Já é possível observar uma piora dos eventos climáticos extremos, do colapso dos ecossistemas, das doenças transmitidas por mosquitos, da escassez hídrica e da redução de áreas cultiváveis devido à elevação das temperaturas.
Só no ano passado, o mundo viu uma sequência de inundações sem precedentes, ondas de calor e incêndios florestais em quatro continentes.
Mas a avaliação mais abrangente feita até agora dos riscos graves e em aceleração do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) deve mostrar que isto é apenas o começo.
Divulgado à sombra da invasão russa da Ucrânia, o relatório do IPCC incluirá um crucial Sumário para Tomadores de Decisões, que em 40 páginas condensa milhares de páginas de pesquisas científicas.
O documento foi revisado linha por linha por cerca de 200 países em negociações às vezes tensas.
O presidente do IPCC, Hoesung Lee, disse que "os riscos nunca foram tão grandes" quando o processo começou duas semanas atrás.
Um primeiro esboço ao qual a AFP teve acesso em 2021 sugere que o relatório explicará em detalhes o custo assustador da poluição antropogênica para os sistemas naturais interconectados com os construídos pelo homem.
- Desafio urgente -
O aquecimento global está afetando tudo, da disponibilidade de comida e água às chances de sobrevivência de muitas espécies - e é provável que o relatório do IPCC vá esboçar expectativas de uma rápida escalada dos impactos no futuro próximo.
Também reforçará a necessidade urgente de "adaptação" - um termo que se refere à preparação para as consequências devastadoras que não podem mais ser evitadas.
Em alguns casos, isto significa adaptar-se a dias insuportavelmente quentes, a inundações rápidas e tempestades que se tornaram uma questão de vida e morte.
Espera-se que o IPCC reforce que embora as mudanças climáticas vão afetar o planeta como um todo, os impactos não serão sentidos igualmente, com os mais pobres e mais vulneráveis sendo mais afetados.
A superfície da Terra esquentou 1,1 grau Celsius desde o século 19.
O acordo de Paris de 2015 pediu uma contenção do aquecimento global a "bem abaixo" de 2ºC, preferencialmente abaixo de 1,5 ºC.
Em agosto de 2021, um outro relatório do IPCC sobre a ciência física das mudanças climáticas provocadas pelo homem revelou que o aquecimento deve superar 1,5ºC provavelmente no prazo de uma década.
Edward Carr, professor da Universidade Clark e principal autor de um dos capítulos do relatório do IPCC, reforçou a urgência de uma ação para reduzir as emissões e adaptar-se às mudanças que vêm pela frente.
"Há uma sequência finita de escolhas que podemos fazer que nos moverão por uma via produtiva no futuro", disse à AFP.
"Todo dia que procrastinamos, algumas destas escolhas ficam mais difíceis ou desaparecem".