Gênio forte, Marília Pêra era mulher de opinião. Inflexível até, acusavam alguns. Em entrevistas, ela se defendia da pecha de durona. Diretora e produtora de teatro, dizia brigar por qualidade, ética e respeito – valores herdados da família, formada por muitos atores que deram duro para sobreviver. Gente pobre, distinta e batalhadora que ensaiava o dia todo para se apresentar à noite.
A atriz não era de se intimidar. Reclamou do "forno" em que os estúdios da Globo se transformam no verão, defendeu camarins em que o profissional pudesse decorar textos com conforto, sem suar em bicas. Revelava que aqueles espaços chegavam a ser insalubres devido às altas temperaturas cariocas.
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Atriz Marília Pêra morre no Rio de JaneiroMorre no Rio a atriz Marília PêraMarília Pêra é enterrada no Rio de JaneiroArtistas lamentam morte de Marília PêraA política trouxe amargos dissabores para Marília Pêra. Em 1968, foi presa e espancada por aliados da ditadura militar, que perseguiram o elenco da peça Roda viva, de Chico Buarque de Holanda.
Marília declarou ter votado em Collor porque não entendia nada de política. "Sou muito ingênua", disse. Mais recentemente, ao comentar a crise enfrentada pelo governo petista, lamentou o sacrifício imposto ao povo pelos políticos, dizendo-se aliviada: "Não fui só eu que errei, todo mundo erra".
Fã de Sandy, Zezé di Camargo & Luciano e Chitãozinho & Xororó – artistas rejeitados pela elite intelectual –, Marília dirigiu shows de Wanessa Camargo e da dupla Cristian & Ralph. Gostou do filme 2 filhos de Francisco e brincava com o amigo cineasta Miguel Faria Jr.: queria que ele filmasse "2 filhas de Pêra", estrelado por ela e a irmã, Sandra, também diretora e atriz. Dizia que sua família passou tanto aperto quanto a dos sertanejos Zezé e Luciano.
Marília Pêra foi casada com o ator Paulo Graça Mello, com quem teve o filho Ricardo; Nelson Motta, com quem teve Esperança e Nina Morena; e deixa viúvo o economista Bruno Faria, 23 anos mais novo do que ela..