Jornal Estado de Minas

Visita ofuscada

Viagem de Obama divide as atenções com o grave estado de saúde de Nelson Mandela

Jorge Macedo - especial para o EM
Gabriela Freire Valente

Brasília – Barack Obama desembarcou na noite de ontem, na África do Sul, em meio a expectativas de um encontro entre o primeiro chefe de Estado negro dos EUA e Nelson Mandela, o ex-presidente sul-africano que se tornou ícone da luta contra o apartheid no país. Ainda a bordo do avião presidencial, o Air Force One, Obama afirmou que avaliaria a possibilidade de visitar Mandela e dispensou o registro do momento. "Não preciso de uma foto com ele. A última coisa que quero é ser inoportuno num momento de preocupação familiar", declarou. De acordo com a ex-mulher, Winnie Madikizela-Mandela, o ex-presidente apresentou "grande melhora, apesar de não estar clinicamente bem". Até o fechamento desta edição, Mandela seguia hospitalizado na cidade de Pretória e a visita de Obama permanecia uma incógnita.

O possível encontro é considerado um momento simbólico na agenda bilateral do líder norte-americano. Para Edgard Coly, especialista em política africana do Instituto Monterey de Estudos Internacionais, esta seria uma oportunidade para o presidente americano mostrar seu respeito a quem ele chamou de "herói para o mundo", na última quinta-feira. "Eles não têm muito a dizer um ao outro, mas (o encontro) seria um símbolo: ambos são a prova viva das mudanças que acontecem em seus países", avalia Coly.

Apesar das expectativa positivas, cerca de 200 manifestantes se reuniram em frente à Embaixada dos Estados Unidos, em Pretória, para protestar contra o imperialismo norte-americano mesmo antes da chegada de Obama à África do Sul. "Estamos aqui para dizer ao povo americano que esta guerra também é deles. O terror e a tirania que o seu governo espalha em todo um mundo é o mesmo terror e tirania dentro de suas fronteiras", declarou Buti Manamela, secretário nacional da Liga da Juventude Comunista. "Protestamos contra a visita do presidente Barack Hussein Obama", disse o imã Syed Sayeed, diante da multidão, formada por estudantes e sindicalistas. De acordo com o jornal USA Today, estuddantes da Universidade de Johannesburgo, onde o presidente deve discursar depois de ser homenageado no domingo, iniciaram uma campanha contra o uso de drones (aviões não tripulados) no Oriente Médio, com o slogan "Não, você não pode honrar Obama".

AGENDA A agenda oficial de Obama começa hoje, com a reunião entre ele e o colega sul-africano, Jacob Zuma. Ontem, o chefe de Estado americano esteve no Senegal e ainda deve fazer uma passagem pela Tanzânia. Esta é a segunda visita do presidente ao continente africano desde que assumiu o comando dos EUA, em 2009. O tour pela África tem os objetivos de estreitar as relações bilaterais e criar oportunidades para negócios. Antônio Jorge Ramalho, professor de relações internacionais da Universidade de Brasília (UNB), acredita que a visita "serve de contrapeso à presença da China na região". "A África já é um lugar estratégico para os EUA e a tendência é que isso aumente. Os americanos estão preocupados com a expansão chinesa na África há alguns anos e enxergam a China como ameaça", pondera Ramalho. O especialista da Unb ressalta que o desenvolvimento econômico e democrático do continente contribuiria com a absorção das demandas norte-americanas.

Na avaliação de Jendayi Frazer, ex-embaixadora dos EUA na África do Sul e membro do Conselho de Relações Exteriores, além de impulsionar os negócios de empresas americanas, a visita de Obama dará destaque às democracias africanas. "Ele escolheu esses três países para visitar por serem democracias estáveis. Acho que ele quer elevar a imagem da África como um lugar onde há países seguros e estáveis", disse ela. Edgard Coly sustenta que levará um "certo tempo" para os resultados econômicos provenientes da visita. Ele lembra que os EUA tiveram uma atuação tímida na África desde o fim da Guerra Fria e que, mesmo durante o primeiro mandato de Obama, a região ficou em segundo plano na agenda da Casa Branca. "Os africanos, que tinham grandes esperanças depois da eleição de um afrodescendente para a Presidência dos EUA, ficaram desapontados por não serem prioridade na gestão Obama. A viagem é mais para restabelecer os laços do presidente com a terra de seus ancestrais", explicou Coly.