O desrespeito às leis na Praça do Papa, no Bairro Mangabeiras, Região Centro-Sul de Belo Horizonte, é mais grave nas madrugadas dos fins de semana, mas também é preocupante durante o diaAnteontem à tarde, por volta das 16h, a administradora de empresas Patrícia Nogueira, de 33 anos, desistiu de lanchar com o sobrinho de 8 anos, incomodada com um grupo de jovens consumindo drogas no local“Pensei que eles iriam ver com eu estava com uma criança, mas nadaAí, desisti e fui embora”, reclama PatríciaReportagem do EM flagrou vários jovens usando drogas livremente no local.
Para os moradores, o que a administradora de empresas presenciou é apenas um pequeno exemplo do que ocorre à noiteSegundo as reclamações de quem reside nas proximidades, o tráfico de drogas é livre e, além do barulho dos carros, motocicletas, skates, carrinhos de rolimã e de um triciclo conhecido como drift trike, há prática de sexo e as pessoas usam os muros e portões das casas para defecar e urinar.
Quem reclama pede para não ser identificado, por não saber com quem está lidando: “Morro de medoEles vêm de longe para vender drogasUma disputa danadaUm quer vender, o outro quer vender tambémÉ um povo esquisitoTem sexo explícito”, reclama uma senhora
A reclamação de falta de policiamento é unânime“Não temos nem o direito de dormir direitoNem tampão de ouvido resolve com tanto barulhoJá cansei de chamar a PM e ela não vemNem a Guarda Municipal”, disse a moradora, que defende a instalação de uma base móvel da polícia na localOutra mulher conta que nos fins de semana chegam vans lotadas e a situação fica pior“Uma verdadeira baderna
Recentemente, ela conta que um rapaz fazia sexo com uma mulher no carro e desceu para agredir um homem idoso que os observava“Quando a PM passa, todo mundo sai correndo”, comentou“É claro que é praça é um espaço público, é de todos, mas tem que ter respeito”, disseA falta de iluminação contribui com a situação, segundo ela.
ATÉ DE MANHà A mulher diz que o incômodo vai até de manhã“Minha faxineira chega às 6h e é assediada pelos grupos que estão bebendoEles fazem o que queremQuebram garrafas, jogam latinha no chãoSão perigosos demais, diz a moradoraOutra confirma as denúncias dos motoristas das linhas de ônibus que servem o bairro: “Entram nos coletivos sem pagar e surfam no teto do veículo em movimentoSemana passada, eles assaltaram o motorista de um carro, às quatro da tarde”, contou“É uma terra sem leiNinguém olha”, disse.
“Eles andam em alta velocidade de madrugada e o ronco do motor é de deixar qualquer um doidoAbrem o porta-malas dos carros e colocam a música no mais alto volume, vendem cerveja e sanduícheNão temos segurança nenhuma”, disse um morador, que contratou segurança privada e instalou várias câmeras de vigilância pela casa
O sonho do morador é que a praça volte a ser frequentada por famílias e crianças“É uma beleza de ver isso, mas não é o que está acontecendo”, lamentaA administradora Patrícia, que deixou de lanchar com o sobrinho por causa do consumo de drogas, decidiu levar o garoto para pedalar na Praça da Liberdade“Não dá mais para ficar na Praça do Papa”, lamentou.
PRINCIPAIS RECLAMAÇÕES DOS MORADORES
>> Venda e consumo de drogas na região
>> Abuso de velocidade de motoristas e motociclistas, pondo em risco a segurança de todos
>> Barulho excessivo dos carros e motos com escapamentos adulterados
>> Bicicletas adaptadas com rolimãs usando a Avenida Agulhas Negras como pista a partir das 22h
>> Jovens surfando em teto de ônibus das linhas 4103 e 4108
>> Falta de banheiro e odor de urina em vários pontos da praça
Encontros pela internet
Os encontros de grupos que promovem baderna, vendem e usam drogas na Praça do Papa são marcados pelas redes sociais na internet, segundo o comandante do 22º Batalhão das PM, tenente-coronel Alfredo VelosoO militar garante que o policiamento no local é rotineiro“Às vezes, você passa lá num horário e não tem ninguémDe repente, chegam grupos de 20, 30 e 40 pessoasEles se comunicam mandando mensagens por telefone quando a polícia chegaAlguém fica na parte de baixo da praça monitorandoQuando aparece uma viatura, ele manda mensagensAí, fica todo mundo bonzinho e eles abaixam o som dos carrosPor isso, colocamos policiamento velado”, disse o militar“Quando a PM sai para fazer o patrulhamento no bairro, essas pessoas acabam aproveitando a oportunidade”, comentou.
Há duas semanas, segundo o tenente-coronel, o policiamento na Praça do Papa vem sendo reforçado“Fizemos uma operação lá, com várias abordagens e multas por estacionamento proibido e por som altoVeículos e motos com documentação irregular foram apreendidos”, disse“Sexta-feira e sábado são os dias que eles mais incomodam”, disseOutro problema, segundo o militar, são os vendedores ambulantes“A fiscalização da prefeitura estava indo até as 23hOs ambulantes fechavam os carrinhos e voltavam de madrugada”, disse o militar
Barulho insuportável
O ponto de maior concentração dos grupos na Praça do Papa é no fim da Rua Juventino DiasInicialmente, eram apenas os praticantes do drift trike, um triciclo feito em aço, com rodas de bike e kart, que se reuniam na áreaRecentemente, vieram os carros e motocicletas com som alto e escapamentos mexidos, fazendo arrancadas, andando na contramão e executando outras manobras perigosasEssa movimentação começou há aproximadamente cinco meses, o que tem importunado os moradores do entorno.
Alexandre Soares, de 26 anos, praticante do drift trike, faz parte de um grupo de adeptos do esporte, que tem na praça e na Avenida Agulhas Negras uma pista desafiadora para seus veículos“Não podem nos culpar pelo barulho de motos com escapamentos sem miolo, carros com sons altos e pessoas que vem para praça para aprontar confusãoO drift trike não faz tamanho barulho”.
Atraídos pelas manobras dos drift trike, muitos jovens ficam ao longo da Rua Juventino Dias Não é raro um carro com o som altoAo lado de uma Palio Weekend, cujo o motorista ligou o som amplificado a todo volume, Alexandre demonstra insatisfação“Não há necessidade dissoPor certo que a música nesse volume incomoda os moradores que, quando chegam na janela, imaginam que temos algo com issoE então a polícia é chamada e vem direto na gente”, reclamou.
Na sexta-feira, militares do 22º Batalhão da PM fizeram operação na Avenida Agulhas NegrasDezenas de adolescentes foram abordados nos ônibus, alguns deles surfando no tetoO tenente Fernando Braga, que comandava a ação, disse que diariamente duas viaturas fazem o policiamento na áreaE que de quinta a domingo, à noite e de madrugada, serão intensificadas de operações para combater os abusos, com o uso inclusive de militares à paisana