As tensões que um país enfrenta podem ser descritas através de suas famílias? O escritor americano Jonathan Franzen prefere ir passo a passo e prepara uma trilogia depois de ter publicado, no ano passado, "Encruzilhadas".
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Em novo livro, Cristóvão Tezza desmascara o Brasil da pandemiaSérgio Rodrigues convoca Machado e Alencar para enfrentar o Rio de 2020João Almino 'ressuscita' o Conselheiro Aires em novo romanceO pai, Russ, é um pastor em crise e tentado pela infidelidade. Sua esposa, Marion, arrasta um passado sombrio do qual não consegue se livrar. Entre os seus quatro filhos, três enfrentam como podem os demônios da adolescência.
"Em 1971, nos perguntávamos: quando vamos sair do Vietnã? E no mundo de 'Encruzilhadas', a principal questão é se Becky (filha do casal Hildebrandt) irá ao show de Natal de braço dado com Tanner Evans (seu noivo)", disse Franzen em Paris, depois de participar de um festival literário.
O romance conquistou a crítica e o público, como é comum ocorrer com as obras de Franzen. O autor teve a imprudência de anunciar que o volume de 700 páginas fazia parte de algo maior, e agora lida com as cobranças dos leitores pela publicação dos próximos volumes.
"Sim, isso é o que eu disse", reconhece. "Mas a questão é que eu não gosto de ser lembrado com tanta frequência. 'Mal posso esperar pelo volume dois'. E eles dizem isso de forma educada, eu sei. Mas a próxima parte não vai chegar rapidamente. Então, próxima pergunta, por favor", responde com um sorriso.
Resultado
Seria Jonathan Franzen o Balzac dos Estados Unidos, o escritor que, sem ter essa intenção, está retratando partes inteiras de sua sociedade e de seu passado?
"Bom, invejo a rapidez com que Balzac escreveu seus livros, e quantos escreveu. E se ao final isso é parte do resultado, melhor ainda."
"Mas o que eu queria, acima de tudo, era criar cinco personagens, o que significava criar cinco histórias, e mescla-lás entre si", acrescenta.
Franzen venceu o National Book Award em 2001 por "As correções", e se consolidou como um dos maiores cronistas do país com "Liberdade", uma década depois.
Ele nasceu em 1959, em uma família de classe média em West Springs, Illinois, filho de pai sueco e mãe americana. Afirma que não teme a expressão "privilégio branco".
"Fui para uma boa universidade, onde aprendi a escrever. E outra coisa que aprendi, porque era um estudante preguiçoso, foi como fingir que sabia muito sobre algo que sabia muito pouco", afirma.
"E acho que para a geração mais jovem, especialmente nestes tempos altamente politizados, sou culpado até que se prove o contrário."
"Tive o privilégio de ter uma boa saúde. E de ter pais que realmente cuidavam dos filhos. E a lista nunca acaba. Mas não me arrependo disso", afirma.