A administração Donald Trump lançou uma ofensiva para tentar conter o avanço do inquérito da Câmara dos Deputados que pode levar ao impeachment do presidente, resistindo às demandas para que potenciais testemunhas falem à Comissão de Inteligência, responsável pela investigação.
O secretário de Estado, Mike Pompeo, lançou o primeiro potencial bloqueio ao afirmar em uma carta aos deputados nesta terça-feira, 1, que a demanda de três comissões da Casa para que diplomatas americanos compareçam em uma audiência esta semana foi um "ato de intimidação" por não ter dado tempo suficiente para o Departamento de Estado responder apropriadamente à requisição e preparar as testemunhas.
A oposição quer que funcionários do departamento prestem depoimento sobre a relação dos Estados Unidos com a Ucrânia. "Permitam-me ser claro: não tolerarei tais táticas e utilizarei todos os meios à minha disposição para prevenir e expor qualquer tentativa de intimidar os profissionais dedicados que me orgulham no Departamento de Estado", disse Pompeo na carta enviada à Comissão de Relações Exteriores da Câmara.
Os congressistas desse comitê tinham previsto nesta semana os depoimentos de Marie Yovanovitch, que foi embaixadora dos EUA na Ucrânia, e Kurt Volker, que renunciou na sexta-feira passada como enviado especial do Departamento de Estado para esse país, e outros três funcionários.
Na carta, o chefe da diplomacia americana criticou que os requerimentos do comitê incluem "uma vasta quantidade de documentos" e tentam evitar que os funcionários recebam conselhos por parte da equipe jurídica do Departamento de Estado. "Com base nas profundas deficiências processuais e legais assinaladas anteriormente, as datas solicitadas pela comissão para os depoimentos não são factíveis", argumentou Pompeo.
Na semana passada, a presidente da Câmara dos Deputados, a democrata Nancy Pelosi, anunciou a abertura de um inquérito que pode levar ao impeachment do presidente pela Casa devido a uma conversa telefônica ocorrida no dia 25 julho com o presidente ucraniano, Volodmir Zelenski.
Na ligação, o americano pediu ajuda para investigar o ex-vice-presidente Joe Biden - agora pré-candidato democrata - e seu filho por um suposto esquema corrupção na Ucrânia.
O processo pode levar a um julgamento no Senado para se decidir se Trump será afastado ou não do cargo, mas os colegas republicanos do presidente controlam o Senado e mostram pouca inclinação para removê-lo.
Pompeo, que está na Itália para uma visita de três dias, informou que seu departamento responderá a uma intimação da Comissão de Relações Exteriores até sexta-feira. Ele disse que as datas propostas para os depoimentos não proporcionam tempo adequado para a preparação e que os funcionários podem não comparecer a nenhum depoimento sem um conselheiro do Executivo presente para controlar a revelação de informações confidenciais.
O telefonema a Zelenski ocorreu depois de Trump congelar quase US$ 400 milhões em ajuda concebida para auxiliar a Ucrânia a lidar com uma insurgência de separatistas apoiados pela Rússia no leste do país. A ajuda foi concedida mais tarde.
Procurador ucraniano sob suspeita
Nesta terça-feira, a Ucrânia anunciou que foi aberta uma investigação por abuso de poder contra Iuri Lutsenko, ex-procurador-geral citado no caso envolvendo Trump.
Lutsenko diz ter-se reunido com o advogado de Trump, Rudy Giuliani, para tratar do assunto do filho de Biden, mas afirma que concluiu não haver motivos para abrir tal investigação.
Lutsenko é suspeito agora de ter "autorizado um negócio de apostas ilegais", disse à France-Presse a porta-voz do Escritório de Investigações do Estado, Angelica Ivanova. Ele foi destituído em agosto por Zelenski.
A investigação foi lançada por iniciativa de parlamentares ucranianos, acrescentou Ivanova, sem dar detalhes.
Segundo a agência de notícias Interfax-Ucrânia, um testemunho do deputado David Arajmia, membro do partido no poder, está na origem do caso.