A homenagem única, que coincide com os 40 anos da entrega do prêmio ao escritor, é composta por dez mil garrafas de água, destilados ou refrigerantes.
A instalação está exposta desde sexta-feira (02) na sede do governo de Bolívar, nos arredores da cidade de Cartagena.
Do alto é possível apreciar a imagem de García Márquez, com seus óculos grossos e sorriso aberto.
Algumas das garrafas foram doadas por restaurantes de Cartagena, terra natal de "Gabo" por muitos anos, já outras foram recolhidas por habitantes de Henequén.
Entretanto, o artista Butrón, de 58 anos, valoriza as que foram recuperadas dos manguezais, rios e praias contaminadas. Foi necessário um mês de coleta e três de instalação.
Ele também deseja enviar uma mensagem ambientalista. "Juntos podemos começar a trabalhar para manter nossos ambientes saudáveis, nossos rios e mares limpos", disse o artista à AFP, cercado de garrafas.
Para ampliar a causa, escolheu a imagem do escritor colombiano mais famoso e amigo das paisagens caribenhas.
O autor de "Cem anos de solidão" morreu em 2014, deixando um legado de romances e histórias que contam, além de outros temas, a riqueza de um dos países mais biodiversos do mundo.
"Nada mais colombiano, nada mais caribenho, nada mais folclórico e nada que nos represente" mais que García Márquez, destaca Butrón.
- "Inacreditável" -
Também caribenho, o artista coleta lixo há 35 anos para transformar em arte "com caráter ambiental".
Grande parte do vidro vem do rio Magdalena, o maior do país com quase 1.600 quilômetros. Em obras de Márquez como "O amor nos tempos do cólera", ou o autobiográfico "Viver para contar", o Magdalena é protagonista.
Segundo Butrón, o escritor "narra aquelas viagens ao longo do rio, aquelas imensas praias onde conseguia ver garças, patos selvagens, jacarés". Um "passado glorioso de flora e fauna".
Hoje o panorama é diferente. Segundo pesquisas acadêmicas, mais de 70% do rio corre risco de erosão devido a poluição.
"Não temos contaminação apenas com resíduos sólidos", acrescenta o artista. Mas também com as "águas residuais, a pesca ilegal e a mineração que joga muito mercúrio nas águas" e envenena os animais.
O desfecho do Magdalena, em palavras do artista, teria uma página própria no mundo narrativo de García Márquez em que a tragédia transforma lugares mágicos.
É "tão absurdo", "coisas inacreditáveis acontecem (...) assim como aquele lixo que estamos presenciando neste momento", observa Butrón.