A morte de John Fitzgerald Kennedy, aos 46 anos, interrompeu abruptamente a Presidência que durou apenas 1.036 dias, mas foi suficiente para transformá-lo em um dos mais influentes líderes dos Estados Unidos. Seu legado ultrapassa seu tempo de vida e, meio século depois de seu assassinato, em 22 de novembro de 1963, segue influenciando mentes e corações de eleitores e políticos. De republicanos a democratas, todos querem se associar à imagem do jovem presidente. Nem mesmo o atual chefe da Casa Branca, Barack Obama, passou incólume ao prestígio do famoso clã, que o avalizou em sua campanha de 2008. O Estado de Minas inicia, hoje, uma série de reportagens que ajudam a explicar como a trajetória do 35º presidente americano. A herança política, a morte prematura, a fascinação despertada por ele e pela família Kennedy e a “monarquia americana” continuam marcantes na sociedade norte-americana.
Relembre a história de JFK em fotos!
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Católico e ligado à família, Kennedy tinha opiniões controversas e sabia atrair os holofotesPolítica de JFK deu início ao fim da segregação racial nos EUAMandado de Kennedy foi marcado pela crise que quase levou o mundo a uma guerra nuclearFilho de ricos imigrantes irlandeses, seu casamento com a bela e elegante Jacqueline “Jackie” Bouvier Kennedy, de origem francesa, retratava o apogeu de uma era marcada pelo clima de autoconfiança de um Estados Unidos pós-guerra. A imagem da família feliz, porém, foi atropelada pelos relatos de casos extraconjugais do presidente.
TRAGÉDIAS A tendência, porém, segundo os especialistas, é que os fatos negativos sejam esquecidos e a lembrança positiva do político fique congelada na memória dos americanos. As circunstâncias da sua morte – Kennedy foi baleado na cabeça enquanto desfilava em um carro aberto em Dallas (Texas), ao lado de Jackie – e as outras tragédias que assolaram a família ajudaram a mitificar os Kennedy. Mesmo o crime cometido naquela tarde de sexta-feira continua alimentando teorias da conspiração.
Sua curta administração coincidiu com um dos mais conturbados períodos da história recente, a Guerra Fria. "Nesse período, a Terceira Guerra Mundial foi evitada pelo menos duas vezes: com a construção do muro de Berlim e com a crise dos mísseis em Cuba", assinala Thomas Whalen, especialista em Presidência dos Estados Unidos pela Boston University (Massachusetts) e autor de Kennedy versus Lodge: The 1952 Massachusetts Senate Race.
A liderança de Kennedy na crise dos mísseis foi crucial nesse que, para o diretor do Centro de História Presidencial da Southern Methodist University (Dallas), Jeffrey Engel, foi “o momento mais perigoso para a sobrevivência global”. “Kennedy mostrou-se um calmo, ainda que não perfeito, gestor de crises, conseguindo no final o que ele precisava – a retirada dos mísseis soviéticos de Cuba – a um baixo custo diplomático”, opinou Engel.
Mas talvez seu maior legado esteja mesmo dentro dos EUA. Em 1963, o país vivia uma ebulição sociocultural, com a segregação racial chegando ao limite. Sua atuação foi decisiva para a aprovação da Lei dos Direitos Civis, aprovada após sua morte (leia mais na página 19). A iniciativa de Kennedy abriu caminho para o país ter seu primeiro presidente negro, a primeira entre as várias conexões com Obama.
Nas conversas com os especialistas, não foram raros os momentos em que a fascinação por Kennedy ficou evidente. Um questionamento recorrente foi: “E se ele tivesse sobrevivido, como teria sido um segundo mandato?”. A pergunta, segundo os entrevistados, é irresistível aos olhos dos historiadores e da opinião pública norte-americana. “As pessoas se perguntam se, caso ele tivesse sobrevivido, as coisas teriam sido melhores” , afirma Whalen. “É interessante e marcante para mim, como historiador, quão duradoura é a atenção e o respeito que se tem pelo presidente Kennedy até hoje.”