Jornal Estado de Minas

MORTOS NO PERU

Dois peruanos são investigados por morte de brasileiros que sumiram em mata

Principal rua de Jaen no Peru - Foto: Paulo Henrique Lobato/EM/D.A/PressLima, Jaén e Bellavista (Peru) – Desde que autoridades peruanas confirmaram há 11 dias a morte de um mineiro e um paulista que desapareceram na mata enquanto faziam trabalho topográfico no Norte do Peru, familiares não se convenceram das hipóteses levantadas pelo Itamaraty de que os dois podiam ter sofrido hipotermia ou consequências da altitudeA temperatura alta no dia do sumiço, a altitude relativamente baixa na zona do incidente e o histórico de resistência violenta de camponeses à instalação de hidrelétricas na região levaram parente dos engenheiro mineiro Mário Bittencourt, de 61 anos, e do geólogo paulista Mário Guedes, de 57, a desconfiar de assassinatoOs familiares não estão sozinhos.

A reportagem do Estado de Minas percorreu cidades peruanas e descobriu que homicídio é, no momento, a principal linha de investigação de autoridades do país para as mortes dos brasileirosMais: o Ministério Público local já tem dois suspeitos e não descarta a hipótese de envenenamento, uma vez que os corpos dos brasileiros não apresentavam sinais de violência“Abrimos investigação por homicídio contra dois homens e tentamos localizá-los para que deem declarações”, disse a promotora provincial de Cumba, Mariela GurreoneroOs dois suspeitos são os peruanos Jesús Sánchez e Juan Zorrilla Bravo, este um líder comunitário que já participou de manifestações contra hidrelétricas na regiãoEm uma delas, funcionários da empresa que faz estudos sobre hidrelétrica foram expulsos de uma cidade próxima à zona na qual os brasileiros morreram (leia sobre hidrelétricas no Peru na página 28).

A promotora decidiu investigá-los com base em informações prestadas à polícia pelos dois engenheiros peruanos que acompanharam Mário Bittencourt e Mário Guedes no trabalho de topografia na localidade conhecida como Pozo Negro, a cerca de 800 quilômetros de LimaO EM teve acesso aos depoimentosNeles, os engenheiros peruanos sugerem que tanto Juan Zorrilla Bravo como Jesús Sánchez agiram de maneira suspeita durante o incidente (veja arte)Zorrilla, dizem, confundiu peruanos que realizavam a busca aos brasileirosSánchez, amigo de Zorrilla e dono de uma cabana no início da estrada, ofereceu água ao grupo no começo da caminhada
Pelo menos Mário Bittencourt, apontam os depoimentos, tomou imediatamente sua água.

Passo a passo Os relatos dos engenheiros peruanos José Antonio Suazo Bellaci, de 38, e Fausto Edurino Liñan Turriate, de 55, ambos a serviço da Companhia Energética Vera Cruz, dão detalhes sobre o que ocorreu na trilhaEles e os brasileiros, contratados da Leme Engenharia, começaram a caminhada na área da floresta às 9h30 do dia 25 de julho, segunda-feiraUm motorista que havia levado o grupo ficou esperando no carroDe acordo com os depoimentos, logo depois do começo da caminhada eles pararam em uma cabana no início da estrada para beber água e conversaram com Jesús Sanchez, tratado agora como suspeito.

Os depoimentos dão conta de que, por volta de 12h, Bittencourt se cansou e reclamou de dor na pernaEle teria ficado sentado à beira da estrada, enquanto o trio seguiu um trecho de subidaDepois de meia hora, o grupo voltou e percebeu que o mineiro não estava mais no localOs peruanos afirmaram à polícia que nenhum deles ficou preocupado porque acreditavam que o engenheiro tinha voltado para o carroDesse mesmo ponto, os dois peruanos seguiram em uma pequena trilha para saber se o caminho chegava a um rioMário Guedes teria decidido ficar à espera da duplaPouco mais de uma hora depois, então, os peruanos voltaram e também não encontraram Guedes
Os engenheiros peruanos dizem só ter percebido que os brasileiros tinham desaparecido quando um deles ligou para Luís Ugaz, responsável pela logística do trabalho de campoUgaz levou água e cerveja aos peruanos e, perguntado sobre os brasileiros, disse que não os havia visto na trilhaPor volta das 14h, o grupo, então, decidiu se separarUgaz subiu a estrada e os engenheiros peruanos seguiram em direção ao carro.

Plantação de arroz em Jaen, Norte do Peru - Foto: Paulo Henrique Lobato/EM/D.A/PressOutro suspeito No caminho de volta surge Juan Zorrilla BravoEle apareceu de uma pequena estrada abandonada e se ofereceu para ajudarAos investigadores, um dos engenheiros peruanos disse que o local de onde o camponês saiu era próximo ao ponto onde os corpos foram encontrados, fora do caminho principal, e que percebeu uma relação de amizade entre Zorrilla e SánchezPoliciais chegaram à noite ao local para ajudar nas buscas e, segundo os depoimentos, Juan Zorrilla indicou erradamente um dos caminhos.

Os corpos só foram achados na manhã de quarta-feira, em avançado estado de decomposição numa estrada abandonada em direção ao Rio MarañonA necropsia nos corpos realizada no Peru constatou edema cerebral e edema pulmonar, o que reforçou entre familiares a suspeita de envenenamento, que pode provocar esses inchaçosNovos exames serão realizados no Peru e em Belo HorizonteA promotora peruana Mariela Gurreonero não descarta envenenamento“É possível que (a morte) seja por alguma substância”, disse“Mas esperamos resultados dos exames”, acrescentou(Colaborou Paula Sarapu)