Estado de Minas 90 ANOS

Liberdade, o papel de Minas: uma cr�nica de Baptista Chagas de Almeida


postado em 30/11/2018 08:05 / atualizado em 30/11/2018 19:24

“N�o foi bem assim, Aureliano, eu estava l�”, corrigia Rondon Pacheco, o futuro governador de Minas entre 1971 e 1975, em plena ditadura militar. Quem ouvia com aten��o um peda�o importante da hist�ria do Brasil era apenas um jovem rep�rter do jornal. E como ela sempre passa por Minas Gerais, alguns detalhes de anos atr�s eram revelados.


Um dos detalhes mais importantes que relatou foi o fato de, no cargo de chefe de gabinete do general Costa e Silva, Rondon o convenceu a n�o fechar o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF), como pretendiam os militares mais radicais. O ent�o vice-presidente Pedro Aleixo, um dos fundadores do Estado de Minas, fez importante defesa do tom ponderado, o que seria fatal para ele, diante do endurecimento do regime no p�s-1968.


O card�pio pol�tico ou hist�rico, fa�a a sua escolha, ficou bem salgado diante do veto, j� no ano seguinte. Pedro Aleixo foi vetado porque a Junta Governativa Provis�ria de 1969 endureceu a ditadura e impediu que assumisse o cargo que era dele por direito. A hist�ria trata como problemas de sa�de.


Pode ser, mas � fato que, anos antes, depois de apoiar a ditadura de Get�lio Vargas e ent�o no comando da C�mara dos Deputados, Pedro Aleixo se rebelou. O motivo, a supress�o das liberdades. Se a bandeira de Minas Gerais traz o lema Libertas quae sera, nada a acrescentar � necess�rio.


Melhor voltar a Rondon Pacheco. A conversa, embora parecesse uma aula, corria f�cil. Afinal, eleito, pela Assembleia Legislativa, que fique claro, nada de elei��o direta, Rondon deixou um legado importante. Esteve pessoalmente na It�lia para conversas com Gianni Agnelli e o resultado delas foi a vinda da f�brica da Fiat para Minas Gerais com o intenso apoio do jornal.


O resultado todo mundo conhece. Betim recebeu uma cole��o de empresas que produziam pe�as para os carros da montadora. Efeito cascata que, at� nos dias atuais, � t�o importante para a economia mineira. Ainda tem Aureliano Chaves, que foi governador e renunciou para ser vice-presidente do general Jo�o Baptista Figueiredo. Ozanan Coelho entrou em seu lugar. Depois, � preciso deixar claro: “Que pa�s � este?”. Calma, nada a ver com a m�sica de Renato Russo, o saudoso roqueiro.


Trata-se de Francelino Pereira, que apoiava o regime de militar. � dele a frase. “Que pa�s � este, no qual as pessoas n�o confiam na firme vontade pol�tica do presidente da Rep�blica de levar adiante a decis�o amadurecida e consistente de dar continuidade � plena redemocratiza��o?” S� que Geisel veio foi com a sua abertura lenta e gradual.


Multidão na Avenida João Pinheiro e na Praça da Liberdade na chegada do corpo de Tancredo Neves ao Palácio da Liberdade(foto: Wilson Avelar/EM %u2013 23/4/1985)
Multid�o na Avenida Jo�o Pinheiro e na Pra�a da Liberdade na chegada do corpo de Tancredo Neves ao Pal�cio da Liberdade (foto: Wilson Avelar/EM %u2013 23/4/1985)

Como o tempo passa, o tempo voa, melhor contar sobre alguns relatos do governador H�lio Garcia. Claro que � preciso tratar antes, mais especificamente sobre Tancredo Neves, o presidente da Rep�blica que foi eleito, mas n�o governou o pa�s.   No meio do caminho da rampa do Pal�cio do Planalto havia uma diverticulite. Tancredo, o primeiro presidente da era p�s-militar eleito, embora no Col�gio Eleitoral, temia n�o assumir. Escondeu a doen�a que lhe seria fatal.


De Tancredo, para este escriba, resta apenas a lembran�a da Pra�a da Liberdade apinhada de gente diante de seu vel�rio. A mesma pra�a em que, antes, ficava cercada por militares e por manifestantes pedindo Diretas J�!. Uma sala de aula no segundo andar do Icbeu, onde estudava ingl�s, foi esconderijo de um deles para escapar dos cassetetes. Em v�o.


"De Tancredo, para este escriba, resta apenas a lembran�a da Pra�a da Liberdade apinhada de gente diante de seu vel�rio"

A emenda Dante de Oliveira n�o passou no Congresso. Restou ent�o a vit�ria de Tancredo sobre Paulo Maluf (PDS) no Col�gio Eleitoral. “J� se sabia que Tancredo seria eleito por uma grande maioria. O que havia era uma grande tens�o porque n�o se sabia como os setores linha-dura das For�as Armadas se comportariam”, relatava o ent�o deputado estadual por S�o Paulo e hoje ministro das Rela��es Exteriores, o senador Aloysio Nunes Ferreira.


Antes disso, no entanto, Tancredo deixou o governo de Minas nas m�os de H�lio Garcia, seu vice. Era singular o jeit�o dele. Na inaugura��o do viaduto da Lagoinha, fez um “longo” discurso: “Prometi e cumpri. Teje inaugurado”. E ficou nisso. Afinal, ficar mesmo H�lio Garcia gostava era de ficar no Bar do Primo. Seus seguran�as eram discretos enquanto ele tomava u�sque com os companheiros de boemia. De dia!


Ent�o presidente da Assembleia Legislativa (ALMG), Agostinho Patrus se divertia relatando um encontro no Pal�cio das Mangabeiras. L� chegando, H�lio Garcia fez um gesto com as m�os cobrando alguma coisa. Agostinho, sem saber do que se tratava, abriu os bra�os e fechou as duas m�os como se tudo j� estava resolvido. O qu�? Ningu�m soube, ningu�m viu.


O que todo mundo sabe � que, em seus 90 anos, o jornal Estado de Minas � um livro de hist�ria, relatada com precis�o, sempre em busca da verdade dos fatos, do exerc�cio do bom jornalismo. Afinal, Tancredo Neves em seu discurso de posse como governador j� deixava claro: “O primeiro compromisso de Minas � com a liberdade”. Belo Horizonte. Pal�cio da Liberdade. 15-3-1983.


Nove d�cadas n�o representam apenas um compromisso com os leitores. V�o muito al�m, trazem o verdadeiro exerc�cio da cidadania, o de informar com exatid�o e comprometimento.


� esse o papel hist�rico do jornal Estado de Minas para as futuras gera��es.


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