Pisar em Porto Príncipe, na capital do Haiti, o país mais miserável das Américas é aterrador até para o brasileiro mais acostumado a cobrir as misérias da amazônia aos pampas. O que consideramos barraco é de longe moradia rica para aquele povo, tamanha a sua precariedade. Após o terremoto que matou cerca de 200 mil pessoas e arrasou todas as infraestruturas fazendo desabar inclusive o palácio presidencial, o país inteiro ficou sob ruínas.
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Haiti contabiliza pelo menos 304 mortos e 1.800 feridos após terremoto Biden autoriza ajuda imediata dos EUA ao HaitiRepórter é atropelada durante transmissão ao vivo nos EUA; veja vídeo Tempestade tropical chega ao Haiti após terremoto matar cerca de 1.300 pessoasNúmero de mortos por terremoto no Haiti chega a quase 1.300Haiti busca sobreviventes após terremoto que fez mais de 720 mortosAo todo, 37.449 militares brasileiros participaram da operação – que durou 13 anos e 137 dias. Impressionava como eram precários e depois ainda mais destruídos os sitemas sanitários da capital, com os esgotos a céu aberto jorrando como chafarizes. Tudo isso depois se degradou ainda mais com os desabamentos trazidos pelo tremor de terra.
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Um desespero que nos fazia, de dentro de coletes balísticos dos fuzileiros navais brasileiros, repartir chocolates, chicletes ou qualquer outra coisa mastigável. A miséria era tanta que cheguei a ver crianças misturando lama com manteiga para fazer biscoitos e comer.
A palavra que mais se ouvia entre os nativos após gestos que dedilhavam suas bocas era "manger" (comida, em francês, a segunda língua local, após o creole). Ninguém dormia mais em casa por medo de ser soterrado, espalhando um aglomerado de barracas brancas da ONU por todas as ruas. E esse medo perdurou até a minha partida. Até bandeiras nacionais e dos Estados Unidos eram usadas para fazer esses abrigos.