Jornal Estado de Minas

PODER

O tamanho de Lula na cela da PF


O helicóptero com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva traçou um círculo no céu antes de pousar no alto do prédio da Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba. Às 22h30 daquele sábado, 7 de abril de 2018, o petista foi escoltado até a cela improvisada no imóvel da corporação, onde está até hoje, 17 meses depois da prisão. Nesse período, o homem que governou o Brasil por dois mandatos (2002 a 2010) influenciou na política brasileira a ponto de levar ao segundo turno das eleições presidenciais um ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, que deixou o comando do município com índices negativos de popularidade. Hoje, porém, apesar da força de Lula, o Planalto avalia que a polarização – a partir da iminência do fundador do PT deixar a carceragem – favorece Jair Bolsonaro.

Antes de tentar explicar o fenômeno da polarização na política brasileira, é necessário mostrar o quanto a força de Lula serve como contraponto a adversários. Nas últimas três décadas, o Partido dos Trabalhadores sempre esteve como protagonista do cenário eleitoral do país. Por mais que legendas como o PSDB, o PMDB, o DEM (ex-PFL), o PDT e o PSB sempre se mostrassem competitivas em relação a candidatos próprios ou simplesmente apoios, o PT pode dizer – e por que não, se orgulhar? – que participou de todos as eleições para ganhar ou ficar em segundo lugar. E o protagonista de todas as disputas foi Lula, mesmo quando, em 1994 e 1998, viu o tucano Fernando Henrique Cardoso vencer no primeiro turno.


Vale lembrar que mesmo quando perdeu, o PT avançou algumas casas nas eleições estaduais, na Câmara dos Deputados e no Senado. O próprio Lula, mesmo derrotado por Fernando Collor (1989) e FHC, conseguiu sair maior dessas eleições, levando a melhor em 2002 contra José Serra e em 2006 contra Geraldo Alckmin.
Mas a lógica não se repetiu nas eleições de 2018, apesar do plano inicial de Lula ter funcionado. Mesmo preso, o ex-presidente adiou a definição do nome de Haddad até o limite da legislação, mesmo com os riscos de não emplacar o nome do pupilo diante dos eleitores. O ex-prefeito cresceu e chegou ao segundo turno. Uma série de circunstâncias, como a facada em Bolsonaro, a má escolha do nome da vice e as fake news amarraram Haddad. Mas o problema para o PT veio depois da campanha.

Polarização


Depois da eleição, o PT não avançou para além das urnas, como conseguiu fazer em outros períodos pós-campanha. Haddad, apesar de ter conquistado 47 milhões de votos, caiu na armadilha das disputas internas e o partido se isolou nos principais movimentos do Congresso, tanto na Câmara dos Deputados como no Senado. Assim, Lula é o principal motor do partido.
E os movimentos “sai-deixa-cadeia” apenas reforçam tal aspecto, amplificado quando por exemplo recebe o título de cidadão honorário de Paris, como ocorreu na semana passada. “É inegável a força política de Lula, mas há um detalhe: ela só reforça a polarização com Bolsonaro”, diz Ivo Coser, coordenador do Grupo de Teoria Política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Com chances próximas a zero de voltar a ter direitos políticos – mesmo que esteja fora da cadeia –, Lula se divide em polos com Bolsonaro sem permitir que outros candidatos de centro-direita ou centro-esquerda, como João Doria, Luciano Huck e Ciro Gomes, quebrem a polarização. “O maior desejo do governo é a polarização com Lula”, avalia Coser. “A tendência é de um maior acirramento do debate político com a saída de Lula da cadeia. E isso não é uma má notícia para Bolsonaro”, diz Antônio Augusto de Queiroz, diretor de Documentação do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap).
 




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