Brasília, 22 - Estudo conduzido pelo Instituto Evandro Chagas (IEC) do Pará em conjunto com a Universidade do Texas mostra que a vacina contra zika desenvolvida pelas duas instituições protege camundongos e macacos contra o vírus. Publicado pela Revista Nature Communications, o trabalho constatou que a aplicação de uma dose da vacina nos animais foi suficiente para prevenir a transmissão do vírus da mãe para o filhote durante a gestação, além de proteger machos. Com a conclusão desta etapa, é dado sinal verde para preparativos em testes em humanos.
Apesar da boa notícia, um achado do estudo acende um alerta para uma eventual consequência da infecção pelo vírus: a redução da fertilidade masculina. Testes realizados em camundongos mostram que a infecção pode alterar a reprodução nesses animais. Machos não vacinados expostos ao zika tiveram uma redução significativa de espermatozoides. E os que foram produzidos perderam velocidade, o que dificulta a fecundação. Para completar, testículos dos camundongos atrofiaram.
"Sabemos da propensão do zika em infectar células do cérebro. O estudo agora indica que o vírus também age no testículo", relata o diretor do IEC, Pedro Vasconcelos."Não era esperado que isso ocorresse.
Não há ainda pistas sobre as causas que levam o vírus a atacar também a gônada masculina. Um dos caminhos a ser pesquisados, avalia, é a possibilidade de semelhanças entre receptores.
O diretor afirma que novos testes deverão ser feitos para verificar se o zika apresenta comportamento semelhante nos testículos de outras animais. Caso novos estudos indiquem resultados similares, Vasconcelos considera importante partir para uma investigação epidemiológica em regiões onde o vírus provocou epidemia, como cidades do Nordeste. "A epidemia pode ter provocado outras consequências, que serão sentidas numa outra fase, como a redução dos bebês nascidos em regiões afetadas. Isso precisa ser investigado."
A pesquisa não testou a capacidade de os camundongos engravidarem fêmeas após os danos constatados nos testículos. Isso impede afirmar neste momento que animais se tornaram estéreis.
Este foi o quarto estudo publicado sobre a vacina desenvolvida em parceria pelo IEC e a Universidade do Texas. "Comprovada a eficácia da vacina em macacos e camundongos, terminamos nossa contribuição, abrindo caminho agora, para as pesquisas clínicas", afirma Vasconcelos.
Todos os testes realizados mostraram até o momento o efeito protetor do imunizante desenvolvido pela parceria. Os testes clínicos serão feitos por Biomanguinhos, da Fundação Oswaldo Cruz, no Rio. A expectativa, de acordo com Vasconcelos, é de que os testes comecem a ser feitos em 2019.
A parceria para essa pesquisa foi feita em 2016 a partir de acordo internacional para o desenvolvimento de vacina contra o vírus zika. O Ministério da Saúde vai destinar um total de R$ 7 milhões nos próximos cinco anos (até 2021) para o desenvolvimento e produção da vacina. O imunobiológico em desenvolvimento utiliza a tecnologia de vírus vivo atenuado de apenas uma dose, já que vacinas com vírus vivo são altamente capazes de estimular o sistema imunológico e proteger o organismo da infecção.
(Lígia Formenti).