Jornal Estado de Minas

CINEMA

Filmes de Plástico e Rodrigo Teixeira se unem para rodar longa em BH



A Cine BH - Mostra de Cinema de Belo Horizonte abriu anteontem sua 13ª edição com o anúncio de uma parceria entre dois convidados ilustres: a produtora mineira Filmes de Plástico e o carioca radicado em São Paulo Rodrigo Teixeira, da RT Features, vão produzir juntos o longa Vicentina pede desculpas, no ano que vem, com filmagens na capital mineira.

O projeto começou a ser desenvolvido em 2015, em um núcleo criativo desenvolvido pela produtora mineira com sede em Contagem, envolvendo seus quatro integrantes – os diretores e roteiristas Gabriel Martins, André Novais de Oliveira, Maurílio Martins e o produtor Thiago Macêdo –, além dos diretores convidados Thiago Ricarte, Karine Teles e Thais Fujinaga.

A versão final do roteiro, assinado por Gabriel Martins, que também será o diretor, conta a história de um grave acidente de ônibus, ocorrido no Centro de Belo Horizonte, no qual o veículo cai da Alameda da Avenida Bias Fortes sobre a Avenida do Contorno. Todos a bordo morrem, gerando grande repercussão midiática, sobretudo pela hipótese de o motorista ter provocado o acidente intencionalmente.

“O filme não é sobre o motorista Wesley, mas sobre sua mãe, a Vicentina, em seu processo de procurar as famílias das vítimas, conversar e pedir desculpas para tentar entender algo que talvez nem ela saiba o que é”, explica Gabriel, que recentemente lançou No coração do mundo, codirigido por Maurílio Martins.

A entrada da RT Features no projeto ocorreu em junho deste ano, no Olhar de Cinea - Festival Internacional de Curitiba. Em BH para a exibição em pré-estreia de A vida invisível, representante brasileiro na corrida pelo Oscar de Melhor Longa Internacional, que ele produz, Rodrigo Teixeira explica que a aproximação com a Filmes de Plástico é anterior a isso.

PARCERIA

“Já tínhamos uma parceria. O Gabriel escreveu o roteiro de Alemão, que é nosso maior sucesso em termos de público no Brasil. Eu também já tinha trabalhado com o André, que é roteirista de O sol na cabeça, do Karim Aïnouz. Então naturalmente essa conversa fluiu para um novo projeto junto”, diz o produtor.

Teixeira assina norte-americanas, como Frances Ha, de Noah Baumbach, A bruxa e The lighthouse, de Robert Eggers. Coproduziu também o vencedor do Oscar de Melhor Roteiro Adaptado Me chame pelo seu nome, de Luca Guadagnino (2018), e Port Authority, de Danielle Lessovitz, no qual divide os créditos de produção com Martin Scorsese. Ele está envolvido também com o longa Ad astra, ficção espacial estrelada por Brad Pitt, que recebeu ótimas críticas no Festival de Veneza.

Segundo Teixeira, a cooperação “é fruto de uma grande admiração”.
“Essa troca é natural, se a gente não colaborar entre praças, fica um cinema muito restrito no Brasil. Há uma concentração injusta em São Paulo e no Rio de Janeiro e não necessariamente o melhor resultado vem de lá. Então é até uma forma de chamar atenção para que esses centros voltem a valorizar talentos que talvez estejam marginais ao acesso”, afirma.

CINEFILIA

Para Gabriel Martins, a colaboração será, além de positiva, também prazerosa, pela boa conexão entre as ideias cinematográficas deles. “Uma característica bem específica do Rodrigo é uma cinefilia que se aproxima da nossa e que reverbera nas escolhas dele, aqui e lá fora. Em Curitiba, passamos um tempão conversando sobre produções que estão rolando e falamos com um brilho de cinéfilo. Nós, da Filmes de Plástico, somos assim, nos unimos na produtora por isso. O Rodrigo também tem esse perfil de gostar de filmes, mais do que do negócio, que faz parte, mas de ficar pilhado e ter uma relação de encantamento com o cinema.
Isso, para nós, é muito legal. Se fosse uma pessoa com quem não conseguíssemos conversar sobre isso, poderíamos fazer, mas não seria tão positivo”, afirma.

Teixeira disse que Vicentina pede desculpas, que será rodado na capital mineira e Região Metropolitana, já tem financiamento garantido, sem divulgar publicamente a origem e os valores, mas afirmando que “talvez não precise depender de recursos públicos”. Segundo o produtor, a expectativa é realizar as filmagens ainda 2020 e chegar ao circuito de festivais em 2021, “mesmo com todas as crises que estamos atravessando”.

Em fase inicial de pré-produção, o projeto não tem por enquanto nomes definidos para o elenco, mas, segundo Gabriel Martins, “existe uma intenção de continuar trabalhando com nomes que já fazem parte de outras produções da Filmes de Plástico, além de descobrir novos talentos em Belo Horizonte”. “Será possível unir fortemente a expertise das duas produtoras”, avalia Thiago Macêdo.

Segundo o produtor mineiro, esse novo trabalho dará sequência ao que a Filmes de Plástico vem mostrando em seus 10 anos de atividades. “Sempre trabalhamos com muita honestidade sobre o que fazer, sobre o que nos interessa e o que nos impulsiona. Tudo que surgiu dessa parceria com o Rodrigo segue essa honestidade e legitimidade, que continuam idênticas. Então é um trabalho que continuará muito familiar”, afirma.
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