O designer Marcelo Hermeto, de 41 anos, mora na parte alta da Rua Matipó, no Bairro Santo Antônio, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte. A vista da cidade que tanto encanta o rapaz também arranca suspiros em quem o visita. “É uma vantagem para quem reside aqui.” Mas também há desvantagem: a via, bastante íngreme, exige grande esforço de quem necessita subi-la a pé. A vida nas ladeiras da capital é feita, literalmente, de altos e baixos.
A inclinação máxima na Matipó é de 54%, segundo o Mapa de Declividades de Belo Horizonte, elaborado pelo Instituto de Geociências da Universidade Federal de Minas Gerais (ICG/ UFMG) em parceria com o Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP Brasil) e BHTrans. Na última terça-feira, o ICG divulgou o mapa, mas os pesquisadores encontraram algumas imperfeições que serão corrigidas nos próximos meses.
Leia Mais
Ladeiras de Ouro Preto são tomadas por tapetes nos 300 anos da Irmandade do RosárioDesfiles nas ladeiras de Ouro Preto vão ser vigiados por câmeras do Olho VivoDesfile de artistas e populares lota ladeiras de TiradentesMas os dados permitem muito mais. Permitem entender, por exemplo, o porquê de alguns imóveis não encontrarem compradores com tanta facilidade.
Ele faz caminhadas diárias na Avenida Prudente de Morais. Para chegar lá, Marcos descia a Matipó a pé. Depois do exercício físico, encarava a ladeira na volta para casa. “Eu chegava aqui em cima com a língua para fora. Decidi mudar. Agora, para fazer as caminhadas, vou e volto de carro.
Caminhões também não sobem ou descem a Rua Geraldina de Almeida, no Bairro Serra, onde a inclinação máxima é de 50%. Resultado: os caminhões da Superintendência de Limpeza Urbana (SLU) também não transitam na via. “A gente coloca um lixo na caçamba de outra rua”, conta Paulo Carvalho, de 20, que ganha a vida num lava a jato da região. Ele não dispensa a moto para descer e, principalmente, subir a via em que mora desde que nasceu.
Do alto, porém, ele diz que a vista é maravilhosa. Mas também é de lá que muitos moradores já testemunharam carros que não conseguiram subir a rua, nem com a marcha mais lenta, e derraparam para trás. “Teve um que bateu na grade daquela casa. Deveria ter uma placa de sinalização informando do perigo”, recomendou o moço.
O trecho que mais se parece um tobogã da Avenida Santa Terezinha, no Bairro Taquaril, na Região Leste, conta com o aviso.
“Subo a rua escorando nos muros. Quando chove, a pista fica escorregadia para carro e para quem passa a pé. O pai de minha filha, quando a levo no posto de saúde, que fica na parte alta do bairro, precisa até me empurrar. Do contrário, volto para trás”, conta a adolescente, com um sorriso.
Dona Carolina Santos, de 30, sabe bem o que é subir e descer diariamente o tobogã da Santa Terezinha: “Morro abaixo, todo santo ajuda. Já morro acima... Quem dera se houvesse uma escada rolante, né? Eu subo de uma vez só, porque se eu parar para descansar fico com preguiça e custo a chegar no alto”.
RANKING A revisão do mapa deverá ocorrer até o fim do ano, quando as informações sobre as declividades mínima, máxima e média de 51.713 trechos das ruas e avenidas da capital permitirão aos pesquisadores elaborarem o ranking da inclinação viária na cidade.
O estudo divulgado quarta-feira apurou que a declividade média de BH é 12,51%. Os trechos mais suaves estão na Pampulha, onde há a menor média (8,69%). A Centro-Sul lidera o ranking entre as regionais (16,17%).