua casa.
Era Belo Horizonte, Minas Gerais. Bom, ele s� n�o se recorda das conquistas do v�lei feminino de Mackenzie e Minas, no in�cio dos anos 1960, mas a vida o levaria a conviver com as personagens dessa hist�ria. Levado, como se dizia na �poca sobre uma crian�a que dava trabalho, com 5 anos foi para o jud�. “Para ajudar a educar”, diria sua m�e. E l�, o esporte ficou ainda mais evidenciado. Havia competi��es, torneios e, a cada vit�ria, mais vontade para que chegasse a pr�xima luta. E, em sua casa, convivia com um pai apaixonado pelo esporte.
Chega o ano de 1966, quando presenciou um feito fant�stico. O futebol era para ele, com 8 anos, uma decep��o. O Brasil tinha acabado de perder a Copa do Mundo, na Inglaterra. Mas haveria um resgate. Surgiram os her�is Raul, William, Proc�pio, Neco, Piazza, Dirceu Lopes, Natal, Tost�o e Evaldo. Eles ousaram. Derrotaram o Santos, de Pel�, duas vezes: 6 a 2, no Mineir�o, e 3 a 2, de virada, no Pacaembu, e se tornaram campe�es da Ta�a Brasil. E nos dois jogos l� estava o menino, de apenas 8 anos, com seu pai. Ali, o esporte chamou-lhe ainda mais a aten��o. Em sua vis�o, um time e um estado mudavam a hist�ria de um esporte no pa�s. Al�m de Minas Gerais, havia outros que n�o s� Rio e S�o Paulo. Surgia o Robert�o, um Campeonato Brasileiro com outro nome.
N�o demoraria muito e o feito que havia parado uma cidade, Belo Horizonte, um estado, se repetiria em cinco anos. Um outro time mineiro calou o pa�s. O Atl�tico, de Dario, Vantuir, Oldair, Cincunegui, Vanderlei, Humberto Ramos, Ronaldo, Lola, Beto, Ti�o, Romeu, com Tel� Santana de t�cnico, foi campe�o nacional. L� estava o menino com seu pai, acompanhando tudo, n�o sei como, de pertinho. Parecia predestinado. Tinha 13 anos. E logo depois, uma alegria ainda menos inesperada. No mesmo ano, o Villa Nova, de Nova Lima, que seria campe�o da Primeira Divis�o, que � hoje a S�rie B do Brasileiro.
O menino que era do jud� passou a ser tamb�m do futebol. A cada conquista, ao lado de casa, por assim dizer, se fascinava mais e mais. Chegou a vez do futebol de sal�o, hoje futsal, dar o ar da gra�a. Foi campe�o brasileiro juvenil em 74. Um time que tinha Salum, esse mesmo presidente do Am�rica, goleiro; Walmir, beque; Paulinho Bonfim, M�rio Neves, alas; Luiz Fernando, piv�.
De novo o futebol. O Cruzeiro conquista o primeiro t�tulo internacional para o futebol mineiro, campe�o da Libertadores, em 1976. Um time com Raul, Nelinho, Piazza, Z� Carlos, Eduardo, Batata (que faleceu durante a disputa), Palhinha, Jairzinho e Jo�ozinho. O menino crescia e j� n�o perdia nem um momento sequer do esporte mineiro.
Na nata��o, na Olimp�ada de Moscou’80, um nadador daqui, do Minas, Marcos Mattioli, integra o time medalha de bronze no revezamento 4x200m livres. Nenhum outro mineiro tinha conquistado uma medalha ol�mpica antes. E ele fez escola. Outros o seguiram, como Te�filo Laborne, duas vezes recordista mundial no revezamento 4x100m livres. Na piscina, mais tarde, Thiago Pereira seria prata nos Jogos Ol�mpicos de Londres’2012, no 400m medley, deixando para tr�s ningu�m menos que Michael Phelps.
Logo depois, o v�lei, esporte que sua irm� praticava. No masculino, o tricampeonato nacional do Minas, com Helder, Pel�, Cebola, Elberto, Cacau, Luiz Alexandre e Henrique Bassi, com o coreano Yong Van Sohn no comando. Mais tarde, em 92, o time feminino era campe�o brasileiro. O menino n�o esquece Andr�a Marras, Hilma, Ana Paula, Arlene, Ana Fl�via, Leila, Marcia Fu e Mariana Cenni.
Ainda na d�cada de 1990, o futebol de sal�o daria novas alegrias. Depois do Brasileiro de Sele��es, em 83, com Jackson, o Atl�tico, que tinha o estranho patroc�nio de uma funer�ria, a Pax de Minas, arrebatava o t�tulo de bicampe�o brasileiro, em 97 e 99. No intervalo, em 98, ainda foi campe�o mundial. Time que tinha Manoel Tobias.

De volta ao v�lei, mais um tricampeonato do masculino do Minas, agora com Cebola, ex-jogador, de t�cnico, comandando Maur�cio e Andr� Nascimento, entre outros. Viria tamb�m mais um t�tulo feminino, com Fof�o, Cristina Pirv, �rika, Elis�ngela, Fabiana e Sheila, do t�cnico Ant�nio Rizzola. A satisfa��o em ver as vit�rias mineiras mexe com o ex-menino, agora um homem. O jud� volta � tona com o Minas, que tem Luciano Corr�a, �rica Miranda e Ketleyn Quadros.
Os anos passam e um novo esporte ganha destaque no estado, o t�nis. No final da Era Guga, um mineiro desponta, Andr� S�, que conquista nada menos que 11 t�tulos individuais. Quase na mesma �poca, dois nomes fazem hist�ria desde 2010 nas duplas: Marcelo Melo e Bruno Soares. O primeiro conquistou dois t�tulos de Grand Slam e terminou 2017 como n�mero 1 do mundo. O segundo venceu cinco Grand Slam e est� sempre no top ten de duplas.
V� o futebol em evid�ncia novamente. O Cruzeiro � campe�o de tudo em 2003, a “Tr�plice Coroa”, pois ganhou o Brasileiro, a Copa do Brasil e o Mineiro, num time que tinha o craque Alex. Muda a d�cada. As conquistam continuam. O Atl�tico de Cuca, e depois com Levir Culpi, faz hist�ria. Com o primeiro, o t�tulo da Libertadores, em 2013. Em 2014, com o segundo comandante, o t�tulo da Copa do Brasil, na primeira decis�o mineira da hist�ria de um torneio nacional, contra o Cruzeiro. Mas o time celeste n�o deixa por menos. Voltaria a dominar o cen�rio nacional, primeiro com o bicampeonato brasileiro, em 2013 e 2014, e em 2017, com o quinto t�tulo da Copa do Brasil.
E o menino, hoje homem grande, sonha em ver o esporte mineiro conquistando muito mais, tanto no futebol como no v�lei, futsal, nata��o, basquete, ou em qualquer outro esporte, pois o que importa � mesmo o esporte.
* Jornalista, 60 anos, � r�porter de esportes
do Estado de Minas desde 1988