Para os adeptos dessa corrente budista moderna, bem como das outras vertentes, os preparativos vão culminar em 16 de abril, que cairá em uma quarta-feira, tido como o dia mais importante do ano, em que se comemora a iluminação de Buda. “Nessa ocasião, depois de muita meditação, Buda se sentou embaixo de uma árvore e prometeu que dali não sairia enquanto sua mente não se libertasse de todos os sentimentos negativos. Para sua surpresa, a partir do dia seguinte ele já deixou de ter sofrimento e passou a experimentar somente a felicidade”, explica Nascimento. Ele lembra, porém, que não é tarefa fácil atingir tal grau de plenitude e de paz. “A mente tem de estar voltada a contemplar argumentos válidos, como buscar sempre a bondade nas outras pessoas”, completa.
Já os judeus vão celebrar juntos nas sinagogas no próximo domingo, em 9 de abril, o jantar de confraternização de Sêder, que remete à saída dos hebreus da escravidão do Egito rumo à liberdade, conduzidos por Moisés.
Longe dali, no alto do Bairro Mangabeiras, perto da Praça do Papa, a comunidade islâmica já havia se reunido mais cedo, desde o meio-dia, na única mesquita de Minas Gerais, para rezar a tradicional oração da sexta-feira. Para a celebração, os homens tiram os sapatos e se ajoelham, encostando a cabeça no chão, em sinal de reverência às palavras do sheik de origem marroquina Mokhtar El Khal, líder espiritual dos muçulmanos de Belo Horizonte. Mais distante estavam as mulheres, com véus cobrindo os cabelos, incluindo uma delas, que deixava entrever somente os olhos. “Acho bonito o modo como os muçulmanos são muito certinhos e honestos com as coisas. Mas ainda é tudo novo para mim”, diz a esteticista Silvana de Almeida Lala, que cogita se reverter à nova religião para se casar com um rapaz do Egito. Já a amiga dela Leda Fernandes Pessoa, católica, esteve presente à mesquita apenas por curiosidade. “Masha Allah!”, cumprimentavam-se entre elas, em palavras que, na tradução do árabe, significam “benza-o Deus!”
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DAS TREVAS PARA A LUZ “Também gostamos de ganhar ovos de chocolate, mas acreditamos que a época da Páscoa significa a passagem das trevas para a luz, em que Jesus Cristo nos garante uma nova vida”, disse o pastor Jorge Linhares, durante o culto da última quinta-feira na Igreja Batista Templo Getsêmani, na Região da Pampulha. Ele explica que o nome Getsêmani vem do grego e significa “jardim de Deus, lagar do azeite”.
Com sua bela voz, a cantora gospel comoveu a plateia dando depoimento sobre o milagre ocorrido com ela em 2010, ao despertar depois de 52 dias em coma, duas paradas cardíacas, inúmeras transfusões de sangue, 10 cirurgias e uma infecção generalizada. O quadro se desencadeou no oitavo mês do filho José Vittorio. Ela iria se casar mais tarde com o pastor da linha batista Felipe Heiderich. “Silencia, Senhor, as minhas ansiedades e os meus medos. Eu quero ouvir o teu sussurro”, orava a moça, fervorosamente, sendo seguida em coro pelos participantes do culto.
Na Casa do Divino Espírito Santo das Almas, no Bairro São Geraldo, os adeptos da umbanda também se reuniram na última quinta-feira, entrando em vigília madrugada adentro. Na cerimônia, fechada ao público, ocorre a consagração dos elementos e das ervas destinadas aos banhos e limpezas energéticas. Já na sexta-feira, permaneceram recolhidos em suas casas, muitos deles preservando o jejum de carnes vermelhas e de sexo. “Antes de sermos espíritas, nascemos originalmente no contexto social católico. Não deixamos de acreditar em Jesus Cristo. Para nós, a verdadeira rainha é Nossa Senhora do Rosário”, conta o pai de santo Marcelo de Oxossi, esclarecendo o sincretismo entre as religiões .
Nos terreiros de candomblé, comemora-se em abril a grande festa de Ogum, organizada pelos filhos de santo e pelos donos das casas. “As datas mudam de acordo com o calendário das casas. Na nossa, irá ocorrer no terceiro fim de semana, em 18 de abril”, revela a mãe de santo Eliane de Oxum. Segundo ela, nos 16 dias seguintes os candomblecistas seguirão os preceitos sagrados, mantendo o jejum e as vestes brancas. “É pena que o conhecimento vindo da África esteja se perdendo, porque se trata de uma religião maravilhosa, muito rica em detalhes”, observa ela.
Palavra de especialista
Paulo Agostinho Nogueira Baptista, professor de mestrado do curso de ciências da religião da PUC Minas
Bricolagem religiosa
“Nas décadas de 1960 e 1970, houve mudanças no país, com migração da zona rural para os centros urbanos. Naquela mesma época, chegaram ao Brasil muitos missionários europeus e norte-americanos, que começavam a fazer pregações transmitidas pela tevê. Passadas décadas, vemos hoje uma bricolagem religiosa – espíritas que frequentam igrejas e vice-versa – mostrando que falta uma educação para a fé, de pedagogia e de formação de grupos. Curiosamente, nunca se estudou tanto teologia, por parte dos leigos, indicando que as pessoas querem se informar mais.”