Jornal Estado de Minas

LITERATURA

Cris Pàz participa do último dia da Bienal de SP com sessão de autógrafos


A Bienal Internacional do Livro de São Paulo chega ao fim neste domingo (10/7), após nove dias ocupando o Expo Center Norte, na capital paulista. Aberto desde 2 de julho, o evento literário contou com a presença de autores como Valter Hugo Mãe, Mauricio de Sousa, Matilde Campilho e Lilia Schwarcz. Também passaram por lá Lázaro Ramos e Adriana Calcanhotto, e os youtubers Rezende e Brancoala.



Na programação oficial, Minas Gerais esteve representada por Ailton Krenak e Conceição Evaristo. E neste último dia da Bienal, quem marcará presença no evento é a escritora e publicitária mineira Cris Pàz, nome assumido há pouco mais de dois meses por Cris Guerra.

Ela é uma das convidadas do estande da Editora Melhoramentos, onde autografará, a partir das 14h, exemplares de seu livro mais recente, "Fundo do poço, o lugar mais visitado do mundo – Notas de viagem", lançado em novembro de 2021. Mais cedo, às 11h, o espaço recebe o escritor, palestrante e contador de histórias mineiro Rogério Andrade Barbosa, autor de livros infantojuvenis.

SEM ESTIGMA 

Autora de oito livros, entre eles "Para Francisco" (2008) e "Moda intuitiva" (2013), Cris descreve seu trabalho mais recente como "autoajuda", apesar dos estigmas que cercam o gênero. "Ele tem muito a ver com meu primeiro livro, 'Para Francisco', que nasceu como um blog de cartas para o meu filho depois que o pai dele faleceu quando eu ainda estava grávida", ela explica.





"O blog nasceu para mim como uma espécie de salvação. Na época, eu trabalhava como redatora, e escrever as cartas para ele transformou a minha vida. Depois que escrevi o livro, me tornei uma produtora de conteúdo e agora já estou mais de uma década nesse ramo", acrescenta.

"Fundo do poço, o lugar mais visitado do mundo" é, na verdade, uma reunião de crônicas em que Cris brinca com a ideia de que o 'fundo do poço' é um espaço físico que pode ser visitado. Usando exemplos de suas experiências pessoais, ela fala sobre temas como luto, depressão e momentos em que a vida a colocou à prova, tudo isso como se cada uma dessas histórias fosse a parada de uma longa viagem.

"O fundo do poço é um lugar que todos nós vamos, mesmo os que não gostam de admitir isso. E muita gente amadurece, muda de vida, depois de um fundo do poço caprichado. Comecei a escrever esse livro porque queria fazer uma brincadeira com isso. Esse lugar de dor é tão importante de vivenciar, ainda mais num mundo que nos cobra tanto a ideia de felicidade", ela afirma.





Escrito durante a pandemia, o livro conta com ecos desse períodos, mas não chega exatamente a citá-lo. "É engraçado porque a pandemia, aquele momento mais duro dela, foi um momento em que todos nós estávamos no fundo do poço, ao mesmo tempo. Poderia ter sido um momento de reflexão, mas não acredito que tenha sido para todo o mundo", ela afirma.

DIVERSIDADE 

O convite para participar da Bienal surgiu da editora que publicou o livro. Cris Pàz está empolgada e sente que, em eventos assim, autores de fora do eixo Rio-São Paulo, geralmente são muito bem tratados. "O Brasil se abriu para essa diversidade. Foi-se o tempo em que apenas o que se fazia em São Paulo e no Rio de Janeiro", ela analisa.

E ainda que Minas Gerais não tenha um evento tão grandioso quanto a Bienal Internacional do Livro, Cris acredita que as iniciativas já presentes no estado tem um papel importante para o mercado editorial, até mesmo em nível nacional, como por exemplo o projeto Sempre um Papo.





"Nós temos eventos periódicos que suprem essa demanda. O Sempre um Papo, por exemplo, tem mais de 30 anos e é diferente de tudo o que já vi, dentro e fora de Minas. É uma coisa única", ela avalia.

Já amplamente conhecida como Cris Guerra, ela decidiu alterar o nome artístico há pouco mais de dois meses, após se consultar com uma numeróloga. "Faço psicanálise e acredito fortemente na força das palavras. E eu sempre vivi muitas situações nas quais as pessoas me chamavam de guerreira. E isso se associa a meu nome público", ela explica.

"Eu cansei da guerra. Fui até uma numeróloga, já que sempre fui uma pessoa mais sincretista, e ela me indicou que seria positivo sim parar de usar o Guerra. Meu namorado sugeriu o Paz e eu achei que faz sentido e resolvi fazer essa mudança", conta.





Segundo ela, o novo nome tem sido bastante elogiado pelas pessoas que acompanham seu trabalho. No entanto, ela ainda não conseguiu alterar o nome de usuário no Instagram, plataforma na qual tem mais 170 mil seguidores. Por isso, criou uma conta secundária – que tem 5,6 mil seguidores – e lançar a hashtag #CrisGuerraAgoraÉCrisPàz.

"A mudança tem sido bem recebida. São anos e anos de Cris Guerra e eu tenho certeza de que terei que trabalhar muito para fazer Cris Pàz pegar. Vamos ter que fazer um processo de rememorização. E com o tempo as pessoas vão assimilando", afirma.

'Fundo do poço, o lugar mais visitado do mundo: Notas de viagem' ganha sessão de autógrafos

REDES SOCIAIS 

Questionada sobre o status de celebridade que os escritores ganham em um evento como a Bienal do Livro, Cris afirma que esse tipo de reação do público não lhe causa estranhamento, já que seu trabalho é muito baseado em sua presença nas redes sociais.





"O fato de eu estar presente nas redes, na internet, acabou fazendo de mim uma escritora. Isso é muito poderoso, a meu ver. E nós estamos vivendo outros tempos. Grandes escritores como Drummond, na época deles, não tinham o acesso imediato à reação que seus livros poderiam gerar", analisa.

"Acabo sendo vista pela literatura de forma meio enviesada porque faço muitas coisas. Mas acredito que aproximar os leitores dos autores é maravilhoso. O livro só acontece quando encontra os olhos do leitor. Eu só me tornei escritora por causa do blog. Hoje, é claro que qualquer um pode escrever e o que diferencia qualquer pessoa de um autor é o fato de ser lido", conclui.