Jornal Estado de Minas

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Presépios, tradição antiga



Uma das datas mais lindas do ano é o Natal. O nascimento de Jesus Cristo, o Filho de Deus, nosso Salvador. Por isso mesmo, toda e qualquer forma de celebração e representação deste momento histórico tão importante é bem-vinda e deve ser cultivada e mantida. Uma das tradicções mais bonitas são os presépios, que a cada ano ganham mais em criatividade.
 
O maior e mais “rico” presépio está em Belo Horizonte, trata-se do Presépio do Pipiripau, obra tombada pelo Iphan, que retrata, em 45 cenas, a vida de Cristo. É composto por 580 figuras que se movem, e culmina com a crucificação e ressurreição de Jesus, com direito a show de luz e som. O presépio começou a ser construído a partir de 1906 por Raimundo Machado de Azevedo, sendo um exemplo típico dos presépios mineiros. Ficou fechado muitos anos, aguardando restauração, mas foi devolvido, novinho em folha, para visitação, em abril de 2017. Em junho deste ano, levamos um susto, quando o Museu de História Natural, onde fica o presépio, pegou fogo.Graças a Deus não atingiu a casa onde fica o Pipiripau.

Idade Média O costume de montar presépios durante as comemorações natalinas nasceu dos Autos da Natividade, na Idade Média.
Os diversos autores que estudaram o tema se divergem quanto ao local de origem, uns afirmam ter sido na Itália e outros, na França, mas, segundo Augusto de Lima Jr., para nós, brasileiros, foram os frades de Alcobaça da Ordem de Crister e seus introdutores em Portugal que começaram com a tradição.
 
Segundo o pesquisador, havia neste famoso mosteiro uma escola de ceramistas com trabalhos notáveis. Os Condes de Borgonha e seus cavaleiros levaram para a nova pátria muitos de seus costumes religiosos com os capelães que os acompanhavam. Os franciscanos disseminaram estes costumes.
 
Grande parte das famílias brasileiras montam presépios, e por causa da diferença regional, a representação cenográfica do nascimento de Cristo também tem grandes diferenças entre as regiões, desde o início do costume. Nos séculos passados, a grande diferença entre os presépios do Norte e do Sudeste se dava devido a diferenciação social. No Norte, apenas os ricos senhores de engenho tinham a representação do nascimento de Jesus Cristo, e em todos a visitação era feita com festas e danças, que se estendiam até o Dia de Reis. O Sudeste preservou mais a tradição primitiva. Já no Sul, os presépios eram montados em todas as casas, mesmo nas mais humildes.
 
Em Minas Gerais, no período colonial – e até hoje é assim –, quase todos montavam sua Gruta de Belém com os personagens da Sagrada Família.
Cidades históricas tiveram célebres presépios monumentais, feitos pelos sacristães. As figuras sagradas eram de origem baiana, de Minas do Rio das Contas, fabricadas com uma pedra branca muito fácil de moldar, parecida com a pedra sabão. Uma constante: no fundo da paisagem via-se a cidade de Belém cintada de muros e com grandes portas abertas que davam para uma ladeira tortuosa, que descia até a planície no primeiro plano, onde se encontrava a gruta da Natividade.
 
Toda a imaginária de animais, mercadores, mulheres etc., enchia o restante do “quadro”. Na parte baixa, ricos rebanhos de ovelhas com seus pastores, mercadores, soldados, mais animais, e na sossegada gruta via-se a imagem de Jesus sobre a palha e, reclinados juntos dele, Nossa Senhora, São José e alguns pastores, o jumento e a vaca. No alto, um céu forrado de cetim azul cheio de brilhantes estrelas de prata e entre elas, anjos voavam, levando uma fita com o dizer “Glória in Excelsis Deo”.
 
A prática do presépio, além de ser uma forma de piedade, era de grande interesse para as crianças das famílias ricas porque à meia noite, logo depois de nascido, Jesus deixava a gruta e, acompanhado de seus anjos, ia colocar os brinquedos e os outros presentes nos sapatos, que eram colocados por trás das portas.

Santa Luzia O tempo e os estrangeiros fizeram desaparecer esses belos hábitos religiosos, mas muitas famílias brasileiras não abrem mão de ter o seu presépio, seja ele singelo, apenas com as três figuras principais, ou grande e cheio de personagens. Várias cidades mineiras têm, em sua programação de fim de ano o Circuito de Presépios, como por exemplo Santa Luzia, Sabará e Jaboticatubas, as três na Região Metropolitana de Belo Horizonte, e também Medina, no Vale do Jequitinhonha e São Francisco, no Norte do estado.
 
Em Santa Luzia, praticamente todas as casas montam seu presépio, mas oficialmente 42 abrem suas portas para visitação durante todo o mês de dezembro, até o Dia de Reis. As pessoas chegam a desmontar cômodos da casa para dar espaço ao presépio, que a cada ano cresce um pouco, sempre trazendo novidades, como novos personagens, efeitos de iluminação e até mesmo, sonoros.
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