Treze helicópteros, sete aviões e 2.000 militares e policiais lutavam nesta segunda-feira para controlar os focos do mais grave incêndio da história da cidade chilena de Valparaíso, que já matou 15 pessoas.
"O incêndio não está controlado.
O governo decretou alerta sanitário na região, o que facilitará a entrega de ajuda, a compra de insumos e o socorro aos afetados.
O número de mortos subiu para 15 na noite desta segunda-feira, após um corpo calcinado ser localizado no setor de Olivillo.
"Até o momento, temos 15 pessoas mortas", anunciou o comandante da I Zona Naval, almirante Julio Leiva, acrescentando que dois membros da força ficaram feridos durante os trabalhos de resgate.
O almirante não descartou um recrudescimento dos focos de incêndio "durante esta noite", mas estimou que na terça-feira haverá condições mais favoráveis, como temperatura mais baixa, aumento da umidade e menos vento.
A ministra da Saúde, Helia Molina, explicou que o alerta sanitário, vigente a partir desta terça-feira, permitirá acelerar a entrega de recursos como banheiros químicos, medicamentos e outros insumos.
"Não é um alerta sanitário para praga ou epidemia, é uma precaução para evitarmos problemas, porque a situação nos albergues facilita a propagação de infecções".
"Detectamos a existência de muitos albergues informais onde as pessoas têm se agrupado de forma natural, mas não existem as condições sanitárias necessárias e vamos cuidar para que tenham banheiros, água potável e comida".
No início desta segunda-feira, os focos de incêndio que voltaram a arder com força no domingo queimaram mais 250 casas, informou o ministro do Interior, Rodrigo Peñailillo.
A presidente Michelle Bachelet suspendeu uma viagem prevista para a Argentina e se reuniu nesta segunda com os ministros do comitê de emergências.
As autoridades esperam controlar o fogo entre 48 e 72 horas. Depois pretendem investigar a origem das chamas, avaliar os danos e estabelecer as tarefas de reconstrução.
"O quadro é desolador", afirmou o porta-voz do governo, Álvaro Elizalde, que também anunciou a chegada de aviões argentinos para cobrir zonas desprotegidas.
O incêndio já destruiu completamente 2.000 casas. Também deixou 8.000 desabrigados e 10.000 deslocados. De acordo com as autoridades, 1.200 pessoas dormiram pela segunda noite seguida em abrigos.
Das 15 pessoas mortas, algumas não conseguiram sair a tempo de suas casas, como um casal de idosos que se negou a deixar a residência. Os dois foram encontrados carbonizados, abraçados na cama, afirmaram vizinhos à imprensa local.
O incêndio, iniciado na tarde de sábado, queimou 850 hectares até o momento.
As chamas afetaram uma área onde muitas pessoas vivem em casas de madeira e feitas de outros materiais frágeis, algumas sem licença de construção.
A região do porto de Valparaíso, declarada Patrimônio da Humanidade pela Unesco em 2003, permanecia a salvo das chamas.
- Perda total -
Na escola Grecia, um dos oito abrigos para os atingidos, Carlos Gaona disse ter dormido pouco, "por causa das sirenes dos bombeiros e das pessoas que continuam chegando".
"Perdemos tudo. Somos uma família de sete pessoas, e a primeira noite no abrigo foi triste. Principalmente para as crianças que nunca tinham passado por isso, mas nos trataram bem", declarou Ericka Cáceres à AFP .
Muitas pessoas perderam todos os seus pertences no incêndio, devido à rápida propagação e à complexa geografia da região. Além disso, também contribuiu para a tragédia o acúmulo de lixo no topo das colinas, onde começou o fogo.
Os chilenos se mobilizaram pelas vítimas de Valparaíso.
Os moradores da cidade que não foram atingidos ajudaram os necessitados, distribuindo água, comida e roupas.
Também foram organizadas nesta segunda partidas de futebol beneficentes e campanhas para cuidar dos animais feridos. O Twitter ficou cheio de mensagens de apoio, com a hashtag #FuerzaValpo.
- Dupla reconstrução -
No domingo, foi declarado estado de catástrofe, medida de exceção que permite que as Forças Armadas assumam a segurança, que será mantida pelo tempo que for necessário, de acordo com o governo.
Em relação aos 8.000 desabrigados, estão sendo estudadas as possibilidades de se construir casas de emergência e oferecer ajuda financeira e psicológica.
O governo se comprometeu também a seguir "trabalhando simultaneamente na ajuda e no plano de reconstrução no norte", mais precisamente na região de Tarapacá, atingida por um terremoto de 8,2 de magnitude há duas semanas.
Apesar das tragédias, Bachelet pretende manter o cumprimento das 50 medidas anunciadas para seus 100 primeiros dias de governo. Entre elas, está o pontapé inicial a seu ambicioso programa de reformas, na educação, na área tributária e na Constituição.
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