A situação de abandono, inclusive sem transporte público para ligar a comunidade do Córrego do Feijão ao Centro de Brumadinho, só deve passar mesmo com o fim dos decretos de isolamento social. Desde 23 de março, a comunidade, que fica a 12 quilômetros do Centro da cidade, não tem mais meios públicos de transporte, uma vez que a mineradora Vale removeu as três linhas existentes, com viagens feitas por seis veículos de transportes de passageiros, como mostrou na edição de ontem com exclusividade a reportagem do Estado de Minas.
O argumento é que o transporte promoveria aglomeração de pessoas e por isso foi interrompido pela empresa. O Córrego do Feijão foi a comunidade mais arrasada pelo rompimento da Barragem B1 da Mina Córrego do Feijão, o desastre com ruptura de barramento mais letal do Brasil, com 270 mortos, sendo que 11 corpos ainda permanecem desaparecidos.
Com isso, seguem os dramas de quem ainda não abandonou a comunidade arrasada e sofre com a falta de meios de transporte. Como o da dona de casa Maria Gonçalves Braga, de 82 anos, que tem de encontrar carona, muitas vezes debaixo de chuva, para ver os parentes quando sai de Casa Branca, um outro bairro do município, onde ela mora e que fica a 13 quilômetros do Córrego do Feijão.
Outra que reclama do que considera um “descaso” é a ajudante de serviços gerais Claudineia Carvalho Oliveira, de 36 anos. Ela e a filha, que sofre de bronquite não podem comprar nada no Córrego do Feijão, porque os comerciantes fecharam suas portas. Para ir a Brumadinho, a 12 quilômetros de distância, precisariam contratar um táxi. O custo do transporte individual tem sido de cerca de R$ 70 e é disso que dependem para fazer supermercado, comprar medicamentos e outros artigos de primeira necessidade dos quais a comunidade não mais dispõe. O transporte era realizado a cada duas horas nos trechos do Córrego do Feijão a Brumadinho (três ônibus), Casa Branca a Brumadinho (dois ônibus) e Cantagalo a Córrego do Feijão (uma van).
A Prefeitura de Brumadinho reiterou que o decreto que instituiu o isolamento social e resultou no fechamento dos comércios que resistiam no Córrego do Feijão foi necessário. Em nota, a administração municipal declarou que o Decreto 54 segue as orientações do governo do estado, Ministério da Saúde e OMS. “Determina o fechamento do comércio, exceto serviços essenciais, como mercados, mercearias, padarias, açougues, farmácias. Lanchonetes e restaurante, apenas para entrega. É uma medida dura, mas importante neste momento de transmissão do coronavírus”, informou.
Contudo, a administração municipal discorda da suspensão do transporte. “Quanto ao transporte, a Vale, responsável pelo serviço, cortou justamente pela aglomeração de pessoas dentro dos ônibus. A prefeitura já notificou a Vale para tentar pensar em uma alternativa”.
A mineradora Vale informou que “o cuidado com as famílias já afetadas pelo rompimento da barragem I, em Brumadinho, é o principal objetivo das medidas adotadas pela Vale. A retomada do transporte de pessoas foi uma das primeiras ações com esse fim. No entanto, com o início da pandemia da COVID-19 e seguindo as recomendações das autoridades de saúde de distanciamento social, o mesmo foi interrompido em 23 de março. A Vale ressalta que o mesmo será retomado assim que o cenário de saúde pública for normalizado”.