Dois colaboradores do ex-presidente francês Nicolas Sarkozy foram detidos nesta terça-feira com base em uma investigação sobre fraudes no Ministério do Interior entre 2002 e 2004, informaram fontes ligadas ao caso.
Claude Guéant, ex-diretor do gabinete de Nicolas Sarkozy quando este era ministro do Interior, e Michel Gaudin, então diretor-geral da Polícia Nacional (DGPN), foram interrogados no Bureau Central de Luta Contra a Corrupção e Crimes Financeiros e Fiscais em Nanterre, revelaram as fontes.
De acordo com fontes da Justiça e com o advogado de Guéant, ambos já foram liberados.
O caso envolve suspeitas de malversação de fundos entregues ao Ministério do Interior para pagar investigações policiais.
Claude Guéant deve dar explicações sobre cerca de 10 mil euros mensais não declarados e incorporados a seu salário.
Guéant "lembrou que ele se limitou" a amenizar "as insuficiências das dotações orçamentárias dos funcionários", comentou seu advogado Philippe Bouchez-El Ghozi, referindo-se ao interrogatório.
"Ele não é acusado de absolutamente nada" e "se espanta pela maneira como ele é regularmente questionado", insistiu o advogado, acrescentando que seu cliente respondeu "exaustivamente à Justiça".
É a primeira vez na França que dois ex-responsáveis da polícia de alto escalão são detidos para interrogatório.
"As medidas para o interrogatório, no âmbito das quais os direitos de defesa são preservados, foram tomadas, visando às necessidades da investigação preliminar, que se segue, e que diz respeito às suspeitas de desvio de recursos públicos, cumplicidade e fraude", frisou o Ministério Público parisiense.
Os dois homens têm estreitas relações com o ex-presidente.
Claude Guéant, de 68 anos, era considerado "sua eminência parda" e seguiu Sarkozy até o Eliseu, onde assumiu o cargo de secretário-geral, antes de ocupar a pasta de ministro do Interior, em 2011.
Michel Gaudin, de 65, ex-chefe da polícia, é o atual chefe do gabinete de Nicolas Sarkozy, que dá crescentes sinais de querer voltar à vida política.
A promotoria de Paris havia iniciado, em meados de junho, uma investigação preliminar, após a publicação de um relatório revelando que "gastos com investigação e vigilância" foram entregues, na verdade, a Guéant.
Gaudin, chefe da polícia entre 2007 e 2012, esteve encarregado entre 2002 e 2004 da gestão dos fundos de investigação.
Segundo uma fonte ligada ao caso, outros dois ex-membros do gabinete de Nicolas Sarkozy no Ministério do Interior também receberam dinheiro destinado a investigações.
A entrega de dinheiro em espécie para a realização de investigações policiais foi suprimida pelo governo socialista de Lionel Jospin em 2002, mas acabou restabelecida entre 2002 e 2004 no Ministério do Interior, segundo o relatório da inspeção geral da administração e da polícia nacional (IGPN).
O atual ministro do Interior francês, Manuel Valls, anunciou o envio do relatório à Justiça.
Esse episódio acontece no momento em que aumentam os rumores, em especial de pessoas ligadas a Sarkozy, sobre seu possível retorno à política na eleição presidencial de 2017. Dois fatores estariam motivando essa volta: as pesquisas de opinião pública e a crise persistente de uma liderança política na direita.