Jornal Estado de Minas

Civis começam a ser retirados de cidade síria após 600 dias de cerco

Homs, cidade sitiada há 600 dias, vai receber ajuda humanitária. Governo sírio confirma que vai retomar negociações de paz com rebeldes

AFP
Homs, sitiada há 600 dias, foi bombardeada durante confrontos na Síria - Foto: Yazan Homsy/Reuters As crianças, os maiores de 55 anos e as mulheres de Homs começaram a deixar nesta sexta-feira esta cidade sitiada há 600 dias pelas tropas do regime sírio, que, por sua vez, confirmou sua participação nas próximas negociações com a oposição. A retirada dos civis que desejarem sair desta cidade, considerada a capital da revolução contra o regime de Bashar al-Assad, foi possível graças a um acordo entre as autoridades sírias e as Nações Unidas.
O acordo também prevê a chegada de ajuda humanitária para os que quiserem permanecer nos bairros sitiados, em mãos rebeldes. A ajuda, que consiste em primeiros socorros e alimentos, começará a ser distribuída no sábado, segundo o governador de Homs, Talal Barazi.

A evacuação dos civis começou nesta sexta-feira com a retirada de ônibus de 12 pessoas, as primeiras entre as 200 que devem deixar o local durante o dia, constatou um correspondente da AFP. Imagens da rede de televisão estatal também mostravam o veículo deixando um ponto de encontro do lado de fora de uma das áreas sitiadas.

"Os menores de 15 anos, os homens maiores de 55 anos e as mulheres" estão autorizados a deixar a cidade, havia declarado pouco antes Barazi, o governador de uma das principais frentes de batalha entre o regime e os rebeldes. A comunidade internacional denunciou em várias ocasiões a situação humanitária desesperadora dos treze bairros rebeldes da cidade antiga de Homs.

O ataque agravou as condições de vida. Aos bombardeios quase diários se soma a escassez de alimentos e de material de saúde.

Uma equipe do governo, das Nações Unidas e do Crescente Vermelho se dirigiu durante a manhã desta sexta à parte antiga para garantir a saída dos civis e sua transferência para onde desejarem, disse Barazi. Segundo a ONU, este acordo "permitirá fornecer ajuda vital a 2.500 civis".

Debate centrado no terrorismo

O acordo é um primeiro gesto humanitário do regime desde a primeira rodada de negociações em Genebra entre o governo e a oposição sob a supervisão das Nações Unidas, no fim de janeiro. Durante estas negociações, o mediador internacional Lakhdar Brahimi anunciou ter obtido do regime a promessa de deixar os civis sitiados saírem.

O regime confirmou sua participação na segunda rodada, prevista para a próxima segunda-feira. As negociações são realizadas sob a pressão da Rússia, aliada do regime sírio, e dos Estados Unidos, que apoiam a oposição, com a esperança de encontrar uma solução pacífica a um conflito que em quase três anos deixou mais de 136.000 mortos.

"Foi decidido que a delegação da República Síria participará na segunda rodada de negociações de Genebra", declarou o vice-ministro das Relações Exteriores, Faisal Muqdad, um dos membros da delegação do regime na primeira rodada. O regime de Damasco, que classifica os rebeldes de terroristas, quer centrar o debate no terrorismo. A oposição, por sua vez, quer focá-las em uma transição política que excluiria Assad.

A oposição já havia confirmado anteriormente sua presença na próxima rodada. Os rebeldes lançaram na quinta-feira um ataque contra a prisão central de Aleppo (norte), controlando uma grande parte do estabelecimento. As forças governamentais retomaram o controle nesta sexta-feira após intensos combates, indicou uma ONG.

O destino dos prisioneiros era uma incógnita. O Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH) havia informado que centenas de detidos foram libertados, mas, com a recuperação da prisão pelo regime, não era possível confirmar a fuga dos prisioneiros.

Em Aleppo, o regime continuava com seus ataques com barris de explosivos, que mataram mais de 250 pessoas em cinco dias. O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, condenou na quinta-feira estes ataques, que têm "um efeito devastador em zonas habitadas" e são contrários às leis humanitárias internacionais.