Apesar de documentado em v�deo de 1 minuto e 20 segundos, o mart�rio da travesti Dandara Kataryne, de 42 anos, durou mais de uma hora, entre chutes e pauladas, at� ela ser levada, num carrinho de m�o, para ser executada com um tiro e uma pedrada. Durante esse mesmo tempo, h� registro de den�ncias no 190 da Pol�cia Militar sobre o espancamento. A viatura chegou somente quando Dandara j� estava morta. A Secretaria da Seguran�a P�blica e Defesa Social do Cear� n�o se pronunciou a respeito da demora. A motiva��o para o crime ainda n�o foi esclarecida.
“A discrimina��o est� clara no v�deo. � not�rio que h� transfobia”, afirma a chefe de investiga��o da 12ª Delegacia de Pol�cia, Vit�ria Holanda, amiga de Dandara e integrante da equipe que apura o caso. H� pelo menos duas linhas de investiga��o. Uma trabalha com a hip�tese de Dandara ter sido levada para fazer um programa nas proximidades e ter sido confundida com uma pessoa da gangue rival � dos traficantes do local. Outra seria de que o motoqueiro que a abordou teria contra�do o v�rus HIV ao se relacionar com a travesti e estivesse se vingando.
Sete pessoas foram detidas por envolvimento na morte da travesti: Rafael Alves da Silva Paiva, de 18 anos, J�lio C�sar Braga da Costa, de 19 e Isa�as da Silva Camur�a, de 25, que j� responde por homic�dio. Quatro adolescentes foram apreendidos – um deles comandou o linchamento. Tr�s pessoas est�o foragidas, entre elas o motoqueiro. Ele mora no bairro vizinho e trabalha como vigilante. “Isso acontece em Fortaleza diariamente. Gra�as a Deus, esses infelizes filmaram a pr�pria senten�a”, afirma um dos irm�os de Dandara, Ricardo Vasconcelos, de 38, que cobra justi�a. “Infelizmente, n�o tem Justi�a para menor de 18 anos no Brasil”, diz.
Embora o crime tenha ocorrido em 15 de fevereiro, ganhou repercuss�o nacional apenas em 3 de mar�o, quando foi divulgado em redes sociais. Segundo a investigadora, as imagens j� eram de conhecimento da Pol�cia Civil, que tamb�m tinha em m�os um segundo v�deo. Nele, Dandara est� sozinha, ensanguentada no meio da rua. Ela n�o tem for�as para fugir, pede �gua e fala, j� delirando, que o pai – que � separado da m�e dela e n�o mora na mesma casa – vai busc�-la.