Estado de Minas

Da religiosidade ao carnaval: a BH onde tudo acontece

Da evolu��o de BH aos desafios da urbaniza��o, passando por eventos que movimentam a popula��o, s�o 90 anos de cobertura do dia a dia da metr�pole.


postado em 12/12/2018 06:00 / atualizado em 12/12/2018 14:53

(foto: Edesio Ferreira/EM/D.A Press)
(foto: Edesio Ferreira/EM/D.A Press)

Belo Horizonte sempre foi not�cia. Nascido e criado na cidade, o Estado de Minas tem um olhar cuidadoso sobre a capital e seus moradores. Da evolu��o de BH aos desafios da urbaniza��o, passando por eventos que movimentam a popula��o, s�o 90 anos de cobertura do dia a dia da metr�pole. A constru��o de bairros, obras vi�rias, dramas da popula��o, conquistas e frustra��es, trag�dias, visitas ilustres, festas, tudo o que diz respeito � cidade erguida para ser a capital do estado foi registrado nas p�ginas do jornal. Abaixo, uma sele��o de fatos ocorridos nas �ltimas nove d�cadas que mobilizaram equipes de reportagem.

 

Solu��o Pampulha

Em 1936, Belo Horizonte sofria com o problema de fornecimento de �gua para a popula��o. O ent�o prefeito Otac�lio Negr�o de Lima tem a ideia de iniciar o represamento do Ribeir�o Pampulha, com o objetivo de construir uma lagoa, cuja finalidade seria amortecer enchentes e contribuir para o abastecimento da capital. A obra foi conclu�da em 1943 na gest�o de seu sucessor, Juscelino Kubitschek, que, com planos de moderniza��o da cidade, aproveitou a lagoa para construir um projeto arquitet�nico mundialmente famoso, desenhado por Oscar Niemeyer, aliado a uma imensa estrutura de lazer. Uma ampla cobertura mostrou o passo a passo da constru��o do complexo arquitet�nico, o que atendia plenamente aos anseios dos leitores, ansiosos por receber uma obra de vulto, que os fizesse orgulhosos.
T�o orgulhosos que, em 2016, ganhou o t�tulo mundial de patrim�nio. 

O texto da reportagem na edi��o on-line de 17 de julho de 2016 come�ava assim: “Deu Pampulha na cabe�a. A Organiza��o das Na��es Unidas para a Educa��o, a Ci�ncia e a Cultura (Unesco) reconheceu na manh� deste domingo em Istambul, Turquia, o conjunto moderno de Belo Horizonte, projetado por Oscar Niemeyer (1907-2012), como Patrim�nio Cultural da Humanidade. A reuni�o da 40ª Sess�o do Comit� do Patrim�nio Mundial, para discutir a candidatura da Pampulha, seria realizada ontem, mas, devido � tentativa de golpe de estado na Turquia, teve que ser suspensa, com todos os representantes dos pa�ses visitantes, inclusive do Brasil, orientados a n�o sair dos hot�is em que estavam’’. Fazem parte do conjunto arquitet�nico da Pampulha a Igreja de S�o Francisco de Assis, a Casa Kubitschek, o Iate T�nis Clube, o Museu de Arte da Pampulha e a Casa do Baile.

Ainda sem �gua
Mas o problema da �gua continuou. Projetos e mais projetos surgiram, mas somente na d�cada de 1960 viria o que resolveria o problema: a canaliza��o do Rio da Velhas e a constru��o de uma adutora, que termina no Bairro S�o Lucas. A conclus�o da obra demorou cerca de 15 anos. Nesse tempo, os bairros da Regi�o Leste de BH sofreram com a falta de �gua. Os leitores procuravam o Estado de Minas para chamar a aten��o para o problema e sensibilizar o poder p�blico na acelera��o das obras.

