Uma importante página da história de Minas clama por socorro. A Matriz de Nossa Senhora da Imaculada Conceição, construída em 1695, em Matias Cardoso, no Norte de Minas, a 700 quilômetros da capital, está deteriorada pelo tempo e vândalos. Paredes trincadas, sistema elétrico precário e portas e janelas danificadas são alguns problemas. Outro é a falta de sistema antifurto eficiente: Em 2007, quadrilha invadiu o templo e levou as imagens de Santa Maria, Sant’Anna e São Miguel, ainda não recuperadas.
A matriz é a mais antiga do Norte de Minas e uma das primeiras do estado. O padre Sebastião Rubens Rosa, na paróquia desde 2009, lamenta a situação. “Há 20 dias, a luz se apagou durante um casamento. A energia precisou ser puxada de outro local. É triste saber que urinam no muro. Nem zelador, antes pago pela prefeitura, temos mais. Ela é tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Não é um bem da igreja: é de todo o país.”
O pároco acrescenta que a última grande reforma foi em 1912. O superintendente do Iphan em Minas, Leonardo Barreto, adianta que dois dos três projetos para restaurá-la estão concluídos. A expectativa é que as obras comecem ainda este ano. “O elétrico e o de segurança estão prontos. Falta o de restauro arquitetônico. Não há como começar uma obra isoladamente. As três precisam ser feitas ao mesmo tempo”, explicou.
Para o padre, as mudanças demandam custo de R$ 2,5 milhões. O abandono da matriz deixa uma ferida no coração dos moradores. A dona de casa Luciene Batista, de 30 anos, espera vê-la reparada o mais rápido possível. “Esta situação não pode continuar. Algo tem de ser feito”. Diolina Soares de Oliveira, de 58, faz coro à restauração: “Ficamos triste com o descaso. É um cartão-postal de todo o estado que precisa ser restaurado”, disse.
Alguns moradores da região classificam a igreja como a mais antiga de Minas, mas, segundo a Arquidiocese de Belo Horizonte, as matrizes de Raposos e Sabará, em homenagem a Nossa Senhora da Conceição, datam de 1690. As paredes da igreja de Matias Cardoso foram levantadas antes das igrejas de Mariana, primeira vila e cidade do estado.
“A de Matias Cardoso é a primeira freguesia do estado, datada de 8 de dezembro de 1695. O padre era Antônio Thomaz Corvelo Garcia D’Ávila, fundador de Curvelo. Antes de surgir o arraial de Nossa Senhora do Carmo, hoje Mariana, em julho de 1696, o povoado de Morrinhos, atual Matias Cardoso, já consagrava sua igreja. Infelizmente, a matriz está em situação deprimente”, disse o antropólogo João Batista de Almeida Costa, doutor pela Universidade de Brasília (UnB), onde defendeu a tese de que Morrinhos é o primeiro povoado mineiro.
Em 1664, o bandeirante paulista Mathias Cardoso de Almeida, que dá nome ao município, foi enviado à região para capturar ou exterminar índios e quilombolas que ameaçavam, na visão dos brancos, os mercadores e as plantações no chamado Caminho Geral do Sertão, de lá a Salvador (BA). O grupo do bandeirante ainda deu origem a outras cidades, como Januária e São Romão.