Oscar Niemeyer gostava de repetir: “A Pampulha foi o início de Brasília”. O mais ambicioso projeto do arquiteto surgiu com as mesmas linhas curvas do espaço que Juscelino Kubitschek havia lhe encomendado para Belo Horizonte. “Foi a mesma correria, o mesmo idealismo e a preocupação com os prazos fixados. Em Brasília, realizei meu trabalho de arquiteto. Brasília foi o sonho de JK: levar o progresso para o interior do país”, dizia ele sobre a capital federal, que recebeu o título de Patrimônio Mundial da Humanidade, em 1987.
Confira toda a trajetória do maior arquiteto brasileiro
Sentimentos de aventura, perseverança e empreendedorismo se mesclaram na epopeia da construção da cidade. As obras levaram apenas 42 meses. Brasília consagrou a arquitetura de Oscar Niemeyer e trouxe autoestima ao brasileiro.
O auge da revolução arquitetônica de Niemeyer se deu nos anos 1950. Depois de inventar a Pampulha, ele aceitou novo convite de JK – dessa vez, para levar a capital brasileira para o Planalto Central, no sertão goiano.
Niemeyer passou a liderar equipe de grandes nomes, a exemplo do mineiro Israel Pinheiro, para erguer um dos principais e mais ousados marcos urbanos do planeta. Para ele, o Congresso Nacional é o prédio que melhor representa o espírito empreendedor e sintetiza as soluções encontradas.
“Quando alguém vai a Brasília, pergunto se viu o Congresso Nacional e se achou o projeto bom, certo de que a pessoa poderia ter gostado ou não, mas de que nunca poderia dizer que tinha visto antes coisa parecida”, comentou ele.
Brasília nasceu cercada de polêmica. As críticas à transferência da capital federal do litoral para o sertão não tardaram. Assim como as denúncias em relação aos gastos e à falta de fiscalização do emprego dos recursos. Niemeyer sempre foi defensor do projeto e de sua importância para o desenvolvimento do país. Gostava de responder às críticas argumentando ter empregado materiais mais baratos e disponíveis, como cimento e mármore branco.
Niemeyer também fazia questão de explicar que, além da monumentalidade do conjunto, a cidade nasceu, em 21 de abril de 1960, cercada de significados e simbolismos. O povo brasileiro assistiu à inauguração com misto de entusiasmo e curiosidade.
Projetada para chegar ao século 21 com 500 mil habitantes, Brasília atualmente reúne cerca de 2 milhões de moradores – boa parte deles nas cidades- satélites. O que mais chama a atenção no projeto original é o eixo monumental, o corpo do avião do Plano Piloto, com 16 quilômetros de extensão. Os principais prédios e monumentos estão nesse espaço, entre eles a Catedral Metropolitana de Nossa Senhora Aparecida, espécie de coroa iluminada. A Praça dos Três Poderes, centro do poder republicano, é outro conjunto que desperta atenções: de um lado está o prédio do Supremo Tribunal Federal e, de outro, o Palácio do Planalto.
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A Pampulha foi o início de BrasíliaCorpo de Niemeyer será velado hoje no Palácio do Planalto Construção de BrasíliaJornal português diz que morreu "o último grande arquiteto do século 20"Governador do Distrito Federal decreta luto de sete dias pela morte de NiemeyerO arquiteto e designer gráfico Ricardo Ohtake, autor de livro sobre a obra de Oscar Niemeyer, explica que a importância de Brasília não se limita a termos geopolíticos, econômicos e sociais, mas sobretudo aos aspectos arquitetônicos e urbanísticos. “Aquela foi uma das poucas cidades planejadas do começo ao fim. Brasília é a cidade de maior porte no mundo feita a partir dos preceitos modernistas.
A capital brasileira simboliza também o contraponto à linguagem modernista surgida depois dos anos 1920. “Oscar quebrou o paradigma das formas retas e ortogonais. Abriu outro caminho, ao se inspirar nas curvas das montanhas e das mulheres para montar sua arquitetura. Achou o novo e saiu da monotonia”, conclui Ricardo Ohtake. .