povo nas ruas

(foto: João Paulo II, o único papa a visitar BH, foi ovacionado por uma multidão em julho de 1980)
(foto: Jo�o Paulo II, o �nico papa a visitar BH, foi ovacionado por uma multid�o em julho de 1980)
No ano de 1980, a visita do Papa Jo�o Paulo II a Belo Horizonte mobilizou a cidade e quase toda a reda��o do EM. A primeira e �nica vez em que um papa esteve na capital mineira foi acompanhada desde a chegada de Sua Santidade � cidade: o desfile a partir do aeroporto da Pampulha, passando pela Avenida Ant�nio Carlos, depois Afonso Pena at� a Pra�a Israel Pinheiro, hoje chamada Pra�a do Papa. Sob gritos de “ei, ei, ei, o papa � nosso rei”, uma multid�o se espremeu para acompanhar o carism�tico pont�fice. Foram mobilizados 28 rep�rteres e fot�grafos. Resultado: esgotou a tiragem do jornal, uma das maiores de sua hist�ria, 240 mil exemplares num �nico dia.

Final tr�gico
Mais recentemente, a Copa do Mundo de 2014, com BH como uma das sedes dos jogos. Foi envolvida toda a equipe de reportagem, dos jornais impresso e on-line, para a cobertura dos jogos e das sele��es que aqui estiveram, al�m da movimenta��o de estrangeiros, quando havia uma verdadeira romaria entre as pra�as da Liberdade e Diogo Vasconcelos (Savassi). Os dois pontos foram os campe�es de visita��o por parte dos torcedores. Apesar do triste desfecho em BH, marcado pela hist�rica derrota do Brasil para a Alemanha, por 7 a 1, no Mineir�o, a cidade caiu no gosto dos turistas.
Foi tamb�m nesse per�odo que ocorreu uma das maiores trag�dias da hist�ria de Belo Horizonte – a queda do Viaduto Batalha dos Guararapes, na Avenida Pedro I, em 3 de julho de 2014, atingindo um micro �nibus, um carro e dois caminh�es. Duas pessoas morreram e 23 ficaram feridas. Minutos antes, a Sele��o da Argentina, com Messi, havia passado debaixo dessa constru��o. Cerca de 60 jornalistas, entre rep�rteres, editores, fot�grafos e diagramadores trabalharam nessa cobertura, que teve como uma das reportagens  “Luto cancela festa da Copa em Belo Horizonte”.

 

(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
Tesouro da cidade
S�o muitos os tesouros escondidos em Belo Horizonte. Um deles � um vitral que conta parte da hist�ria do Estado de Minas, quando a sede era na Rua Goi�s, 36, no Centro. A pe�a ficava na entrada principal, que dava acesso �s salas dos diretores. A obra de 1977, do artista pl�stico Pedro Miranda, � uma ilustra��o da antiga rotativa, com um de seus operadores. Esse vitral permaneceu no pr�dio e foi retirado de seu lugar de origem, estando hoje servindo como parede de isolamento, junto a um banheiro, e n�o � visto por ningu�m, pois, al�m de estar na parte interna do pr�dio, foi colocado com a imagem virada.

 

n�s e ela

 

Saudade do bonde

(foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)
(foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)

“Crescer � algo particular dos tempos urbanos. Entristece � ver como Belo Horizonte perdeu personalidade e uma beleza muito pr�pria nas �ltimas d�cadas que o Caf� Nice presenciou e acompanhou. Era um garoto quando entrei aqui pela primeira vez e comecei a ver as transforma��es de uma cidade que abrigou os f�cus, o bonde el�trico, uma �nica linha de �nibus e o estacionamento liberado ao longo do asfalto da j� movimentada Afonso Pena. O Centro e os bairros tradicionais, como o Floresta, caminhos iluminados que cruzei de dia e na madrugada, tinham os seus cinemas de rua e as grandes magazines. As pessoas eram mais educadas, exigentes e elegantes. As fam�lias vinham passear, ver as vitrines nas noites tranquilas, interagindo com BH. Lamento que as grandes lojas e os cinemas tenham sumido e a dificuldade que o Centro tem, hoje, de criar atrativos para a popula��o. Entristece ver o aumento da pobreza. Quem sabe se a pol�tica melhorar e houver mais consci�ncia, ser� poss�vel revigorar o Centro, com bons projetos? Temos exemplos como o Cine Theatro Brasil e a reforma do antigo pr�dio do Bemge para receber startups.”

