Em muitos momentos, o preconceito contra a população LGBT é manifestado por piadas e gracejos. Humoristas populares na TV e no cinema reproduziram a homofobia num passado que, felizmente, tende a ficar cada vez mais longínquo. Parte da nova safra de filmes brasileiros produzidos pela Amazon Prime Video, Carlinhos e Carlão, lançado nesta quinta-feira (12), mostra uma configuração contemporânea da comédia em que o riso é usado para promover a empatia e o respeito.
O protagonista é interpretado por Luis Lobianco. Casado com o pianista Lúcio Zandonadi, o ator, nos últimos anos, vem se manifestando publicamente sobre temas ligados à diversidade e tolerância. Sob direção de Pedro Amorim e Thiago Rodrigues, ele faz o papel de Carlão. Deseducado em casa desde a infância, o personagem é funcionário da oficina mecânica de uma concessionária. Sua rotina é marcada por comportamentos questionáveis ao lado dos colegas, com deboches e piadas de mau gosto, seja no ambiente de trabalho, nas partidas de futebol semanais ou no bar que frequentam. Os principais alvos do grupo são o garçom Guga (Suzy Brasil), hostilizado por ser homossexual, e a garçonete Glorinha (Tathi Lopes), vítima de assédio e comentários machistas.
MÁGICA
Carlão tem a chance de mudar graças a um passe de mágica. Vai a uma loja comprar um armário. O móvel é alvo do encantamento lançado pelo vendedor (e fada madrinha) interpretado por Luis Miranda. Depois de usar o armário, o rapaz assume dupla identidade, transformando-se, a cada anoitecer, em Carlinhos, seu alter ego gay.
Apesar do clichê, a narrativa apresenta questões importantes, como a violência contra a população LGBT, para criar uma história sobre empatia e compreensão do lugar do outro.
“Além do compromisso com o humor e com o bom humor, ou seja, o humor humano e responsável, busco ter compromisso com as histórias. Contar a história como ela deve ser. Como é um filme sobre homofobia, é sobre como é estar na pele do outro e como se sentem as pessoas que não estão na pele do outro”, afirmou Lobianco, em videoconferência com a imprensa.
O ator lembrou que a violência contra a população LGBT “começa desde a não aceitação, em casa, no não reconhecimento de suas vontades, de seus talentos, depois acontece no ambiente de trabalho, e depois na rua, onde ocorre a violência que mata tantas pessoas no Brasil, o país que mais assassina LGBTs no mundo”.
Lobianco disse que não gostaria de fazer um filme que não levasse até o fim as consequências da homofobia. “Humor não serve apenas para fazer rir. É ferramenta maravilhosa para um monte de coisas, para emocionar, contar histórias. É um grande causador de empatia, pois fisgamos o público com a risada e não deixamos de falar o que deve ser falado”, observou.
Suzy Brasil, conhecida pelas performances como drag queen, disse que o filme conecta o público com as personagens. “São piadas e brincadeiras que as pessoas fazem a vida toda e não percebem que estão atingindo fortemente o outro”, acredita. “O filme trata de níveis diferentes de homofobia, mas mostra que piadinhas feitas com naturalidade no dia a dia afetam o outro. Só quem sofre o bullying sabe como é.”
De acordo com a atriz, a comédia abre portas para a discussão da intolerância. “Quem assiste, embarca no riso e no meio do filme se depara com questões mais sérias.” Em algumas cenas do longa há violência moral e até agressão.
Parte mais lúdica da trama, o armário mágico tem sua simbologia explicada por Luis Miranda. “Ele representa essa dor, esse parto para os homossexuais saírem do armário. Carlão sofre com isso. Para além do bullying, o momento em que a pessoa sai do armário é uma libertação, uma transformação. Acho que (mostrar) isso é um grande serviço.”
PADRÕES
Lobianco vê avanços no humor na direção da diversidade e do respeito. “Faço parte de uma geração que vem rompendo padrões, que não aceita esconder sua vida pessoal. Em outros tempos, se falasse que meu marido está aqui do lado, seria um problema. Faço parte de um movimento de artistas que se fortalecem quando exigem visibilidade e querem ocupar espaços, não só aqueles delimitados, onde o gay tinha de ser caricato. A gente fura essas bolhas”, afirmou.
Carlinhos e Carlão faz parte de uma trinca de comédias nacionais com apelo popular produzidas e exibidas com exclusividade pela Amazon Prime Video. Na semana passada, estreou Os espetaculares. Dirigido por André Pellenz (de Minha mãe é uma peça), o longa é estrelado por Paulo Mathias Jr.
Na próxima quinta-feira (19), entra no catálogo da plataforma No gogó do Paulinho, com Maurício Manfrini no papel de Paulinho Gogó. Na trama, ele narra suas histórias em um banco de praça, enquanto aguarda a chegada de sua amada, Nega Juju (Cacau Protásio).
CARLINHOS E CARLÃO
.Direção: Pedro Amorim e Thiago Rodrigues
.Com Luis Lobianco, Luis Miranda e Suzy Brasil
.Disponível na Amazon Prime Video