Cabul, Afeganistão – Pelo menos sete pessoas morreram em meio ao caos do aeroporto de Cabul, informou ontem o Ministério da Defesa britânico. A rede britânica Sky News divulgou no sábado imagens de pelo menos três corpos cobertos com um plástico branco fora do aeroporto e o repórter Stuart Ramsay disse que as pessoas estavam sendo esmagadas e outras "desidratadas e aterrorizadas".
A situação se complicou ainda mais no sábado, quando os Estados Unidos alertaram seus cidadãos para que se mantivessem afastados da área devido a "ameaças de segurança". No final da tarde de ontem, em entrevista coletiva, o presidente Joe Biden afirmou que não seria possível realizar a retirada de cidadãos americanos e aliados de Cabul sem a situação caótica no aeroporto da capital, única rota livre de saída do país. “A evacuação seria muito difícil e dolorosa, não importa quando começasse. Não há forma de evacuar tantas pessoas sem as imagens que estamos vendo nas TVs. É um fato e meu coração sofre por essas pessoas”, disse.
Ontem, um líder talibã responsabilizou os Estados Unidos pelo caos no aeroporto de Cabul, onde milhares de afegãos tentam desesperadamente pegar um avião e fugir do país. “Estados Unidos, com todo seu poder e seus meios (...), fracassaram em impor ordem no aeroporto. Reina a paz e a ordem em todo o país, mas há caos somente no aeroporto de Cabul”, disse Amir Khan Mutaqi, um dirigente talibã. “Isso deve acabar o mais rápido possível”, acrescentou.
Uma semana após a tomada de poder dos talibãs, milhares de afegãos aterrorizados tentam fugir do país, agravando a tragédia no aeroporto de Cabul, onde Estados Unidos e seus aliados foram incapazes de lidar com o enorme número de pessoas que tentam pegar os voos de evacuação.
Ontem, o Pentágono recrutou várias das principais companhias aéreas comerciais americanas em sua caótica evacuação de dezenas de milhares de afegãos e estrangeiros de Cabul após sua queda nas mãos dos extremistas talibãs.
O Pentágono informou que o secretário da Defesa, Lloyd Austin, ativou a raramente usada Frota Aérea de Reserva Civil (CRAF) para ajudar no traslado de pessoas que chegam às bases americanas no Oriente Médio. “Vamos fazer tudo o que for possível para que todos, todos os cidadãos americanos que desejem sair, saiam”, disse Austin em entrevista para a rede ABC, acrescentando que o mesmo se aplica para os aliados afegãos dos Estados Unidos.
EVACUAÇÃO
Dezoito aviões civis da American Airlines, Atlas, Delta, Omni, Hawaiian e United ajudarão as dezenas de aviões de carga militares que participam da evacuação. Em vez de entrar e sair da capital, os aviões transportarão as pessoas das bases americanas no Catar, Bahrein e nos Emirados Árabes Unidos até os países europeus e, em muitos casos, até os Estados Unidos.
Washington, que tem milhares de soldados tentando administrar o aeroporto de Cabul, estabeleceu um prazo para completar uma das maiores missões de evacuação que o Pentágono realizou antes de 31 de agosto. Mas Austin não descartou pedir ao presidente Joe Biden para adiar este prazo.
"Vamos continuar avaliando a situação. E, de novo, trabalharemos tudo o que pudermos para retirar a maior quantidade de pessoas possível. À medida que nos aproximamos desse prazo, faremos uma recomendação ao presidente", disse.
Cerca de 15 mil americanos devem ser retirados do Afeganistão, segundo o presidente Joe Biden, que afirma que seu governo quer retirar do país ao menos 50 mil aliados afegãos e seus familiares.
Amplamente criticado pela caótica saída após a repentina vitória dos talibãs, Biden alertou que o frenético esforço para retirar os americanos, outros estrangeiros e aliados afegãos de Cabul, ocupada pelos talibãs, é perigoso.
Entre denúncias de que os talibãs intimidaram e agrediram pessoas que tentavam chegar ao aeroporto, Austin disse que esses militantes deixaram passar com segurança quem tinha passaporte americano.