“Os exames perderam em muito a qualidade e, pior, os acidentes durante sua realização estão aumentando”, afirma o diretor científico do Departamento de Ergometria e Reabilitação Cardiovascular da Sociedade Brasileira de Cardiologia, Nabil Ghorayeb. Ele diz que o fenômeno que ocorre com os testes ergométricos é semelhante ao identificado há alguns anos com as anestesias: um médico era responsável por acompanhar, simultaneamente, três ou quatro pacientes. “Se dois passam mal ao mesmo momento, quem ele vai socorrer?”, diz.
Mortes
De acordo com as estatísticas, uma em cada 10 mil pessoas que fazem o teste morrem. “É um evento raro, mas que tem de ser considerado”, defende o médico. Quando o exame é mal feito, há maior risco de o resultado não identificar uma eventual contraindicação para o exercício físico.
Os protocolos, diferenciados de acordo com a idade, também muitas vezes são colocados de lado. “Não é incomum usarem o exame padrão tanto para jovens como para adultos e idosos.” Com isso, pessoas de idade avançada muitas vezes fazem o teste em velocidade acima da que seria ideal“Não são raras torções”, completa.
A tática de usar um médico para vários pacientes foi ampliada nos últimos anos pelas clínicas, como uma estratégia para driblar o preço pago pelos convênios pelo teste. Em média, o repasse é de R$ 60. “Para dar maior lucratividade, as empresas encurtam o tempo de cada teste, reduzem o número de médicos”, explica Gorayeb. O ideal seria fazer dois exames por hora, mas muitas clínicas fazem quatro.
Além de eventuais problemas durante a realização do exame, médicos muitas vezes “encurtam” o período em que o paciente teria de permanecer sob observação, depois da realização do teste. “Muitas vezes, os problemas são identificados neste momento”, diz o diretor. Pelo protocolo, é preciso esperar seis minutos. Profissionais, muitas vezes, esperam dois.
“Economizando quatro minutos por paciente, em pouco tempo você já consegue encaixar mais um exame”, ressalta. A resolução diz ainda que o médico que deve acompanhar o teste precisa ter um treinamento específico.