Jornal Estado de Minas

JERUSALÉM

ONU alerta contra cerco e bombardeios israelenses a Gaza

A ONU afirmou, nesta sexta-feira (27), que "muito mais" pessoas "morrerão em breve" na Faixa de Gaza pelo cerco de Israel, que prepara uma ofensiva terrestre após três semanas de bombardeios em resposta ao sangrento ataque do movimento islamita palestino Hamas.



O Exército israelense anunciou hoje que lançou uma nova incursão contra o Hamas, com tropas de Infantaria apoiadas por aviões, no território palestino, onde centenas de milhares de civis se encontram em condições humanitárias desastrosas desde o início da guerra em curso.

"Muitas mais (pessoas) morrerão em breve como resultado do cerco imposto à Faixa de Gaza" por Israel, denunciou nesta sexta o comissário-geral da agência da ONU para os refugiados palestinos (UNRWA, na sigla em inglês), Philippe Lazzarini.

Gaza precisa de ajuda humanitária "significativa e contínua" para aliviar a falta de água, alimentos e eletricidade, acrescentou.

Também nesta sexta, a primeira equipe médica da Cruz Vermelha desde o início da guerra entrou na Faixa de Gaza, acompanhada por vários caminhões de ajuda, informou o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV).

Comandos do Hamas entraram em Israel, por Gaza, em 7 de outubro e realizaram o ataque mais sangrento desde a criação do país em 1948, matando 1.400 pessoas, a maioria civis, segundo as autoridades.



Em represália, Israel anunciou que destruiria o Hamas e iniciou incessantes bombardeios na Faixa de Gaza. Segundo o Hamas, mais de 7.300 pessoas, a maioria delas civis e incluindo 3.038 crianças, morreram nos bombardeios no território palestino.

Em Genebra, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos manifestou preocupação com a possibilidade de "crimes de guerra estarem sendo cometidos" no conflito.

- Alvos do Hamas destruídos -

A Infantaria israelense lançou uma "incursão seletiva no setor central da Faixa de Gaza", apoiada por "caças e drones", antes de abandonar o território, anunciou o exército na manhã desta sexta-feira.

Imagens em preto e branco divulgadas pelo Exército, que fez ontem uma primeira incursão no norte da Faixa, mostravam uma fileira de veículos blindados à noite.

O Exército disse ter bombardeado alvos do Hamas "em toda a Faixa de Gaza", destruindo plataformas de lançamento de foguetes e centros de comando, em preparação para uma provável ofensiva terrestre prometida por autoridades políticas e militares para "aniquilar" o Hamas.



As Brigadas Ezzedine Al-Qassam, braço armado do Hamas, afirmaram terem frustrado uma incursão israelense ao longo da costa, no setor de Rafah (sul), uma "incursão seletiva" confirmada por Israel em um comunicado.

Segundo as autoridades de Israel, 229 reféns israelenses com dupla nacionalidade, ou estrangeiros, foram capturados durante o ataque do Hamas, que até agora libertou quatro mulheres.

O grupo islâmico disse na quinta-feira que "cerca de 50" reféns foram mortos em bombardeios israelenses.

A comunidade internacional teme as consequências de uma ofensiva terrestre no enclave palestino de 362 km², controlado desde 2007 pelo Hamas e aonde a ajuda internacional mal chega aos 2,4 milhões de habitantes.

De acordo com uma pesquisa publicada nesta sexta-feira pelo jornal israelense "Maariv", quase metade dos israelenses seria contrária a uma operação militar terrestre "imediata" na Faixa de Gaza.

- "Corredores humanitários" -

Desde 21 de outubro, em torno de 70 caminhões de ajuda entraram na Faixa de Gaza procedentes do Egito, anunciou na quinta-feira o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação dos Assuntos Humanitários (OCHA), um número muito insuficiente para a organização, que exige, sobretudo, combustível para fazer as infraestruturas de saúde funcionarem.



Antes do "cerco total" imposto por Israel em 9 de outubro, cerca de 500 caminhões chegavam ao enclave diariamente. Ante essa situação, os líderes dos 27 países da União Europeia (UE) pediram na quinta-feira a instalação de "corredores humanitários" e de "pausas" para a entrega de ajuda. Nesta sexta, o presidente da França, Emmanuel Macron, reiterou seu apoio a uma "trégua humanitária".

Na terça-feira, os Estados Unidos também sugeriram essas "pausas" humanitárias, em vez de um cessar-fogo, que "neste momento beneficiaria apenas o Hamas".

Segundo o OCHA, citando o Ministério das Obras Públicas e de Habitação de Gaza, 45% das casas do território foram "danificadas ou destruídas" pelos bombardeios.

Quase 1,4 milhão de pessoas foram deslocadas para o sul da Faixa, fugindo dos bombardeios israelenses, embora cerca de 30 mil tenham retornado para o norte do território nos últimos dias, segundo a ONU.

"Voltamos para morrer nas nossas casas. Será mais digno", disse Abdallah Ayyad, que retornou para a Cidade de Gaza com sua mulher e cinco filhas.



Em Israel, um novo lançamento de foguetes deixou três feridos em Tel Aviv, segundo os serviços de emergência.

- Escalada regional -

A guerra despertou temores de uma conflagração regional. O Irã, um poderoso apoiador do Hamas, lançou várias advertências aos Estados Unidos, um aliado de Israel.

O secretário americano da Defesa, Lloyd Austin, anunciou que, ontem, os Estados Unidos atacaram duas instalações usadas pela Guarda Revolucionária iraniana e por "grupos afiliados".

O presidente Joe Biden já havia advertido o líder supremo iraniano, Ali Khamenei, contra qualquer ataque às suas tropas.

A tensão também está aumentando na Cisjordânia ocupada, assim como na fronteira norte de Israel com o Líbano, onde ocorrem diariamente trocas de disparos entre o movimento Hezbollah, aliado do Hamas, e o Exército israelense.

Mais de 100 palestinos morreram na Cisjordânia em ataques e confrontos com o Exército israelense desde 7 de outubro, segundo o Ministério palestino da Saúde.