Jornal Estado de Minas

ENGOLE O CHORO

'Rock Triste' sacode a poeira e faz campanha contra coronavírus

(foto: Gabriel Maia/divulgação)

Lançada em 1995 como parte da trilha sonora do programa infantil Castelo Rá-Tim-Bum (TV Cultura), a música Lavar as mãos, composta por Arnaldo Antunes, ganhou um novo significado, um quarto de século depois, no contexto da pandemia do novo coronavírus. Os versos simples e pedagógicos, antes voltados para as crianças, agora falam a todos sobre a importância de higienizar devidamente as mãos, uma das principais medidas contra a propagação do novo coronavírus.



E essa é a canção responsável pelo pontapé inicial da coletânea Rock triste contra o coronavírus, idealizada em Minas, que reúne bandas e artistas de diferentes partes do Brasil, com o objetivo de arrecadar fundos para comunidades carentes utilizarem em ações de combate à disseminação do vírus.

Sempre às sextas-feiras, desde o mês passado, o projeto divulga na plataforma Bandcamp um cover para arrecadação de valores que são integralmente revertidos para o Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas. A campanha também arrecada doações via depósito bancário e financiamento coletivo.

Capitaneada pelo músico mineiro Vitor Brauer, membro das bandas Lupe de Lupe, Desgraça, Xóõ e do movimento Geração Perdida de Minas Gerais, a coletânea reunirá, até o último lançamento, previsto para outubro, 26 músicas. Até hoje, foram liberados cinco covers de variados estilos. Todos eles dialogam de alguma forma com o momento atual, como é o caso de Lavar as mãos, gravada pelo próprio Brauer, em tom sombrio, muito diferente da brincadeira pueril executada na versão original, agora que a limpeza das mãos virou assunto de “gente grande”. Afinal, “a doença vai embora junto com a sujeira/vermes, bactérias, mando embora embaixo da torneira”, conforme diz a letra.



Conhecidos pelo “grindcore interpretativo” que alegam fazer, os também mineiros do Grupo Porco fazem jus ao estilo musical que representam e realizam o barulhento cover da música Amanhã vai ser pior, originalmente da banda Facada. Como indica o título, a música soa como uma leitura bastante impiedosa de um tempo de quarentena.

CUCA Projeto de música eletrônica do baiano Lucas Spanholi, o SOFT PORN entra na coletânea com uma releitura estranha e no entanto muito bem-sucedida de Tiu-ba-la-quieba, canção de Marcos Valle presente no álbum Previsão do tempo (1973). “Cuide da cabeça com muito amor/ cuide dessa cuca com muito amor”, é o recado da música, que ganha contorno de conselho indispensável depois de seguidas semanas da prática de isolamento social.

Sentimentais que são, os integrantes do trio curitibano Tuyo resolveram entrar no projeto regravando um pagode cheio de mensagens apaixonadas. Lançada originalmente por Péricles, Até que durou ganha sons eletrônicos. Os versos que questionam o que fazer com “os planos dos próximos anos” caem como uma luva no esperto jogo de vozes criado pelas vocalistas Lio e Lay. A banda de emo-punk pernambucana Amandinho, por sua vez, entrega um estranho cover de War pigs, do Black Sabbath.

Outras promessas do chamado Rock Triste mineiro estão presentes na coletânea, como o grupo Pata, Não Não-Eu, Fernando Motta, Celso e Mafius, Wagner Almeida e Avendá, Paola Rodrigues e a já citada banda Lupe de Lupe.

Completam a seleção de artistas Emerald Hill (PB), Bruna Mendez (GO), Eliminadorzinho (SP), Theuzitz (SP), Fogo Caminha Comigo (PR), Coisa Horrorosa (SC/SP), Chico de Barro (RJ),  Trash No Star (RJ), ÀIYÈ (RJ), Terno Rei (SP), Tom Gangue (RJ), La Leuca (SC), Born To Freedom (RN) e Brvnks (GO).