Com o porta-malas cheio de comidas e a música techno no volume mais alto: em seu Opel Astra vermelha, três jovens ucranianos compartilham diariamente ajuda humanitária em Kharkiv, alvo quase diário dos mísseis russos.
Os últimos dias foram relativamente tranquilos nesta cidade do nordeste da Ucrânia, a segunda maior do país país. Mas na terça-feira (26), os canhões ucranianos e a artilharia voltaram a ser ouvidos.
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Deslocados da guerra substituem os turistas na cidade ucraniana de LvivUcrânia diz ter 'direito' a atacar alvos militares russosEnvios de armas à Ucrânia ameaçam a segurança europeia, afirma KremlinDiante de uma creche transformada em depósito, os jovens carregam o porta-malas de seu veículo com bolsas de plástico cheias de pão e latas de conservas.
"Nosso principal objetivo é alimentar as crianças e as pessoas mais velhas, elas são quem mais necessitam. Infelizmente, as pessoas não têm dinheiro nem trabalho, muitos deles não podem sequer ir até um supermercado", disse Nazar Tishchenko, de 34 anos.
Boné com a aba virada para trás, camisa e bermudas pretas, tênis esportivo de uma chamativa cor vermelha, Nazar se parece com o jogador de futebol francês Karim Benzema: barbicha espessa, cabeça raspada, com 1,87 metro de altura.
Apaixonado por futebol, ele gosta das disputas, mas não da polícia. Em uma perna tem tatuado o número 13 e na outra o número 12 que, substituídas pelas letras do alfabeto, formam a sigla "ACAB" ("All cops are bastards", 'todos os policiais são bastardos').
Nascido em Tyrnyauz, na Rússia, "vivi toda a vida em movimentos de torcedores de futebol, com jovens nacionalistas que estão cheios de amor pelo nosso país", Ucrânia.
Com o veículo carregado eles seguem para um antigo prédio dos correios transformado em centro humanitário que distribui carne. No local, os voluntários trocaram pão por coxas de frango.
No volante está Alexiy, de 23 anos, magro e musculoso, com olhos azuis e uma pequena mecha de cabelo que desponta de sua cabeça raspada. Ele teve a ideia das entregas.
Durante dois anos se dedicou a distribuir pão em Kharkiv e na zona leste do Donbass. Depois virou mecânico.
Quando a guerra começou, decidiu voltar às entregas de pão. Porém, sua empresa fechou e ele começou a trabalhar por conta própria. "Mas não podia fazer sozinho, por isso pedi para que Nazar me ajudasse", afirma.
Em frente ao local onde a carne é distribuída, mais de 100 pessoas aguardam.
Carregado o frango, começam o caminho até o local da primeira entrega. O veículo avança rápido, com música techno no volume mais alto e os jovens fumando no interior.
"Não podemos dirigir sem música. Se acontecem bombardeios, simplesmente aumentamos o volume. Estamos cansados dos bombardeios. A música nos ajuda a relaxar, não temos medo", assegura Nazar.