Renato Moura Caldeira, s�cio-propriet�rio do Caf� Nice, h� 44 anos � frente da octogen�ria lanchonete na regi�o da Pra�a Sete

 

O som dos tambores

(foto: Divulgação)
(foto: Divulga��o)

 “Minha hist�ria se confunde com a hist�ria da cidade. Escolhi ficar em Belo Horizonte na �poca em que todo mundo me incentivava a ir para o Rio ou S�o Paulo. Sempre tive muito medo de sair, mas isso foi bom, porque me deixou dentro da hist�ria daqui. Isso est� no livro De Camar�es: veredas de Mauricio Tizumba, que acabei de lan�ar. Toquei em mais de 150 bares de Belo Horizonte, e os bares na d�cada de 1970 tinham outros valores. Ent�o, imagina, conhecer gente de tudo quanto � jeito... A noite era muito prazerosa.  Antes de ser artista, trabalhei na constru��o. Conheci toda a periferia, e, como m�sico, toquei em toda a regi�o metropolitana. Sou belo-horizontino nato, coisa rara de ver, pois grande parte das pessoas que moram em BH � de fora. As pessoas me amam muito em BH, mas, apesar disso, n�o deixa de ser uma grande cidade racista. E os tambores batem aqui durante o ano inteiro. � uma tradi��o muito grande no estado. s� na Regi�o, Metropolitana de BH, temos cerca de 65 grupos de congado.”

Maur�cio Tizumba, ator, cantor, compositor e percussionista

 

Obrigado, mineiros!

(foto: Rodrigo Clemente/EM/D.A Press - 18/2/2016)
(foto: Rodrigo Clemente/EM/D.A Press - 18/2/2016)

“Divido minha vida em duas partes. Na primeira, antes de ser atleta profissional, eu s� pensava em me divertir com os amigos de inf�ncia no Rio, onde nasci. Depois, como profissional, tudo mudou completamente, me tornei bem mais respons�vel. E Belo Horizonte � fundamental nisso. Cheguei em 1973 para defender o Cruzeiro, encontrei minha esposa, tivemos tr�s filhas, constitu� fam�lia, j� tenho dois netos e outros dois est�o a caminho. Finquei o p� aqui, tenho uma academia aqui, que � de onde tiro o sustento depois que parei de jogar. Tudo que tenho agrade�o aos mineiros, especialmente aos cruzeirenses e atleticanos. BH foi uma d�diva na minha vida, um lugar �timo para se viver. Quando perguntam, digo que nasci no Rio, mas sou mineiro, belo-horizontino. O tr�nsito piorou, a cidade cresceu bastante, mas isso � inevit�vel. � uma cidade muito boa para se viver, sem d�vida.”

Nelinho, ex-jogador do Cruzeiro, do Atl�tico e da Sele��o Brasileira

C�psula do tempo

(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)

“BH a capital do s�culo.” Essa foi a manchete de capa do Estado de Minas em 12 de dezembro de 1997, quando a cidade completou 100 anos. Em todos os cadernos, parte da hist�ria da cidade, mostrando que a capital mineira estava pronta para o futuro. Um ba�, com documentos desde a funda��o da metr�pole, foi enterrado no Parque Municipal Am�rico Ren� Giannetti. E ainda, uma viagem por fatos e personagens, como o “Santo Milagreiro”, relembrando o Padre Eust�quio e os pol�ticos famosos, como JK. Na cultura, m�sicos, pe�as, shows, teatro e eventos que ficaram na mem�ria da cidade.

Em 2017, nos 120 anos de Belo Horizonte, o EM desenvolveu o projeto BH120, que envolveu profissionais de toda a reda��o em edi��es especiais. Um encontro de gera��es, as paix�es no futebol, o legado dos grandes escritores, o abastecimento de �gua e a ocupa��o do espa�o urbano estiveram entre os temas apresentados em formato multim�dia.

 


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