Santa Maria (RS) — Após oito anos sem respostas, a proximidade do júri desperta os mais variados sentimentos nas famílias e nos sobreviventes da tragédia da boate Kiss. Luismar Model descreve um misto de alívio e revolta. "A gente ouviu muitos absurdos durante estes anos", desabafa.
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Defesa reivindica julgamento técnico no caso da boate Kiss Oito anos depois, Justiça vai se pronunciar sobre boate KissComeça o julgamento pelo incêndio na boate KissAlém da isolamento sentido diante da comunidade de Santa Maria, os sobreviventes expressam um sentimento bastante comum entre eles: culpa. "Aquele vão que eu peguei na multidão para sair de dentro da boate me traz culpa até hoje. Eu sei que eu peguei o lugar de alguém. Eu tinha certeza que meus amigos eram melhores do que eu e poderiam ter saído no meu lugar", conta, emocionado, Gabriel Rovadoschi.
Após anos de terapia e fortalecimento emocional, Gabriel segue lutando contra pensamentos negativos. "Hoje eu reconheço que essa culpa não é minha. Houve responsáveis por nos colocar nessa emboscada. Por nos matar", afirma. O desejo por responsabilização aumenta às vésperas do júri.
Durante os oito anos, o maior medo das famílias era de que o sofrimento caísse no esquecimento. "Se não fosse a imprensa relembrando o caso e a gente seguir lutando, ninguém mais falaria hoje dos absurdos cometidos contra nós", relata Carina Correa, mãe da Thanise Correa Garcia, 18, uma das primeiras vítimas a ser retirada de dentro da Boate Kiss na madrugada do dia 27.
"Além de terem matado nossos filhos, é surreal tudo o que tivemos que batalhar para que pelo menos esses quatro reús estejam lá no dia 1º", afirma. Carina, que estava de plantão no hospital em que trabalhava na época, como auxiliar de nutrição, relembra ainda hoje a sensação de não ter notícias da filha. "Nunca vai passar", desabafa.
Em meio à tristeza e revolta, familiares e sobreviventes encaram o julgamento com esperança. "Eu só desejo que essa dor tenha um direcionamento mais digno", diz Gabriel.