Jornal Estado de Minas

Oposição pressiona governistas pela substituição temporária de Chávez

Rodrigo Craveiro
Brasília – O mistério em relação à saúde do presidente venezuelano, Hugo Chávez, ganhou força ontem, com a chegada a Havana de Adán Chávez, o irmão mais velho, e de Diosdado Cabello, presidente da Assembleia Nacional. A senadora e primeira-dama do Uruguai, Lucía Topolansky, afirmou ao portal UNoticias que o estado de Chávez é "muito delicado e bastante imprevisível". As informações teriam sido repassadas a ela por Julio Chirino, embaixador da Venezuela em Montevidéu, e por Ariel Bergamino, representante uruguaio na ilha socialista. Segundo Lucia, seu marido pretendia visitar o colega, mas foi aconselhado a não viajar, porque "não existe possibilidade de vê-lo". Com o governo da Venezuela praticamente acéfalo, a oposição intensificou a pressão sobre os chavistas e propôs a substituição temporária de Chávez, que trava uma batalha contra o câncer.
"Nossa proposta não implica uma troca de presidente, mas sua substituição temporária, como determina a Constituição, de modo que o país tenha continuidade", defendeu Ramón Guillermo Aveledo, secretário-executivo da Mesa de Unidade Democrática (MUD), citado pelo jornal venezuelano El Nacional. Ao assegurar que a oposição não pretende assaltar o poder, Aveledo alertou que a tensão no governo tem causado uma distorção. "Na tarefa de demonstrar quem seria o melhor sucessor, estão se esquecendo do fato de que este é um país muito maior do que o pequeno círculo de poder", declarou, referindo-se ao vice-presidente Nicolás Maduro, que adiou o retorno à Venezuela e decidiu permanecer em Havana por tempo indeterminado.
O prefeito de Caracas, António Ledezma, defende a criação de uma comitiva especial – formada por parlamentares, governadores e por ele próprio – para visitar o hospital Cimeq, em Havana, e verificar a condição clínica de Chávez. "Não estou pedindo permissão para ir a Cuba. Creio que temos direito de ir até lá e ver o que se passa. (…) Já basta de mistérios. A Venezuela não é uma colônia de Cuba", criticou.
O médico venezuelano José Rafael Marquina garantiu em entrevista que Chávez segue em estado crítico e irreversível, mantido vivo com a ajuda de aparelhos. O jornalista Nelson Bocaranda, colunista do diário El Universal, avalizou a versão de Marquina e explicou que Adán Chávez foi chamado à ilha por Rosa Virginia e por Rosinés, filhas do presidente, para ajudar a decidir sobre o desligamento das máquinas. Segundo ele, Chávez não responde a qualquer tratamento.
Sob a condição de anonimato, uma fonte diplomática venezuelana classificou de "rumores" as informações difundidas por Bocaranda e por Maquina. Ela contou que Chávez apresenta problemas respiratórios, mas está consciente. "O estado de saúde do presidente é delicado e requer cuidado, pois qualquer descuido pode torná-lo crítico", explicou. De acordo com a mesma fonte, Cabello, Maduro e a cúpula chavista debatem em Havana se apresentam o pedido de ausência temporária de Chávez. "Isso daria ao presidente 90 dias para ver se ele se recupera. Existe a possibilidade de ele ser conservado como uma espécie de mentor político. A Assembleia Nacional decretaria a falta absoluta de Chávez e ele funcionaria como um assessor e um símbolo, assim como Fidel Castro", comentou. "É preferível um Chávez vivo e apoiando o governo a um Chávez exercendo o poder e se desgastando com a reaparição do câncer." Marquina reagiu ao "desmentido" com a seguinte frase: "Diplomatas sabem de diplomacia, mas não de medicina".