Entre o fim do século 19 e as primeiras três décadas do século 20, em Itabira do Mato Dentro, hoje Itabira, Região Central de Minas, um homem chamado Brás Martins da Costa – latinista, jornalista, tabelião, juiz de paz e, sobretudo, um boa-praça – tinha uma câmera Pony Premo. Com essa máquina fixada num tripé, equipamento pesado e difícil de ser carregado – mas principalmente com muitas ideias na cabeça e uma sensibilidade incomum –, ele foi fotografando, com paciência e engenho (a produção mais intensa aconteceu entre 1895 e 1910), o cotidiano da cidade, que na época tinha pouco mais de 7 mil habitantes na área urbana. Tirou retratos de tropeiros se preparando para mais uma jornada sertão adentro, de enterros de gente grande e de anjinhos, de fiéis levantando uma pesada cruz, de procissões nas tortuosas ruas de pedra e casario antigo, de casamentos, bandas de música e até de Carlos Drummond de Andrade, então com dois anos, e que tempos depois iria correr o mundo, tornando-se a sua obra mais famosa.
Ao morrer, em 1937, com 71 anos de idade, vítima de uma fulminante ataque cardíaco, o “Tio Brás”, como era carinhosamente chamado em Itabira, onde todo mundo o conhecia, havia deixado para a posteridade um precioso acervo com cerca de 350 negativos. Em 1982, depois de terem sido disponibilizados pela família, começaram a ser pesquisados pelo jornalista Robinson Damasceno Reis, pelo engenheiro Altamir José de Barros e pela historiadora Mariza Guerra de Andrade. O resultado do trabalho, feito com dificuldade na época, foi a publicação, no mesmo ano, do livro No tempo do Mato Dentro, do qual Drummond gostou tanto que escreveu o poema “Imagem, terra, memória”, com o qual saúda o fotógrafo: “Vai-me guiando Brás Martins da Costa/Sutil latinista/fotógrafo amador/repórter certeiro/preservador da vida em movimento./Vai-me levando ao patamar das casas/ao varandão das fazendas/ao ínvio das ladeiras/à presença patriarcal de seu Antônio Camillo...”.
Passados 30 anos da sua publicação, o livro, agora com o nome Retratos na parede, ganha uma nova edição, pela Editora Autêntica, e vem com 250 fotografias, além do poema de Drummond, numa perfeita sintonia com a obra de Brás Martins da Costa. De acordo com a editora, todos os negativos, depois de digitalizados, foram também higienizados, para que continuem em bom estado de preservação.
Serviço
Retratos na parede, de Brás Martins da Costa, organização de Altamir José de Barros e Robinson Damasceno, coordenação editorial de Mariza Guerra de Andrade, Editora Autêntica, 176 páginas, R$ 79, lançamento dia 18, às 19h, no Crea-Cultural, 1º subsolo, Avenida Álvares Cabral, 1.600, Santo Agostinho. Informações: (31) 3222-6819.
LINHA DO TEMPO
1866: Brás Martins da Costa nasce na Fazenda do Rosário, em Bom Jesus do Amparo. Era filho do guarda-mor Custódio Martins da Costa e de Anna Cândida Teixeira da Motta
1895: De posse de uma câmera Pony Premo , o fotógrafo trabalha com intensidade, documentando, com suas fotos, toda a sociedade itabirana da época
1900: Brás Martins da Costa fotografa Carlos Drummond de Andrade, então com dois anos de idade. Essa se tornaria a sua foto mais famosa, hoje conhecida em várias partes do mundo
1910: Brás Martins da Costa, em Itabira, foi um dos mais entusiasmados cabos eleitorais de Ruy Barbosa na sua campanha para a Presidência da República
1937: Às 10h do dia 12 de janeiro, Brás Martins da Costa morre em Itabira, que chora a perda do filho ilustre
1982: Suas fotografias são reunidas no livro No tempo do Mato Dentro,e a respeito Carlos Drummond Andrade, escreve o poema “Imagem, terra, memória”
2012: Trinta anos depois de ter sido publicado, agora com o nome de Retratos na parede, o livro com as fotografias de Brás Martins da Costa ganha uma nova edição, pela Editora Autêntica