Jornal Estado de Minas

Partidos aliados em municípios são rivais no âmbito estadual ou federal

Se na vida conjugal a bigamia é condenada no Brasil, na seara dos partidos políticos o namoro coletivo, até mesmo com lados opostos, está liberado e, em Minas Gerais, não faltam exemplos. O mesmo aliado do PT nacionalmente é inimigo do partido no estado e pode fazer acordo com ele no âmbito municipal. Assim também ocorre com quem se alinhou com o PSDB na capital mas se abrigou em campo oposto na esfera estadual. A liberdade é tanta, que há integrantes dos partidos que ficam até confusos na hora de responder de quem a legenda é aliada em determinado local. Com tantas diferenças, a estratégia dos partidos é liberar as alianças nas eleições de 2016, como vem ocorrendo em outros pleitos, para que cada município possa atender sua particularidade.

É o que será feito no PV, do vice-prefeito de Belo Horizonte, Délio Malheiros, eleito na chapa do prefeito Marcio Lacerda (PSB), quando este rompeu com o PT. Na Assembleia, o partido optou por liderar o bloco dos “independentes” que, apesar do apelido, é contabilizado e tratado como base do governador Fernando Pimentel (PT), a quem deu vitórias em votações importantes. Também em Brasília, o PV caminha sozinho. O presidente do PV mineiro, e também líder do bloco no Legislativo, Agostinho Patrus Filho, lembra que em 1982 o voto era vinculado – o eleitor só podia escolher candidatos de uma mesma legenda para todos os cargos –, mas o sistema acabou.

“Infelizmente, os partidos acabam ficando menores do que os candidatos. Tenho prefeitos que me apoiam do PSDB do mesmo jeito que tenho do PT. É a lógica local”, afirmou.

Segundo Agostinho Patrus, em Belo Horizonte, o PV pretende lançar o vice Délio para concorrer à sucessão de Lacerda. “Aguardamos apoio, seja do lado do Pimentel ou do senador Aécio Neves (PSDB), queremos é agregar. Em Pouso Alegre, por exemplo, somos ligados à atual administração e nosso candidato deve concorrer com o apoio do PT. Já em Uberaba vamos enfrentar o atual prefeito, que é do PMDB, apoiado pelo PT”, afirmou.
Já o PR, pode-se dizer, está bem com todo mundo: é aliado da presidente Dilma Rousseff (PT), de Pimentel e de Lacerda. Mesmo com o fato de Lacerda ser rompido com o PT, o presidente do PR em Belo Horizonte, deputado Léo Portela, que é vice-líder do petista na Assembleia, não vê constrangimentos.
“Lacerda não é governador. Apoiamos o Marcio em BH e temos apoiado o Pimentel no governo, as coisas não se misturam”, afirmou. Segundo Léo Portela, o partido é independente para escolher suas alianças no pleito municipal e tem o deputado federal Lincoln Portela como pré-candidato em Belo Horizonte. “Não é porque o partido apoia Dilma no âmbito federal ou Pimentel no estadual que tem necessariamente que acatar pedidos desses grupos.”

Oposição a Pimentel, o PDT não tem nenhum constrangimento em apoiar Dilma. E, mesmo fazendo parte do arco de alianças de Lacerda, também não vê problemas em lançar o deputado estadual Sargento Rodrigues para concorrer à sua sucessão. “Não trabalhamos com verticalização adesiva. O que politicamente alguns chamam de pragmatismo ou conflitos, eu chamo de independência regional. Até porque, tirando raras exceções, como o PDT, a maioria dos partidos não é montada com bases ideológicas”, disse o presidente do PDT de Minas Gerais, deputado federal Mário Heringer.

Segundo o dirigente, o PDT é oposição a Pimentel porque já era na campanha e, depois da eleição, não houve qualquer tentativa de conversa.
Heringer acrescenta que há dissidências tanto em relação a Dilma como em relação a Pimentel. Sobre as eleições municipais, o parlamentar afirmou que o PDT pretende ter candidatos próprios no maior número de municípios que puder em Minas e no Brasil. “Até porque o PDT começou a se colocar nacionalmente em uma posição de disputar (a Presidência) com a vinda do Ciro Gomes, e vamos trabalhar já com esse objetivo”, afirmou.

Realidade
O PP, que também terá candidato próprio em BH – o ex-governador Alberto Pinto Coelho –, faz parte da base de apoio ao prefeito Marcio Lacerda, é oposição a Pimentel e aliado de Dilma. A parte de Minas Gerais, porém, foi contrária ao apoio nacional à petista e segue alinhada com o senador Aécio Neves (PSDB). Segundo Pinto Coelho, as alianças diversas são uma realidade nacional. “Em relação ao PP, não há conflito. O PP exerce a democracia e o respeito às realidades regionais. Em Minas, a legenda sempre fez parte do arco de alianças de apoio ao PSDB”, disse. Segundo o dirigente, a orientação para a eleição municipal é de fazer coligação com os partidos aliados no estado.

 

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