Jornal Estado de Minas

Belo-horizontinos comemoram Dia do Pão de Queijo presenteando desconhecidos com a quitanda

Dona de café, Rosimeire avalia estender campanha até o fim do mês - Foto: Beto Novaes/EM/DA PressA gentileza ganhou sabor mineiro. Os belo-horizontinos foram surpreendidos ontem com a oferta de pães de queijo gratuitos em cafés da capital. A iguaria era deixada como mimo por gente anônima, que aproveitou o Dia do Pão de Queijo para o gesto de afeto. A campanha, que recebeu o nome de Pão de Queijo Amigo, foi proposta pela Frente da Gastronomia Mineira e recebeu a adesão de 29 pontos, onde as pessoas podiam ganhar ou deixar pago para o próximo cliente. Para participar basta aderir ao círculo virtuoso: o cliente deixa um pão de queijo pago. Quem recebe faz o mesmo e assim sucessivamente.

Foi o que fizeram as amigas Mayra Coraspe, de 30 anos, e Aninha Ribeiro, de 35. Na tarde de ontem, elas pediram café coado na hora para acompanhar a delícia mais famosa de Minas. No Dia do Pão de Queijo, elas fizeram questão de guardar minutos da tarde para apreciar a iguaria.

“O meu lema de vida é espalhar gentileza. O mundo pode ser melhor a partir da nossa ação”, afirma Aninha, que deixou um pão de queijo pago para o próximo cliente que chegasse.

Antes de saborear o primeiro pedaço do pão de queijo que havia acabado de sair do forno, elas tiraram fotos para a conta do Instagram (@pratiquegentileza) que Aninha mantém, onde divulga ações de gentileza. Mayra, que é biomédica, lembra que, apesar de o pão de queijo ser um lanche tentador e prático, ela não come todos os dias. “Sempre que tenho vontade, eu como. Mas por uma questão de educação alimentar não consumo diariamente”, afirmou. Para ela, a campanha deveria continuar, pois é uma oportunidade de colocar em prática a gentileza no mundo. “É um carinho gostoso”, afirmou.

As fornadas de pão de queijo aumentaram, na tarde de ontem, na Pão de Queijaria, restaurante na Savassi especializado no preparo da iguaria.
“Assamos fornadas com 48. A qualquer hora que o cliente chegar, terá uma fornada saindo. Nunca vai encontrar pão de queijo frio e velho. Sempre será fresco e bem quentinho”, afirmou a barista Layanne Costa Pereira. O número de unidades vendidas diariamente, 500, comprova a paixão dos mineiros pela quitanda, que lá recebe recheios variados doces e salgados.

A proprietária do café Mr. Black, no Bairro Santo Agostinho, na Região Centro-Sul, Rosimeire Vieira, comemorou o sucesso da campanha. “Estamos pensando em estender a campanha para o mês todo”, afirmou. Na tarde de ontem, os clientes deixaram a iguaria paga, acompanhada de bilhetes carinhosos: “Olá! Que seu dia seja tão gostoso quanto este pão de queijo que deixo para você!”

A campanha foi inspirada no livro The Hanging Coffee, do tcheco Jan Burian, em que o personagem toma um café e, ao pagar a conta, deixa dois cafés pagos: o seu e um pendente para o próximo cliente.
“Foi inspirado no café compartilhado, ideia que viralizou no mundo inteiro. Em vez do café, pensamos que poderia ser um pão de queijo”, diz Márcia Martini, da secretaria- executiva da Frente Mineira de Gastronomia, que foi criada há dois anos com objetivo de divulgar e promover a culinária mineira, com seus modos de fazer e ingredientes. Márcia comemorou a adesão dos clientes e, para o próximo ano, pretende estender a ação para todo o estado.

Saiba mais

Iguaria com a marca de Minas

A origem do pão de queijo não é precisa, mas está relacionada  à abundância dos ingredientes em Minas. “Podemos dizer
que nós, mineiros, fomos os primeiros a fazer”, diz Márcia Clementino Nunes, co-autora, com Dona Lucinha, do livro História da Arte da Cozinha Mineira. Ela lembra que há relatos de iguarias parecidas na América do Sul. O pão de queijo tem antepassados: o biscoito de polvilho frito, o papa ovo e o biscoito de goma. Márcia reforça que a receita evoluiu à medida que os ingredientes  se tornaram abundantes. “A mandioca é abundante em Minas e no Brasil. Depois, a gordura de porco. Os ovos vêm com a formação dos terreiros.  A massa passa a ser sovada com leite,quando o gado se estabelece.
E o grand finale é a colocação do queijo”.
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