Jornal Estado de Minas

TJ barra operação de usina hidrelétrica em Minas

Ação civil pública movida há sete anos pelas comunidades atingidas por barragens foi acatada judicialmente

Nayara Menezes
Após sete anos de briga judicial, os moradores das cidades de Santa Cruz do Escalvado e Rio Doce, na Zona da Mata, comemoram uma vitória. O Tribunal de Justiça publicou na quinta-feira acórdão anulando a licença de operação (LO) da Usina Hidrelétrica Risoleta Neves. A decisão atende a ação civil pública proposta pelo Núcleo de Assessoria às Comunidades Atingidas por Barragens (Nacab). Construída em 2003 pelo Consórcio Candonga, da Vale e Nouvelis do Brasil, a hidrelétrica inundou o distrito de São Sebastião do Soberbo, pertencente a Santa Cruz do Escalvado, onde moravam 120 famílias, removidas.
A decisão do TJ baseou-se no fato de o consórcio ter deixado de atender uma condicionante para a revalidação da licença, a construção de uma capela, demolida na área inundada. Além disso, parecer da Procuradoria de Justiça, favorável à anulação da LO, reforçou críticas ao modelo de remoção e a seus custos, além de prejuízos à pesca e à água, que ficou imprópria para consumo.

Segundo a advogado da Nacab, Leonardo Pereira Rezende, os moradores foram obrigados a alterar seu estilo de vida, trocando uma área rural por uma urbana. O agricultor José Carneiro estranha a mudança. “Eu vivia em um terreno de 15 alqueires, plantava cana, criava porcos e vaca. Com a indenização, consegui comprar uma casa que tem apenas um terço da área do antigo lote e não dá para criar nada, e nossa conta de luz triplicou”, reclama. Ele cobra ressarcimentos: “Queremos é uma negociação mais justa”.

O prefeito de Santa Cruz do Escalvado, Gilmar de Paula Lima (PMN), reforça as críticas. “A reativação econômica jamais foi efetivada. As empresas poderiam gerar mais renda para a população removida.”

Contestação

O gerente do consórcio, Sebastião Pernes de Miranda Filho, contesta, alegando que a empresa desenvolveu vários programas sociais e ambientais. Além disso, aponta a geração de cerca de 140 empregos diretos e indiretos, priorizando a contratação de fornecedores e mão de obra locais. “Desde o início, a UHE Risoleta Neves gerou cerca de R$ 15 milhões em impostos e pagamentos de royalities. Atualmente, geramos em média R$ 2,4 milhões por ano a título de royalties, valor repassado aos municípios de Santa Cruz do Escalvado e Rio Doce”, afirma. Quanto à decisão judicial, antecipa que o consórcio buscará a renovação da licença e, em seguida, recorrerá da decisão em terceira instância.

Aiuroca O município de Aiuroca, no Sul de Minas, também trava batalha para a implantação de usina hidrelétrica na cidade. Na última semana, foi publicada decisão do secretário de estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável e presidente do Conselho de Política Ambiental (Copam), Adriano Magalhães Chaves, indeferindo o Requerimento de Licença de Instalação do empreendimento SPE Aiuroca Energia SA. A medida está ligada a limitações ambientais.

O principal entrave foi um documento do Centro de Estudos da Biodiversidade (Cbio), órgão responsável pela Área de Proteção Ambiental (APA) Serra da Mantiqueira, onde funcionaria a usina. Nele, o Cbio não renova a anuência da fase preliminar do empreendimento, sob alegação de impactos no bioma da mata atlântica.

O prefeito Paulo Roberto Senador (PR), no entanto, declarou-se decepcionado. “A usina traria muitos benefícios, inclusive ambientais, e ficaria responsável pelo tratamento do esgoto do município, hoje praticamente todo jogado nos rios”, afirma. A Energias Renovávei (Ersa)informou, por meio de nota, que o projeto para a instalação da Pequena Central Hidrelétrica (PCH) em Aiuroca é ambientalmente sustentável. A empresa, que somente na quinta tomou conhecimento da decisão da Semad, também deve entrar com recurso no Copam defendendo a viabilidade do projeto.