A deputada federal Flávia Moraes (PDT-GO), relatora da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Tráfico de Pessoas, apresenta nesta terça-feira, na Câmara dos Deputados, o relatório final dos trabalhos com a descrição de dezenas de casos nacionais e internacionais envolvendo bebês e “jogadores de futebol”, adoções clandestinas de crianças, trabalho escravo e exploração sexual de adolescentes e mulheres. “Estamos pedindo o indiciamento de vários responsáveis”, disse ontem, lembrando que o Brasil é país de origem de, por exemplo, casos de exploração sexual, e destino para tráfico de trabalhadores. “Muitas empresas têm trazido mão de obra de países como o Suriname para trabalhar em condições subumanas”, afirmou ela.
Instalada há pouco mais de dois anos, a CPI categorizou as diversas modalidades de tráfico de pessoas, a partir da forma de recrutamento e exploração. Como o Código Penal brasileiro reconhece apenas os aliciamentos para fins de exploração sexual, a relatora inicia o seu relatório propondo a adequação da lei à Convenção de Palermo. Nos termos indicados pela Organização das Nações Unidas, por meio dessa convenção, o tráfico de pessoas consiste no aliciamento e no transporte de seres humanos, utilizando-se de formas de coerção, como a força, a fraude e o abuso da situação de vulnerabilidade, com o propósito de explorá-los.
Entre os casos marcantes investigados pela CPI do Tráfico de Pessoas está, segundo Flávia Moraes, o das quatro crianças retiradas de uma família de Monte Santo, no interior baiano, para serem adotadas no estado de São Paulo. Nessas situações, assinalou, o indiciamento é difícil, uma vez que na legislação brasileira não há dispositivos que tratem de adoções clandestinas dentro do país. “Só há previsão quando a fraude envolve uma adoção internacional”, lembrou ela.
Os casos de tráfico de bebês têm um perfil de demanda de zero a três anos.
Atletas e modelos
Também serão propostas hoje mudanças na legislação que tratam do tráfico de “jogadores de futebol” e de “modelos”, que são cooptados no país para o exterior para o trabalho escravo ou exploração sexual. “A nossa proposta é que as intermediações para as agências de modelo e as que trabalham com esportistas não possam mais ser feitas por pessoas físicas. Essas agências devem ser credenciadas e habilitadas para o recrutamento”, defendeu a parlamentar. A CPI vai ainda sugerir hoje aos órgãos públicos uma campanha de prevenção e divulgação dessa prática de aliciamento de “modelos” e “atletas”.
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