Jornal Estado de Minas

Entidade busca em Minas padrinhos para crianças que vivem na pobreza

Fundo que procura apoio para famílias mineiras diz que participação de estrangeiros cai com percepção de que país melhorou e tenta sensibilizar brasileiros a apadrinhar

Clarisse Souza
Ayrton e Tereza acompanham menino do Jequitinhonha desde 2003 - Foto: Edesio Ferreira/EM/D.A Press

Dentro de uma pasta, o aposentado Ayrton Alves Passos armazena dezenas de cartasAcumuladas há 10 anos, as correspondências vêm de um lugar onde o senhor de 73 anos nunca visitou: a pequena Francisco Badaró, cidade com pouco mais de 10 mil habitantes localizada no Vale do JequitinhonhaCom uma letra infantil, as cartas enviadas pelo menos seis vezes ao ano contam a rotina de um menino – hoje um rapaz de 19 anos – que teve de conviver com uma situação de extrema pobreza na infância no semi-árido mineiroA relação entre o aposentado, que mora no Bairro Cidade Nova, Região Noroeste de Belo Horizonte, a mulher dele, Tereza, e o menino W.A.Jé mediada pela Child Fund Brasil, instituição que promove o apadrinhamento de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social em mais de 800 comunidades do paísSão cerca de 140 mil pessoas beneficiadas no Brasil, mas, segundo a fundação, o número de colaboradores vem diminuindo desde 2008

De acordo com o gerente de Mobilização de Recursos da instituição no Brasil, Maurício Bianco, a explicação para a queda no número de contribuintes está na diminuição de estrangeiros interessados em investir em ações sociais no país“Desde 2008, o Brasil tem demonstrado um bom desempenho econômico, o que melhorou a imagem do país no exterior”, explica BiancoEle esclarece que a imagem de uma economia forte fez com que os padrinhos estrangeiros – maioria entre os colaboradores da instituição – voltassem os olhos para países em pior situação“O problema é que apesar de nossa economia crescer, ainda temos milhões de crianças e adolescentes em situação de pobreza extrema, com famílias vivendo com até R$ 70 por mês”, ressalta o gerente

Em contrapartida, os recursos dos colaboradores brasileiros não compensam a queda nas doações estrangeiras
“De cada 50 mil apadrinhamentos, 40 mil são estrangeirosO brasileiro é muito solidário em situações de catástrofe, mas ainda não adotou o hábito de colaborar financeiramente com projetos sociais de forma permanente”, afirmaA organização conta com a contribuição mensal de R$ 52 por padrinho, que é direcionada a projetos sociais dos quais as crianças participamCom as doações, os apadrinhados podem ter acesso a programas de educação, saúde, assistência social ou outras áreas que demandem atençãoCom acompanhamento de técnicos, os colaboradores podem se corresponder por meio de cartas e telefonemas ou visitar as crianças que decidiram ajudar

PREOCUPAÇÃO Ayrton, por exemplo, viu Wuma só vez, quando o garoto visitou a capital em 2006, mas eles nunca deixaram de se corresponderNo conteúdo, demonstrações de preocupação com o rendimento escolar e com a saúde do jovem revelam que a relação com o garoto é de afeto e cuidadoO caminho dos dois se cruzou em 2003Hoje, Ayrton se alegra ao ser apontado como um dos responsáveis por tornar a vida daquele menino melhor
“Para mim é muito agradável poder participar da história deleEstou sempre acompanhando o que ele faz e me preocupo com o rendimento escolarEscolhi apadrinhá-lo e o vejo como parte da minha família.”

A universitária Ana Matoso, de 20, também se rendeu ao apadrinhamentoMuito apegada a crianças, decidiu apadrinhar uma menina de 5 anos no Natal de 2012 por meio do Centro de Voluntariado de Apoio ao Menor (Cevam)Gostou tanto da garota – que está sob medida protetiva – que decidiu buscá-la permanentementeAgora ela leva a menina para casa nos fins de semana e em datas comemorativas“É muito gratificante”, considera a jovem

CONTATOS
Centro de Voluntariado de Apoio ao Menor (Cevam): www.cevambrasil.com.br

Programa Família Acolhedora: (31) 3916-8336 ou www.padrinhonota10.com.br

Child Fund Brasil: www.childfundbrasil.org.br