Em seu terceiro dia de visita aos Estados Unidos, o papa Francisco esteve no Congresso do país na manhã desta quinta-feira, onde fez um discurso histórico. Esta foi a primeira vez na história que um papa discursou no local.
Em seu discurso o papa pediu uma vigilância global contra o fundamentalismo de todos os tipos, mas alertou para o "equilíbrio delicado" entre lutar contra extremistas e preservar as liberdades religiosas.
"Sabemos que nenhuma religião está imune a formas de delírios individuais ou extremismo ideológico. Isso significa que devemos ficar especialmente atentos a qualquer tipo de fundamentalismo, seja religioso ou de qualquer outro tipo", afirmou o papa ante os congressistas reunidos nas duas câmeras.
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O papa pregou o fim da venda de armas e pediu aos parlamentares ações para o combate do aquecimento global. Sem mencionar Cuba de maneira expressa, também elogiou o diálogo entre países para superação de "diferenças históricas".
Com exceção da crítica ao aborto, do rechaço ao extremismo e da defesa da família, a maioria dos temas abordados pelo pontífice coincidem com a agenda do Partido Democrata do presidente Barack Obama, o que se refletiu na reação dos congressistas que lotaram o plenário da Câmara dos Deputados.
Além dos parlamentares, estavam na plateia o vice-presidente da República, Joe Biden, quatro ministros da Suprema Corte e vários integrantes do gabinete de Obama, entre os quais o secretário de Estado, John Kerry.
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Obama e papa Francisco demonstram sintonia sobre clima e imigraçãoPapa Francisco é recebido com aplausos em WashingtonPapa visita a ONU em Nova York; veja o vídeoCitando Martin Luther King e a luta pelos direitos civis nos anos 60, Francisco afirmou que os Estados Unidos continuam a ser para muitos a terra dos "sonhos". Lembrou ainda que o país foi construído com a ajuda de imigrantes e filhos de imigrantes, como ele próprio e vários dos congressistas. "Nós, que pertencemos a esse continente, não nos assustamos com os estrangeiros, porque muitos de nós fomos estrangeiros no passado".
O papa fez referência também à crise de refugiados na Europa e ao movimento de pessoas que saem da América Latina em direção ao norte em busca de uma vida melhor para si e seus filhos. "Não devemos nos intimidar pelos números, mas olhar para as pessoas, seus rostos, escutar suas histórias, enquanto lutamos para dar a melhor resposta à sua situação.
Falando a uma maioria republicana que se opõe a regulações ambientais estritas, o papa lembrou que fez um chamado a esforços "corajosos e responsáveis" de combate à mudança climática na encíclica Laudato Si. "Estou convencido de que podemos fazer a diferença e não tenho dúvidas de que os Estados Unidos - e este Congresso - têm um papel importante a desempenhar".
Republicanos rejeitam a noção de que o aquecimento global é resultado da atividade humana e veem com desconfiança medidas que limitam emissões de gases poluentes. O combate à mudança climática é uma das prioridades de Obama, que pretende deixar um legado nessa área quando concluir seu mandato, no início de 2017.
Também sem citar Obama nominalmente, o papa elogiou de maneira contundente sua liderança na negociação com Havana, que requereu "coragem e ousadia", segundo sua avaliação.
Em outro ponto de divergência com os republicanos, o papa fez um apelo contundente pela abolição global da pena de morte. Os Estados Unidos são um dos únicos países desenvolvidos que mantêm a pena capital, aplicada principalmente em Estados governados por republicanos. "Cada vida é sagrada, cada pessoa humana é dotada com uma dignidade inalienável e a sociedade só pode se beneficiar da reabilitação daqueles condenados pela prática de crimes", disse.
Sua crítica ao fundamentalismo religioso encontrou eco dos dois lados do espectro político americano. "Nós sabemos que nenhuma religião é imune a formas de desilusão individual ou extremismo ideológico. Isso significa que devemos estar especialmente atentos a todo tipo de fundamentalismo, religioso ou de outro tipo", afirmou Francisco. "Um equilíbrio delicado é requerido no combate à violência perpetrada em nome de uma religião, de uma ideologia ou de um sistema econômico, ao mesmo tempo em que preservamos a liberdade religiosa, a liberdade intelectual e as liberdades individuais", afirmou o papa
O papa ainda fez uma aparição em frente ao Capitólio, onde há milhares de pessoas. Medidas estritas de segurança foram tomadas e diversas ruas foram fechadas. (Com Agência Estado e AFP)